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Review Psychonauts 2 | Todos nós temos Malígulas em nossas mentes

Por  • Editado por  Bruna Penilhas  | 

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Divulgação/Xbox Game Studios
Divulgação/Xbox Game Studios

Jogar Psychonauts 2 foi uma das melhores experiências que tive nos videogames em 2021. Quero frisar isso logo na primeira frase do texto porque é absurda a criatividade dos cenários, dos personagens, dos textos e da trilha sonora. O jogo vira de ponta-cabeça a cada novo objetivo, e você começa a se questionar “de onde eles tiraram essa ideia maluca?”.

O game é a nova criação da Double Fine, o estúdio criado pelo renomado designer Tim Schafer, o qual também foi responsável por Full Throttle, Grim Fandango e, claro, o primeiro Psychonauts, lançado em 2005. A continuação chega 16 anos depois, nesta quarta-feira (25), para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X, Xbox Series S e PC, e também está disponível no catálogo do Xbox Game Pass.

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A produção foi anunciada em 2015 com um projeto de financiamento coletivo, cuja meta de US$ 3,3 milhões foi batida em pouco mais de um mês. No meio do desenvolvimento, a Double Fine foi comprada pela Microsoft — fato curioso, visto que a empresa seria a distribuidora do primeiro Psychonauts, mas abandonou o projeto pouco antes do lançamento.

Na época, o jogo foi bem recebido pela crítica, mas foi um fracasso de vendas, com cerca de 100 mil cópias comercializadas no seu primeiro ano. Apesar disso, foi relançado para outras plataformas e conquistou gradualmente seu espaço no coração do público. Demorou, mas conseguiu.

Com Psychonauts 2, isso precisa ser diferente: o jogo é bom demais para ser reconhecido apenas daqui a anos. A Microsoft cedeu gentilmente uma cópia do game para PC, e o Canaltech pôde testar o jogo antecipadamente. Confira a nossa opinião neste review.

Um impostor entre nós

A história do game se passa dias depois do primeiro jogo — e apenas momentos após Psychonauts in the Rhombus of Ruin, exclusivo de PlayStation VR lançado em 2017. Felizmente, não é preciso ter jogado nenhum dos dois games para se habituar à história — a sequência até apresenta um vídeo bem divertido resumindo todos os acontecimentos. Assista (em inglês):

Nosso protagonista, o acrobata Razputin Aquato, de apenas 10 anos, finalmente se torna um integrante da organização de superespiões sensitivos Psiconautas… mas como estagiário. Ele precisa estudar um pouco mais com o restante dos colegas antes de se tornar um agente de verdade.

Só que as coisas dão errado pelo caminho: os psiconautas logo descobrem haver um agente duplo infiltrado, cujo objetivo é trazer de volta dos mortos Malígula, uma poderosa assassina psíquica. Como se não bastasse, o líder da organização, Truman Zanotto, não está lá muito bem da cabeça desde que foi sequestrado. Cabe ao jogador descobrir quem é o impostor, e isso não será tarefa fácil.

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A narrativa de Psychonauts 2 é repleta de reviravoltas e revelações, as quais requerem uma atenção especial para que o jogador não fique perdido. Porém, toda a trama se desenrola naturalmente, com Raz passando a maior parte do tempo viajando na mente das pessoas, e ajudando-as a superarem traumas. Quando elas voltam à normalidade, digamos, conseguimos algum item ou informação essencial para progredirmos na jornada.

Com licença, posso entrar na sua mente rapidinho?

Cada pessoa é única, e cada mente também. Por isso, os cenários mudam completamente de forma quando estamos viajando, e às vezes até as mecânicas de gameplay mudam. Nem tudo faz sentido no nosso subconsciente, e o jogo aproveita isso para exagerar, e isso funciona na maioria das vezes.

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A criatividade dessas extrapolações é perceptível logo na primeira hora do jogo, em que estamos na missão de descobrir quem é o chefe do Dr. Loboto, o dentista que sequestrou o líder do grupo em Rhombus of Ruin. Começamos em um escritório normal, e gradualmente o cenário começa a se misturar com gengivas, dentes e aparelhos de dentista — afinal, estamos na cabeça de um. Pelos corredores, encontramos inúmeros quadros com frases intimidadoras, como “boca frouxa vaza informação” ou “só porcos delatam”.

Esse começo dá pistas das bizarrices que encontramos ao longo de Psychonauts 2. Arrisco dizer que não existe um mundo que não seja criativo e surpreendente: todas as mentes têm analogias exageradas e complexas que contam o passado dos personagens e explicam seus pontos fracos, convidando o jogador a praticar o exercício da empatia.

Destaco algumas mentes muito curiosas, como hospital-cassino da professora Holis, em que casais precisam girar uma roleta gigantesca para saber se vão conseguir ter um bebê; o concurso de culinária do Compton, em que participamos de um minigame para ajudar o personagem a ter mais auto confiança; e o psicodélico backstage do "cérebro na jarra", que precisa reunir sua antiga banda espalhada por um acampamento hippie dos anos 1960.

