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Loon: o que deu errado na empresa de balões de acesso a internet do Google?

Por| 03 de Março de 2021 às 08h00

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Reprodução / 9TO5Google
Reprodução / 9TO5Google
Tudo sobre Alphabet

No final de janeiro deste ano, a Alphabet - controladora do Google - anunciou o fechamento do Loon, projeto que desenvolvia um sistema de acesso à internet, que era oferecida por meio de balões estacionados na estratosfera. No anúncio do fim das operações do projeto, os responsáveis afirmaram que não encontraram formas de criar um negócio sustentável com base na tecnologia desenvolvida, apesar das parcerias firmadas ao longo dos últimos anos.

"Embora tenhamos encontrado vários parceiros dispostos ao longo do caminho, não encontramos uma maneira de reduzir os custos o suficiente para construir um negócio sustentável de longo prazo. O desenvolvimento de uma nova tecnologia radical é inerentemente arriscado, mas isso não torna mais fácil divulgar essa notícia. Hoje, estou triste em compartilhar que Loon estará perdendo o fôlego.", afirmou Alastair Westgarth, CEO da companhia em sua carta de despedida.

No entanto, houve uma série de derrapadas no projeto, fora o prejuízo milionário do Google, que gastava US$ 100 milhões por ano na construção dos balões gigantes.

E uma matéria do site Business Insider - que conversou com meia dúzias de envolvidos no desenvolvimento, além de analistas - lista o que deu errado em um projeto que até tinha boas intenções. Mas que, no final, rendeu boas dores de cabeça aos responsáveis. E se torna mais um membro do "cemitério de ideias" da Alphabet/Google (o Stadia é o próximo?).

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Empresa solo

Em 2015, o Google havia expandido sua estrutura corporativa para a Alphabet. Ao ter uma holding controlando os negócios do grupo, seria possível investir em projetos mais dispendiosos, sem comprometer o caixa da gigante das buscas, de longe, sua principal fonte financeira.

Com isso, os executivos da Alphabet puderam se dedicar aos projetos que mais os entusiasmavam. E Larry Page escolheu o "Projeto Loon", que vivia na discreta divisão de Moonshots (projetos que buscam solucionar desafios imensos, de formas bem ousadas) da empresa e que era conhecido apenas como X.

A ideia do Loon era espalhar o acesso à Internet por todo o mundo usando uma rede de balões de hélio, que flutuavam a 60 mil pés de altura, em parceria com empresas de telecomunicações, que transmitiriam seus serviços LTE para locais de difícil acesso.

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"Construímos um sistema para lançar de forma rápida e confiável um veículo do tamanho de uma quadra de tênis. E construímos uma cadeia de suprimentos global para uma tecnologia e negócios totalmente novos", afirmou Westgarth. "Também ampliamos nosso equipamento de comunicação de tecnologia que poderia ter sido feita em um dormitório de faculdade (literalmente: roteadores Wi-Fi dentro de isopores iguais aqueles que armazenam cerveja), para um sistema de comunicação capaz de fornecer cobertura de internet móvel em uma área de 11 mil quilômetros quadrados - 200 vezes maior que a de uma torre de celular média"

O Google sabia da ousadia do projeto. Mas também acreditava que ele poderia valer US$ 10 bilhões se desse certo. Além disso, outras empresas compartilhavam de uma visão semelhante. Entre elas, o Facebook com seus drones movidos a energia solar (também já abandonado) e, claro, a SpaceX, de Elon Musk, que segue em frente com seu projeto Starlink, que fornece internet a partir de uma rede de satélites pairando na órbita baixa da Terra.


Em 2018, o Loon foi transformado pela Alphabet em uma empresa solo, com uma própria estrutura corporativa própria. Embora essas empresas tenham o apoio dos bolsos fundos do Google, elas também são pressionadas a se tornar comercialmente viáveis ​​e buscar investimentos externos.

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Na forma de uma empresa, o Loon manteve sua sede dentro no Googleplex, dando-lhe uma linha direta com algumas das mentes mais brilhantes do Google, incluindo os cientistas mais visionários, que estavam à disposição sempre que a equipe se deparou com problemas de engenharia.

