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Review Far Cry 6 | Uma revolução feita de melhores momentos

Por| Editado por Bruna Penilhas | 06 de Outubro de 2021 às 08h00

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Divulgação/Ubisoft
Divulgação/Ubisoft

Observar o passado é o caminho para garantir que as mazelas antigas não voltem a nos assombrar no futuro. No sentido inverso, essa é também uma forma de observar e analisar o que funcionou no passado, para que possa ser repetido com as devidas adaptações, enquanto o antiquado, o criticado e o traumático é deixado para lá. São conceitos básicos da revolução em Yara, o país fictício de Far Cry 6, e formam elementos que permeiam a própria experiência com o game.

Desde o quarto título, que sucedeu o game que trouxe a marca de volta aos holofotes, a Ubisoft já havia se mostrado disposta a aprender com os erros do passado ao criar novos títulos. Este sexto jogo é o que mais faz isso, não apenas em termos de reconhecer aquilo que não funcionou ao longo da história recente da série, mas também de trazer de volta seus melhores momentos do passado para criar um universo coeso, conectado e, acima de tudo, vivo.

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Mais do que aberto, Yara é um mundo vivo e cheio de possibilidades. O caminho para as missões da história, interessantes por si só, sempre envolvem diferentes obstáculos, postos inimigos, combates aleatórios, prisioneiros para se libertar e várias formas de interação que trazem a sensação de que tudo está acontecendo o tempo inteiro. Não há tranquilidade neste universo em ebulição, no qual a força opressora de um governo fascista começa a bater de frente com uma rebeldia que ganha, na forma do próprio jogador, seu maior e definitivo reforço.

Do outro lado está um regime geracional, que mais do que manter o próprio poder, deseja sair ao conflito com potências internacionais usando o Viviro, uma droga derivada do tabaco que é vendida pelo líder como a cura do câncer. É essa a mensagem de Yara para o mundo, enquanto, internamente, a realidade é muito mais suja. Como jogador, além de levar o combate à porta do ditador, também trabalhamos para quebrar o próprio ciclo de violência e isolamento.

A seguir, você confere o que achamos de Far Cry 6, novo jogo da Ubisoft que chega em 7 de outubro para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X, Series S e PC.

O olho que tudo vê

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Estamos falando de uma franquia reconhecida por seus personagens característicos e Far Cry 6 não poderia ser diferente. Antón Castillo marca sua presença logo no início do game, tanto pela postura imponente do ator Giancarlo Esposito (Breaking Bad) quanto por suas ações, em um contraste entre a fala positiva sobre o futuro de Yara e seu primeiro momento de encontro direto, quando ele metralha uma embarcação cheia de refugiados para que eles morram, não baleados, mas afogados no veículo da própria fuga.

É uma presença definitivamente marcante e que gera antecipação a cada nova aparição. Mais do que isso, Castillo parece estar em absolutamente todos os lugares, gerando uma inquietação constante para os jogadores que efetivamente mergulharem no mundinho de Far Cry 6 (algo nada difícil de acontecer, diga-se de passagem). Estamos sempre ouvindo sua voz em pronunciamentos, vendo sua figura na televisão de instalações inimigas, outdoors ou pichações, e entendendo como sua influência se estende até os cantos mais remotos de Yara.

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Da mesma forma, sua mão de ferro também toca a todos e, na mesma medida, serve de motor para a revolução e figura atemorizante. Entre uma ministra da propaganda que trabalha para garantir essa imagem sempre perene ou um general que é o vetor dos atos violentos, mas apenas para que Castillo não suje suas mãos de sangue, está um dos elencos mais poderosos já vistos na franquia, com Castillo sendo apenas a ponta de uma pirâmide que domina, ataca e pressiona a todos; o mesmo também vale para a revolução, que conta com rappers, mercenários veteranos e velhos ícones de revoluções antigas, que ao contrário do protagonista, já entenderam que a luta não é temporária, mas sim, dura por toda a vida.

