IBM PCJr | Como é o servidor que está ativo há 23 anos
Por Felipe Vidal • Editado por Jones Oliveira |
Todos os sites da internet, incluindo este, são hospedados em servidores poderosos que não podem parar de funcionar. No entanto, um computador IBM PCJr lançado na década de 1980 virou o servidor de um simples site da internet. O que tem de interessante nisso? O servidor está no ar há 23 anos e registrou 100 dias de funcionamento ininterrupto nesta semana.
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Para muitas pessoas essa informação pode não significar muita coisa, mas basta pensar o que é possível fazer com um computador tão antigo. Se usar um PC de 2010 já é difícil, imagine uma máquina de quase 40 anos como servidor MS-DOS. Para ter uma noção, é preciso acessar o curioso site Brutman Labs.
Recentemente, o site bateu mais de 2.500 horas de uptime (cerca de 100 dias) sem ser desligado ou reiniciado. Inclusive, o servidor continua funcionando neste exato momento, mantendo uma página histórica no ar.
O site não possui a melhor das aparências, mas não é possível esperar muito quando o assunto é um conjunto de componentes tão velhos. Com poucas imagens, o projeto criado por Michael B. Brutman conta com inúmeras informações e links sobre dados detalhados a respeito de servidores. Para quem gosta do assunto é basicamente uma descoberta da paleontologia dos computadores — já que a máquina lembra um fóssil-vivo.
Além de servidores, o Brutman Labs vai além e fornece inúmeros subtópicos relacionados com toda a história do IBM PCJr. Desde os rumores acerca do lançamento, a recepção do público e o fim de vida do computador, todas essas informações se transformam em uma biblioteca digital sobre um PC diferente.
A história do IBM PCJr
O ano era 1983 e as primeiras especulações sobre o próximo lançamento da IBM já estavam a todo vapor. Com codinome interno de “The Peanut”, o dispositivo foi oficialmente anunciado no dia 1º de novembro do mesmo ano em duas versões: o modelo 4860-004 e o 4860-047, que vinha com um drive de disquete (5" 1/4).
Acompanhando o aparelho, a marca também revelou o PCJr Color Monitor, um monitor colorido de 14 polegadas e taxa de atualização de 60Hz. Um dos diferenciais era o alto-falante integrado e os botões de volume incluídos.
O computador chegou às lojas em março de 1984 como uma tentativa de a IBM rivalizar com o popular Commodore 64 e o famoso Apple II. Na verdade, esse lançamento teria até um competidor interno: o lendário IBM PC, voltado para o mercado corporativo da época.
Um fracasso total
Na teoria tudo estava se movimentando para dar certo. O Commodore tinha especificações mais baixas, mas era barato e se tornou popular. A máquina da Apple era robusta, porém extremamente cara — parece que nada mudou. O caminho estava pavimentado para o PCJr deixar o seu nome na história dos computadores… se não fosse por ele mesmo.
O lançamento foi um fracasso comercial tão forte que é considerado como uma grande piada na indústria. O IBM PCJr chegou custando US$ 699 contra os US$ 595 do Commodore e conseguia ser bem mais lento que o Apple II. Em relação ao IBM PC, as coisas não foram diferentes, e o estreante também não conseguia fazer frente contra seu irmão velho.
A empresa descontinuou o produto em 1985 e obteve números baixos. Estima-se que somente cerca de 250 mil unidades foram vendidas. A imprensa da época reprovou o dispositivo, fazendo com que o New York Times escrevesse que “ninguém estava interessado no lançamento”.
Especificações técnicas
O IBM PCJr foi um fracasso, mas internamente algumas peças se destacavam. O processador era um Intel 8088 com frequência de 4,77 Mhz, somado a opções de memória RAM que variavam entre 64 KB, 128 KB e até 360 KB na versão mais potente, que acompanhava o leitor de disquetes.
Sobre os periféricos, o teclado sem fio chamava a atenção do público, pois funcionava através de ondas infravermelhas — e quatro pilhas AA. O design do IBM PCJr era compacto, já que foi projetado para ser utilizado nos lares e ocupava pouco espaço na mesa.
Atualizações para ficar vivo
Com uma máquina tão antiga, Brutman precisava realizar alguns upgrades para que o computador pudesse funcionar durante tanto tempo como um servidor. Assim, um SSD de 240 GB SATA foi instalado para dar mais armazenamento interno, por meio de um adaptador IDE. A memória RAM também precisou de uma repaginada, mas de forma mais humilde, e foi expandida para 736 KB.
Uma forma de arte
Por ficarem anos e anos disponíveis dentro da internet, os sites podem ser considerados documentos históricos. O Brutman Labs é um tipo de documento singular, não somente por conter tantas informações relevantes de um produto, hábitos de compra e o mercado de uma década dourada, mas também por ser movido por um servidor tão antigo.
O slogan oficial do site, Retrocomputing Performance Art, que significa algo como “Arte do Desempenho de Computadores Antigos” em tradução livre, caiu como uma luva para esse projeto. Embora a intenção de Michael ao fazer isso tudo possa ter sido puramente uma vontade de testar e manter esse experimento inusitado por anos, o simbolismo de preservar uma memória material e imaterial como essas é praticamente um atestado de arte — mesmo que não nos padrões convencionais.
PC ligado há 45 anos
O recorde do IBM PCJr é realmente impressionante, mas outro PC lidera a quantidade de anos em ação. Enviado ao espaço em 1977 com a Voyager 1, o computador que integra a sonda da NASA está ligado há 45 anos e continua mandando informações do espaço para o planeta Terra, de maneira ininterrupta. Sim, em mais de quatro décadas ele sequer foi reiniciado uma única vez.
Com informações: Centre for Computing History e IBM