Entre esses visionários, estava o próprio "capitão" dos moonshots, Astro Teller. No entanto, fontes ouvidas pelo Business Insider diziam que que seu envolvimento na gestão diária do projeto, com o tempo, não foi muito além de sentar-se à mesa de reuniões.

Os custos do Loon aceleravam. A evolução do projeto nem tanto

Nas primeiras fases, o Loon tentou demonstrar seu potencial inicial por meio de uma série de experimentos curtos. Em 2017, a empresa obteve uma licença da Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês) para colocar os residentes de Porto Rico (estado norte-americano) novamente online depois que a infraestrutura da ilha foi devastada pelo furacão Maria. E em 2019, a Loon lançou balões para o Peru apenas 48 horas depois que o país foi atingido por um forte terremoto. Mas planos maiores - aqueles que realmente gerariam dinheiro para Loon - estavam encontrando dificuldades para decolar. E isso incluía um projeto para trazer cobertura 4G (LTE) completa para o Sri Lanka.

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No início de 2019, a Loon levantou US$ 125 milhões da HAPSMobile, uma subsidiária da SoftBank , que estava trabalhando na transmissão de acesso à Internet em altas altitudes. O apoio da SoftBank deu ao projeto uma boa credibilidade e um parceiro estratégico, mais familizarizado a este tipo de empreitada.

Mesmo assim, a impressão é que o Loon estava injetando dinheiro mais em um projeto de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) - e nos salários dos funcionários - do que em um produto pronto para comecialização. Isso porque a evolução do projeto não andava no mesmo ritmo dos gastos. A tecnologia do Loon melhorou gradualmente, mas, com o tempo, seus balões só podiam flutuar por uma média de 150 dias. Após esse prazo, o filme do balão e o hélio precisavam ser substituídos.


Uma ideia para corrigir isso foi criar balões que subissem mais rápido, além de torná-los mais resistentes. Com isso, o projeto poderia se tornar mais eficiente e mais atrativo aos investidores externos. E para chegar lá, a Loon construiu um novo - e caro - sistema de lançamento na cidade Winnnemucca, no estado norte-americano de Nevada, mais alto e capaz de lançar balões maiores. No entanto, a plataforma nunca foi usada de forma prática.

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Todas essas derrapadas criaram tensões internas entre os líderes do projeto. Alguns acreditavam que a Loon precisava de mais tempo para aperfeiçoar sua tecnologia; outros queriam que a empresa avançasse na geração de novos negócios usando sua tecnologia atual e colocasse mais dinheiro na mesa.

Mas manter a estrutura vigente já estava saindo caro demais. Uma reportagem do site The Informartion, publicada em novembro último, afirmou que a empresa estava gastando cerca de US$ 100 milhões por ano para se manter. Esse número foi confirmado pelas fontes ouvidas pelo Business Insider.

Mudança de foco para sobreviver

Outro ex-funcionário da Loon afirmou ao Business Insider que havia um entendimento interno de que, à medida que o mundo se tornava cada vez mais conectado, a empresa não iria ganhar muito dinheiro apenas em países pobres e sem opções de conexão. Com isso, uma alternativa levantada na empresa era construir uma infraestrutura que permitira vender acordos de licenciamento lucrativos.

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"O resultado final não se tratava de uma balão. O balão deveria nos ajudar a construir uma estrutura de hardware e software na atmosfera", disse a fonte. "A equipe reconheceu que tentar ganhar dinheiro com as pessoas que as empresas de telecomunicações haviam ignorado não era uma boa estratégia".

Com isso em mente, no início de 2019, a Loon anunciou um acordo para licenciar seu software de rede para a constelação de satélites de baixa órbita da empresa canadense de telecomunicações TeleSat. Enquanto isso, seus executivos estavam pensando em outras maneiras de ganhar dinheiro.