Dani Rojas também ganha espaço e foge, de uma vez por todas, da convenção do protagonista mudo de um jogo de tiro em primeira pessoa. Após a escolha de gênero que define sua aparência, incorporamos um personagem que possui sua própria história, descobrindo dentro de si o espírito da revolução. Entra em jogo um sistema de customização que faz parte da experiência como um todo, pontuado por raras e até um pouco esquisitas aparições em primeira pessoa, durante a exploração de assentamentos dos rebeldes, para que possamos ver as roupas, armaduras e equipamentos em uso.

As vestimentas também servem como um posicionamento contra um regime e, se existe um game que a Ubisoft pode falar que não é político, definitivamente não é esse. Far Cry 6 não tem mensagens ou críticas claras a um regime ou outro, mas também não recorre muito às entrelinhas na hora de falar sobre fascismo, violência e o levante dos desprivilegiados. Não é um manifesto revolucionário, claro, mas não é um título chapa branca que deixa de lado oportunidades como em seu passado não tão distante.

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Eleições, párias e discursos livres são verbetes fáceis na boca dos rebeldes. Seja para evitar posicionamentos descarados ou como forma de mostrar como uma luta desse tipo ocorre, também temos poucas palavras de efeito, ainda que as pichações por todo lugar deixem claro a guerra contra a ditadura. A noção que fica é que a luta acontece todo dia, o tempo inteiro e é feita de pequenos atos que levam a momentos épicos, que mudam as coisas. E esse, sim, é um discurso totalmente político.

Universo em progressão

Far Cry 6 não traz tanto Castillo quanto gostaríamos, mas não é como se, mais uma vez, a Ubisoft tivesse criado um personagem absoluto apenas para servir de capa para o game. Muito pelo contrário, a empresa dividiu para conquistar, criando um mundo que soa coeso assim como seus protagonistas, enquanto faz sentido até mesmo de uma arma lançadora de discos de Macarena ou de um ataque venenoso que faz com que oponentes se virem uns contra os outros.

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Todos são elementos perenes ao mundo, já que, além do próprio protagonista, os inimigos também possuem acesso a tais armas — em versões até melhores, na realidade, já que a tecnologia de gambiarras aperfeiçoada pela resistência é, na realidade, criada a partir dos armamentos do exército de Castillo. Abrem-se, aqui, as portas de um título que não tem medo de brincar com as próprias convenções e que usa isso como forma de criar a própria personalidade.

O mesmo também vale para o cenário em si, com um mapa gigante, como se tornou tradição nos jogos mais recentes, e que vai sendo desbloqueado de acordo com o progresso. Temos ainda a maior variação da história da franquia, com áreas de mata, pântanos, regiões rurais e locais paradisíacos, enquanto a capital representa o desafio final e, também, o cenário mais cosmopolita de Yara, servindo como o símbolo do poder de Castillo.

Nessa variação, Far Cry 6 arruma tempo para posicionar o país em seu próprio universo e fazer referências ao passado. Uma das primeiras missões remete a um dos momentos mais icônicos do terceiro jogo, quando queimamos uma fazenda de Viviro, enquanto um culto misterioso e recém-desaparecido gerou um fluxo maior de armamentos a Yara, fazendo a alegria do ditador. Quem acompanha a série se sente mais parte desse mundo, enquanto os que chegaram agora terão acesso ao melhor que a saga tem para oferecer.

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É como um ciclo, que entrega sentido ao transporte de um cachorro dos EUA até Yara ou de vilões que, em vez de matar desafetos, preferem pendurá-los para os jacarés ou, em um destino pior do que a morte, os coloca nas fazendas de Viviro para um trabalho forçado que só termina com a morte por intoxicação. São elementos que mexem com o jogador, que está sempre indo de uma missão inusitada em um parque de dinossauros de cimento para uma visão de pura atrocidade, sempre querendo ir adiante, seja para acabar com a violência ou para saber o que mais pode encontrar a seguir.

