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Review Hogwarts Legacy | Uma mistura ambiciosa de altos e baixos

Por| Editado por Jones Oliveira | 27 de Março de 2023 às 15h00

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Divulgação/Warner Bros Games
Divulgação/Warner Bros Games

Após mais de 10 anos sem um novo game, a franquia Harry Potterrecebeu em fevereiro de 2023 Hogwarts Legacy, prequência dos livros e filmes do bruxo que traria aos fãs uma experiência imersiva na escola de magia de Hogwarts e o mundo ao seu redor.

Desenvolvido pela Avalanche Software (não, não é a Avalanche Studios de Just Cause), o título estreou com grandes ambições, sendo um RPG de mundo aberto que tenta agradar o público mais fiel da saga enquanto busca atrair novos admiradores, mas acaba esbarrando em algumas falhas incômodas, além das polêmicas em torno de suas origens.

Caindo de paraquedas no 5º ano de Hogwarts

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O enredo de Hogwarts Legacy é ambientado no ano de 1890, e é protagonizado pelo próprio jogador, que acaba sendo selecionado para estudar em Hogwarts em condições especiais, iniciando os estudos já no 5º e último ano.

É preciso deixar claro que experimentei o game como alguém que teve o mínimo de contato com o universo de Harry Potter, sem saber dos eventos mais importantes. Nessa perspectiva, não há um motivo claro para que o personagem principal pule os 4 anos anteriores — o caso parece ser aplicado por conveniência, para justificar o período de um ano em que a narrativa se desenrola.

Com isso fora do caminho, o protagonista recebe um treinamento especial de Eleazar Fig, um dos professores da lendária escola de magia, responsável por nos colocar no mesmo patamar dos outros alunos do 5º ano. Hogwarts Legacy começa no fim desse período de estudos intensivos, quando no caminho para Hogwarts a dupla encara um desafio que estabelece a missão do jogador e o antagonista — o duende Ranrok.

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Tanto você quanto o vilão estão em busca da Magia Ancestral, uma forma de magia antiga esquecida que teria o poder de mudar o mundo, para o bem ou para o mal. Esse trecho, que envolve ainda locais como o Banco de Gringotes, serve como um extenso tutorial, um indicador da complexidade do game.

Apesar do início intenso e todo o mistério em torno da Magia Ancestral e da capacidade raríssima do protagonista de manipulá-la, a história da obra não surpreende, e segue a fórmula clássica da jornada do herói: o protagonista é o escolhido, que deve impedir o vilão de ter acesso a um poder maior, com altos e baixos pelo caminho. O conjunto não é necessariamente ruim, mas não foge do seguro, mantendo-se no óbvio por todo o desenrolar da trama.

Dito isso, um aspecto que brilha no contar da história é como algumas das missões secundárias são entrelaçadas na narrativa principal. Apesar de não terem impacto real, as tarefas de amizades enriquecem o mundo, ajudam a compreender melhor como os acontecimentos estão afetando o restante do mundo e facilitam com que o jogador se importe com alguns desses personagens.

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Gameplay tem potencial, mas execução é falha

Após o extenso tutorial, o game abre seu mundo para exploração, trazendo um mapa relativamente pequeno perto de outros games de mundo aberto, mas com uma escala bem grande. No centro de tudo está a escola de Hogwarts, e nela é possível perceber o cuidado que os desenvolvedores tiveram ao representar o universo de Harry Potter.

Inspirado nos filmes, o castelo é rico em detalhes e é possível encontrar pequenos elementos que remetem ao quão mágico o local é, com pinturas animadas, estátuas falantes, escadas que reagem à movimentação do jogador e muito mais.

Um pouco menos variada e caprichada, as áreas ao redor de Hogwarts consistem no mapa clássico de um mundo aberto, com algumas áreas que se destacam, como o vilarejo de Hogsmeade e sua estação, a Floresta Proibida e mais algumas ruínas e castelos espalhados pelas diferentes regiões.

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Desde o momento em que as primeiras etapas do enredo são concluídas, o jogador tem liberdade para ir ao lugar que quiser, com esse comportamento sendo inclusive incentivado por uma das tarefas de completar seu Guia de Campo do Mundo Bruxo, utilizado aqui como pano de fundo para concentrar o mapa, missões, itens, enciclopédia de monstros e outros menus.

Para completá-lo, é preciso explorar o mundo e encontrar páginas escondidas usando a magia Revelio, confrontar inimigos e resolver pequenos quebra-cabeças usando seu conjunto de feitiços, que chamam atenção por exigir um pouco de raciocínio — descobrir qual feitiço usar em cada puzzle é recompensador.

Como de costume em games com elementos de RPG, há locais onde há inimigos mais fortes que acabam exigindo fortalecimento das habilidades do protagonista, ou feitiços específicos para acessar áreas bloqueadas. É nesse caminho em que Hogwarts Legacy se baseia: você sobe de nível cumprindo as missões principais e secundárias, aprende novas habilidades com as diferentes tarefas e vai progredindo no enredo e nas histórias do mundo, incluindo as missões de amizade, visivelmente as que mais receberam atenção dos desenvolvedores.