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A criatividade não para apenas no design das fases, mas também na construção dos personagens. Nós conhecemos mais sobre os fundadores dos Psiconautas, a família de Razputin e os colegas do programa de estágio. Os NPCs (personagens não jogáveis) também receberam um carinho especial e, além de diferirem em cada universo (uma hora são uma população de germes, e em outra são figuras históricas em uma biblioteca), alguns interagem com Raz como um personagem secundário, provocando boas risadas e aumentando a imersão naquele contexto.

Se sobrou criatividade na construção desses universos, infelizmente faltou nos chefões. Algumas batalhas pecam pela repetição, e o desafio se torna apenas um empecilho forçado para progredir na história.

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Uma história sobre cuidado, ajuda e empatia

A mensagem que Psychonauts 2 quer transmitir é clara: a necessidade de empatia. Raz é um personagem ingênuo e com bom coração, que ajuda seus companheiros a enfrentarem seus piores pesadelos sem reclamar ou pedir nada em troca. É como se ajudar os outros fosse parte de sua essência, ao passo em que ele também aprende um pouco mais de si mesmo em cada processo.

A questão é que estamos falando de doenças mentais em um jogo, e um texto mal escrito ou uma cena mal dirigida poderiam rapidamente se tornar gatilhos para o público. Entretanto, senti que o jogo abordou o tema com leveza, bom humor e, sobretudo, muito carinho: em várias ocasiões, eu pude me identificar com alguns dos problemas que os personagens estavam passando — ou, pelo menos, tentar me colocar na pele (ou mente) deles.

Essas doenças e pensamentos negativos também são representados pelos próprios inimigos que encontramos no jogo. São eles:

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  • os Censores, os inimigos mais básicos do jogo, que querem calar e eliminar Raz;
  • os Arrependimentos, insetos que carregam pesos e os soltam como bombas;
  • as Dúvidas, gosmas pegajosas que atrasam Raz;
  • as Más Ideias, que jogam lâmpadas explosivas em você;
  • os Fomentadores, líderes de torcida que deixam os outros inimigos invencíveis;
  • os Juízes, inimigos grandes que carregam um martelo gigante e dizem que você não é bom o suficiente;
  • o Mau-humor, uma nuvem gigantesca de negatividade;
  • e os Ataques de Pânico, inimigos super-rápidos e coloridos.

Psychonauts 2 também deixa claro as responsabilidades de entrar na mente das pessoas. É errado fazer o que bem entender na cabeça de alguém sem o devido consentimento; além de ser uma violação da confiança depositada em você, isso pode causar consequências ainda piores. Vale ressaltar que Raz sempre pede permissão ao personagem antes de entrar na cabeça dele.

Também achei incrível como o game nos faz criar empatia até mesmo pelos vilões. Nosso objetivo não é matá-los, mas sim entender que até as piores pessoas continuam sendo… pessoas. E que muitas delas precisam da nossa ajuda. Como o próprio jogo diz, todos nós temos Malígulas dentro das nossas cabeças; apenas precisamos saber como controlá-las.

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Controles ainda são um pouco frustrantes

Psychonauts 2 tem alguns defeitos na jogabilidade que me frustraram um pouco. Como eu havia mencionado anteriormente na nossa prévia, os controles do game nem sempre respondem como esperado, principalmente quando estamos nos balançando em trampolins, pulando em plataformas ou se agarrando em arestas. Morrer por bobagem é constante, mas, felizmente, isso tira poucos pontos de vida e voltamos à superfície mais próxima do local.

Também passei por alguns momentos de raiva no combate, principalmente nos chefões. Primeiro: é comum que, após o jogador morrer, ele volte com alguns segundos de invencibilidade — apenas para ele poder se recuperar antes de cair na porradaria de novo. Isso não acontece em Psychonauts 2: você já volta no meio dos inimigos e apanhando de novo, sem descanso algum.

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Outro detalhe negativo são os pontos de cura. Eles surgem após quebrarmos itens esverdeados no cenário. O problema é que, em batalhas contra chefões, esses itens aparecem nas extremidades da superfície, e quando os quebramos, a cura simplesmente pula para fora da plataforma.

Essas questões, porém, não chegaram a arruinar minha experiência — apenas atrapalharam um pouco. Para aqueles que não gostam tanto de desafios ou querem apenas se concentrar na história, o jogo conta com opções que facilitam o combate, como o Modo Invencibilidade — uma adição bem-vinda, ainda mais em tempos em que jogadores questionam o modo fácil dos games.

Vale a pena?

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Psychonauts 2 é uma ótima pedida para quem gosta de jogos de plataforma desafiadores, bem humorados e, acima de tudo, com boas histórias. Eu levei quase 20 horas para completar a história principal do jogo e algumas missões secundárias, e devo dizer que o game é um dos meus preferidos do ano até o momento.

O game já está disponível para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC, e também foi adicionado ao catálogo do Xbox Game Pass. O título tem legendas em português brasileiro.