Também em 2019, a Loon foi atrás de outras fontes de receita. Ela começou a explorar uma estratégia para fornecer conexão a Internet à navios de cruzeiro. Para isso, entrou em negociações com a Carnival Cruises para uma possível parceria. A Loon pensou que sua tecnologia poderia ser complementar à cobertura de satélite existente, que pode ser muito instável e pouco confiável. Ao mesmo tempo, a companhia também ofereceu seus serviços para plataformas de petróleo offshore, locais de mineração em terra e outras áreas de trabalho remotos, especialmente aqueles que envolviam o uso de equipamentos conectados.

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No entanto, nenhum desses projetos paralelos se concretizou.

Governos também não ajudaram

Além das parcerias que não deram certo, a Loon também enfrentou ferrenhas batalhas regulatórias para oferecer seus serviços de conexão nos países de Terceiro Mundo. Isso inclui nações como o Quênia, onde a empresa demorou dois anos para fazer o projeto decolar; e o Peru, onde as dificuldades em superar a burocracia estatal foram semelhantes.

Até mesmo movimentar seus balões de um espaço aéreo para o outro se mostrou uma dificuldade imensa. Quando tentou obter autorizaçao para voar com seus bações sobre a Venezuela, para atingir outras partes da América do Sul, a Loon foi impedida pelo governo autoritário de Nicolás Maduro, que não permitiu o procedimento.

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Sem contar que muitos dos países que seriam clientes em potencial da Loon ainda estavam receosos de que os balões da empresa pudessem ser usados para fins de espionagem e vigilância. Não foram poucas as vezes que a empresa foi visitada por membros de governos para conhecer suas instalações.

E foi apenas meados de 2020 que a Loon conseguiu sua primeira implantação comercial, oferecendo cobertura de internet 4G LTE a quase 31.000 milhas quadradas do Quênia em parceria com uma empresa de telecomunicações local.

Com tudo isso, o dinheiro obtido dos investimentos do Softbank foi acabando. E a possibilidade de mais aportes também se esvaiu diante do cenário da pandemia da COVID-19 - a falta de resultados sólidos da empresa não ajudou a convencer novos investidores.

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Nesse cenário. o conselho da companhia se reuniu e decidiu: era a hora de fechar as portas.

Mas, no final, o que causou a derrocada da Loon?

O fechamento do Loon foi um golpe doído na Alphabet e no Google. Afinal de contas, esse era um projeto que atraía boa parte da atenlão da imprensa e que, segundo um ex-funcionário, "mantinha o Google sexy".

Além disso, cada funcionário ouvido pelo Business Insider aponta uma causa para a derrocada da Loon. Um culpa as questões geopolíticas, complexas demais, e que foram subestimadas pelos executivos da empresa. Outro aponta as teles locais como o grande obstáculo: elas eram aliadas em um primeiro instante porque os balões expandiam a sua rede. Mas se tornavam adversárias tão logo conseguissem expandir sua infraestrutura nos mercacos-alvo da subsidiária da Alphabet.

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Até mesmo a SpaceX foi vista como uma das causas da queda da Loon, já que seu projeto estava ancorado em uma estrutura - sua rede de satélites - com viabilidade técnica testada e comprovada. Para completar, o acesso a internet cresceu ao longo dos últimos anos, mesmo nos rincões mais distantes. Com isso, a área de atuação da Loom diminuiria ano a ano.


Por fim, a própria Alphabet está se tornando mais cautelosa nos investimentos as moonshots. Em uma entrevista à Fortune no ano passado, pouco depois de ser nomeado CEO da holding, Sundar Pichai deu a entender que haveria mais disciplina nestes aportes. Poucos dias depois, o Google fechou a Makani, outra aposta que estava trabalhando em pipas geradoras de energia.

Mas, no final das das contas, a melhor hipótese para queda da Loon foi levantada por um outro ex-funcionário da empresa ouvido pela pela Business Insider: faltou timing à empresa. Seu projeto talvez fosse ambicioso em demasia. E sua comercialização e vontade de crescer talvez tenham ocorrido cedo demais. E rápido demais.

Fonte: Business Insider / Loon - Medium