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Se por um lado cumprir essas tarefas é de fato divertido, especialmente para quem é apaixonado pelo mundo de Harry Potter, por outro pode ser um tanto cansativo e arrastado. Algumas das missões principais são bloqueadas por nível — você é impedido de prosseguir com a história mesmo que esteja apenas um nível abaixo do exigido.

Isso é frustrante e acaba quebrando o ritmo da narrativa, e poderia ser resolvido simplesmente ao possibilitar que o jogador arrisque seguir, dando a ele mais agência sobre o gameplay. A situação é agravada por algumas das atividades secundárias que seguem o padrão de jogos de mundo aberto, como levar item X do ponto A ao ponto B, ou resolver quebra-cabeças repetidos que apenas crescem em escala.

O combate é outro elemento misto de Hogwarts Legacy. É extremamente prazeroso ver a chuva de partículas e raios na tela, e mais ainda criar combos com os diferentes feitiços — os comandos são baseados na filosofia de “fácil de aprender, difícil de dominar”, que recompensa quem não possui tanta habilidade ao permitir que realizem movimentos sem grande esforço, ao mesmo tempo em que também recompensa quem pratica esses comandos e aprimora a agilidade para criar longas sequências de combos.

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As magias têm bastante impacto, e conseguem passar uma grande sensação de poder ao jogador. No entanto, como ponto negativo, a vasta quantidade de feitiços disponíveis acaba tornando o combate muito complexo.

Investindo nas árvores de habilidades certas, você terá quatro conjuntos de magias disponíveis a qualquer momento, com 4 feitiços cada, ao pressionar o botão de ataque comum (R2 ou RT) e um dos direcionais digitais (no caso do uso de um controle), o que é bom do ponto de vista de customização, mas é muito fácil se confundir com esses comandos durante as batalhas mais intensas.

Há algumas missões, especialmente nos momentos finais do game, que exigem um nível de atenção e velocidade muito elevados, e a confusão acaba sendo garantida na hora de apertar os botões para trocar entre os conjuntos.

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Há mais alguns aspectos que tornam a experiência ainda mais frustrante: travar a mira limita a sua percepção do campo de batalha nesses momentos mais intensos, mas deixá-la destravada também é um problema. Caso você não esteja com o inimigo que pretende atacar centralizado na câmera, seu feitiço acaba sendo direcionado para outro monstro.

Para completar, mesmo quando você se esquiva para muito longe, alguns dos inimigos sempre te acertam, situação que causa mais revolta nos momentos finais do game, quando qualquer acerto gera uma perda elevada de saúde. O jeito é sempre ter um grande estoque de poções Wiggenweld — os itens de cura do jogo — a postos.

Essa mistura de bom e ruim também é vista no processo de aprender novas habilidades e feitiços. Ao comparecer às aulas, o jogador precisa realizar um minigame para formar o símbolo do feitiço em questão, apertando os botões exibidos na tela e guiando uma seta que representaria a movimentação da varinha. Apesar da semelhança, esse processo não funciona como as aulas de Bully. Não apenas não há qualquer pressão ou impacto de comparecer ou não às aulas, retratadas em pequenas cutscenes, como ainda é preciso realizar tarefas para os professores.

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Essas tarefas funcionam como mais um incentivo para exploração, além de uma maneira de apresentar outros elementos do game, mas são repetitivas e pouco prazerosas de se fazer. Para piorar, alguns desses feitiços são obrigatórios em algumas missões principais e, assim, são mais um bloqueio na progressão da história. Dito tudo isso, com o uso da viagem rápida, e vendendo alguns dos itens obtidos na jornada, é relativamente fácil e rápido concluir essa etapa.

Por falar na viagem rápida, a mecânica é muito bem-vinda por aqui, e brilha graças ao SSD da nova geração de consoles, sendo concluída em questão de segundos. Para ativá-la, é preciso explorar o mundo e encontrar as Chamas de Flu. A movimentação pelo mundo pode ser feita andando, ou com um dos três métodos que serão desbloqueados no decorrer da história. Sem spoilers, é um pouco confuso que essas três opções estejam disponíveis, e todas são um tanto lentas, mas definitivamente garantem maior agilidade que sair por aí caminhando.

Gráficos lindíssimos, mas nem tanto

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A combinação de altos e baixos de Hogwarts Legacy é encontrada ainda nos gráficos do título. O game é muito bem detalhado e trabalhado, com o castelo de Hogwarts e alguns dos cenários e personagens apresentando um nível absurdo de detalhes. O próprio protagonista passa um bom nível de realismo, além de personagens como o professor Fig e a professora Weasley, a vice-diretora de Hogwarts.

No entanto, há outros modelos que deixam a desejar, com animações de rosto pouco expressivas e aquele tradicional “olhar de peixe morto” que RPGs mais antigos costumavam apresentar. Justamente por ser uma característica encontrada em outros títulos do gênero, ainda mais considerando seu tamanho, a falta de expressividade é compreensível e até perdoável, mesmo que afete a primeira impressão positiva que o imenso nível de detalhes do castelo passa.