Influências extrafronteiras

Esse movimento também se reflete na jogabilidade em si, que traz ainda mais traços de RPG do que seus antecessores. Logo de início, o jogador perceberá que todo inimigo possui barras de vida visíveis — que, felizmente, podem ser desligadas — assim como, ao longo da aventura, notará regiões com maior ou menor grau de ameaça. O indicador numérico é claro: ali, o chumbo é mais grosso e os inimigos estarão melhor preparados.

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Ao longo da aventura, reforços de soldados são enviados às diferentes regiões de Yara, na medida em que Dani e seus companheiros desferem golpes certeiros ao regime de Castillo. Chama a atenção o equilíbrio no sistema de progressão de Far Cry 6, com o jogador tendo acesso rápido a boas metralhadoras e uma grande variedade de armamentos; ainda assim, se verá lidando com as circunstâncias enquanto não possui os itens necessários para melhorar um rifle a seu gosto ou nos momentos em que se vê obrigado a enfrentar uma aeronave sem possuir os explosivos que cuidariam dela rapidamente.

É como se o título desse com uma mão e tomasse com a outra. O Supremo, aparelho nas costas de Dani que serve como uma espécie de ataque especial, é devastador, mas não pode ser mirado e depende de carregamento, devendo ser utilizado de maneira esporádica. As armas de gambiarra são devastadoras, sim, mas têm manuseio difícil, enquanto o silenciador feito de garrafas privilegia os jogadores mais precisos — quem precisar atirar mais de uma vez estará em maus lençóis já que o plástico não foi feito para isso.

O equilíbrio, entretanto, depende da abordagem do jogador, que pode perceber as oportunidades de arrebanhar muitos recursos de uma só vez caso siga um caminho determinado pela campanha. Far Cry 6 é, essencialmente, um jogo de ação, e ainda que os elementos de RPG apareçam de forma mais consistente, eles também surgem abertos à manipulação. Quem souber o que fazer, seja pela experiência com a franquia ou o gênero, pode se ver com um personagem bem poderoso muito rapidamente, algo que não prejudicará a experiência, mas que com toda certeza, fará com que a luta pela revolução seja mais fácil do que os desenvolvedores imaginaram.

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São muitos recursos, itens e peças envolvidas na criação de acessórios e melhorias, com a recomendação de que o jogador gaste um tempo analisando os menus e entendendo a maneira preferida de jogar Far Cry 6. O game vai oferecer armas diferentes e equipamentos novos, mas cabe a cada um moldar a própria experiência; isso também vale para todo o universo que, como já dito, é rico e cheio de elementos pipocando o tempo todo enquanto você segue para uma missão específica.

O cuidado com os detalhes é tamanho que chega a ser uma decepção ver os modelos de alguns dos personagens. Mesmo nos consoles de nova geração, para os quais Far Cry 6 é otimizado, algumas movimentações faciais e corporais ficam aquém do que foi visto até mesmo no game anterior; esse problema chama a atenção, principalmente, em alguns momentos de Castillo e seu filho, Diego, que passam a impressão de estarem rodando em uma “qualidade” menor que seus aliados e elementos do cenário.

Há de se notar, ainda, algumas quedas na taxa de quadros por segundo, possivelmente oriundas de carregamentos de cenário durante a reprodução de cutscenes, e bugs de progresso ou carregamento, com loadings mais demorados do que deveriam ser. Na geração anterior, há baixa perceptível na qualidade das texturas e novos problemas de performance, principalmente nos momentos de maior movimentação.

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Far Cry 6 traz uma mistura de elementos que o torna o mais rico e expansivo de toda a franquia. Em uma transição de gerações, e para um grande blockbuster, essa seria quase uma obrigação, mas não para por aí. Temos também o game mais cheio de personalidade de toda a saga e que, ainda que corrija erros do passado e cometa alguns novos, entrega sua melhor e mais abrangente experiência. Um jogo que mantém seu caráter de entretenimento, mas que, com isso, também carrega mensagens e elementos interessantes o bastante para se tornarem memoráveis.

No Canaltech, Far Cry 6 foi analisado no Xbox Series X, em cópia digital gentilmente cedida pela Ubisoft.