O que realmente incomoda são aspectos como o sistema de iluminação e a performance instável. Mesmo quando o Ray Tracing está ativado — algo que discutiremos a seguir —, a luz de Hogwarts Legacy é configurada de maneira estranha, sempre mudando quando o jogador troca de ambiente, deixando alguns objetos “flutuando” pelo cenário, iluminando os rostos de forma estranha e apresentando alguns bugs, incluindo alguns vazamentos através de objetos.

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Reflexos (com exceção do modo de Ray Tracing) e a oclusão de ambiente, a técnica usada para gerar as sombras de contato responsável por dar volume aos objetos, funcionam no espaço da câmera e apresentam instabilidades visíveis conforme o jogador se mexe. Nos momentos de ação, não é possível perceber essas “falhas”, mas é um tanto decepcionante vê-las por aqui considerando o tamanho da franquia em questão e o capricho visto nos modelos 3D.

O desempenho do game é mais um ponto controverso — testamos o game no PlayStation 5 e, no geral, a taxa prometida se segura bem. Há microtravamentos causados por um frame time inconsistente (o tempo que um quadro demora a ser exibido na tela), e nas batalhas mais intensas, especialmente próximo ao final do jogo, há quedas bastante perceptíveis na taxa de quadros, diante da tempestade de magias exibidas.

Os modos de alta qualidade gráfica e Ray Tracing são ainda mais complicados: travados a 30 FPS, há quedas para a casa dos 20 FPS, e a fluidez dos modos de desempenho fazem falta. Apesar disso, essa variedade de modos é interessante e bem-vinda na ocasião de realmente termos um PS5 Pro ou Xbox Series X mais potente, além de dar margem para que futuras gerações dos consoles tenham acesso a altas taxas de quadros via retrocompatibilidade sem ser necessário aplicar updates.

Jogadores que possuam monitores ou TVs com VRR (AMD FreeSync ou Nvidia G-Sync) e taxa de atualização de 120 Hz ou mais têm acesso a um modo extra de alta taxa de quadros, que busca rodar o game a 120 FPS, além de uma variável adicional: a possibilidade de desbloquear a taxa de quadros em qualquer um dos modos, inclusive os de alta qualidade gráfica. Na maioria dos cenários, isso não têm um impacto muito positivo, já que torna o desempenho ainda mais inconsistente, mas é outra forma de preparar o game para futuros consoles.

Também conferimos o game no PC e, curiosamente, o cenário é similar ao dos consoles em termos de desempenho, especialmente com Ray Tracing ativado. Apesar disso, como de costume, a qualidade visual pode ir além nos computadores, e há maior flexibilidade para que os usuários encontrem a combinação ideal para a configuração da própria máquina.

Prós

  • Representação detalhada de Hogwarts e o mundo de Harry Potter
  • Inúmeras referências para os fãs
  • Magias e habilidades são caprichadas e dão grande sensação de poder

Contras

  • Performance inconsistente com bugs visuais
  • Ausência de capricho em alguns personagens e modelos
  • Enredo previsível e com ritmo afetado pelo sistema de níveis

Hogwarts Legacy vale a pena?

Hogwarts Legacy é extremamente ambicioso, e é possível ver o capricho dos desenvolvedores em aspectos como a construção do mundo, a riqueza de detalhes no castelo de Hogwarts e locais como a cidade de Hogsmeade, além das diversas referências ao universo de Harry Potter, que devem agradar os fãs mais assíduos. Apesar disso, há problemas significativos que impedem o game de ser a aventura definitiva no mundo dos bruxos, incluindo inconsistências gráficas e de desempenho, e uma história previsível sem grandes reviravoltas.

O título diverte e está longe de ser um fracasso, conseguindo entregar uma experiência sólida que não possui falhas graves a ponto de afastar os jogadores e atende às promessas apresentadas em teasers e trailers divulgados antes do lançamento, mas não é um game imperdível, integrando a extensa lista de jogos de mundo aberto que se baseiam na fórmula de “vá de ponto A ao ponto B”, “procure e entregue este item” e assim por diante.

O que realmente ofusca o brilho do game são as polêmicas de J.K. Rowling, a autora por trás de Harry Potter, cuja postura tem sido de atacar diretamente a comunidade transgênero. Mesmo que não esteja envolvida com a produção, por ser a detentora dos direitos da franquia, a escritora recebe uma boa parcela do lucro.

Também é possível notar temas de segregação no enredo, e uma tentativa um tanto falha de afastar as polêmicas com a presença de uma personagem trans na trama, sendo difícil dizer que se trata de coincidência considerando os posicionamentos de Rowling. Se vale mesmo a pena investir em Hogwarts Legacy, fica a cargo da consciência do leitor decidir.

Hogwarts Legacy está disponível para PC, PlayStation 5, Xbox Series S e Xbox Series X, com versões para PlayStation 4 e Xbox One previstas para serem lançadas em maio de 2023, e para Nintendo Switch em julho de 2023. No Canaltech, o game foi analisado no PlayStation 5 em cópia gentilmente cedida pela WB Games Brasil.