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Review Elden Ring | Um novo passo em direção ao incrível

Por  • Editado por  Bruna Penilhas  |  • 

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Divulgação/Bandai Namco
Divulgação/Bandai Namco

“Bravo Maculado, mergulhe no aprendizado e na lembrança. Relembre as artes da guerra e de seu sangue de guerreiro”. A fala do primeiro NPC (personagem não jogável) que você encontra em Elden Ring é a síntese perfeita do que é o novo jogo da FromSoftware: essa mistura de novidade e constante descoberta com um gosto bastante familiar de que você já viu e viveu aquilo antes.

E realmente não há como negar o DNA de Dark Souls que o lançamento publicado pela Bandai Namco carrega — tanto que muita gente olha para ele quase como uma quarta iteração da franquia. Contudo, ao mesmo tempo, Elden Ring traz também uma abordagem completamente diferente que faz dele algo único, tudo graças à adição desse mundo aberto que mexe substancialmente com a essência desse tipo de jogo.

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Por isso mesmo, talvez a melhor maneira de visualizar o game seja não como uma evolução da fórmula, mas uma expansão. Ele se aproveita de tudo aquilo que é central em um Soulsborne e mostra como funciona a partir de uma outra lógica de gameplay. Não é melhor e nem pior, apenas diferente — mas ainda incrivelmente familiar.

Não por acaso, Elden Ring é mesmo o projeto mais ambicioso da FromSoftware em todos os aspectos. Ao virar essa chave, o estúdio testa seu estilo de jogabilidade e de narrativa em algo muito maior — e que funciona muito melhor do que poderíamos esperar. O jogo chega em 25 de fevereiro para PlayStation 4, Xbox One, PlayStation 5, Xbox Series S, Xbox Series X e PC (via Steam). O Canaltech recebeu uma cópia digital antecipada para PlayStation 5, gentilmente enviada pela Bandai Namco, e conta o que achou da experiência a seguir.

Mexendo na base

Ao trazer o mundo aberto para a fórmula clássica de um Soulsborne, Elden Ring mexe em toda a estrutura que os fãs da From conheciam até então. O estúdio sempre soube usar muito bem a linearidade a seu favor para compor um tipo de narrativa muito contextual, ou seja, em que a história era um enorme quebra-cabeça no qual o jogador coletava as peças à medida em que avançava pelo cenário, encarava os inimigos e observava alguns itens.

Nesse sentido, a dificuldade sempre tão comentada dos games do diretor Hidetaka Miyazaki serviam justamente como uma forma de frear o jogador e fazê-lo ir e voltar pelo mesmo ponto até absorver todas as informações que aquele trecho tinha a oferecer.

Com Elden Ring, isso muda por completo. A partir do momento que seu Maculado chega às Terras Intermédias, liberdade e exploração passam a ser os pontos centrais da experiência. E ainda que o nível de desafio e a forma com que toda essa história é contada ainda estejam presentes do jeito que os fãs do gênero esperam, a maneira com que você se relaciona com tudo à sua volta é diferente.

Afinal, agora não há mais a certeza de que você vai passar por um ponto específico do cenário, de que vai encontrar determinado NPC ou um item importante para entender a história que está sendo contada. Com exceção de pontos-chave para a trama — como os confrontos contra os Lordes Prístinos, em que o level design realmente conduz o jogador para essas áreas —, todo o resto varia de acordo com o modo que você quer jogar.

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Esse é o grande diferencial de Elden Ring, já que a exploração passa a ser o ponto central de toda a experiência. Em cada canto do vasto mapa das Terras Intermédias há algo para se descobrir, seja uma dungeon escondida, novos inimigos e aliados ou até mesmo um dragão gigantesco descendo dos céus e deixando um rastro de destruição.

É nesse sentido que o game se torna muito mais ágil do que qualquer outro Dark Souls. Não apenas no combate e na movimentação pelo mundo, mas no próprio clima como um todo. Não há mais aquela sensação claustrofóbica constante de que você pode morrer a qualquer momento, mas uma sensação de que você está sendo convidado a vasculhar cada canto e a encontrar todos os segredos escondidos — e o jogo sabe aproveitar muito bem tudo isso.

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Tanto que não é exagero dizer que Elden Ring é um daqueles jogos em que as pessoas vão seguir descobrindo segredos por meses. Afinal, basta você desviar da sua rota um pouco para o lado para se deparar com novos elementos que, à primeira vista, podem passar despercebidos. Até porque a ordem com que você interage com alguns NPCs, por exemplo, altera a dinâmica das reações e isso mexe bastante com a experiência, assim como o ciclo de dia e noite.

Nesse sentido, a dinâmica do mundo aberto se aproxima realmente muito mais de um The Legend of Zelda: Breath of the Wild do que com jogos mais tradicionais do gênero, como um Assassin’s Creed, por exemplo. Tudo está à sua disposição logo de início e vai do seu interesse (e habilidade) lidar com isso. Não é nada revolucionário, mas que ajuda a tornar Elden Ring muito mais rico.

Ao mesmo tempo, essa sensação de descoberta constante não se limita apenas às interações, mas também ao próprio gameplay. Mesmo com dezenas de horas nas Terras Intermédias, é possível se surpreender com algo novo que pode mexer com as mecânicas e mudar a forma de jogar.

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Mais acessível, mas sem perder a essência

A adição de uma montaria ajuda a tornar a experiência mais ágil, assim como pequenas mudanças na mecânica que fazem de Elden Ring um jogo muito mais acessível do que qualquer outro Soulsborne da FromSoftware.

Isso não faz dele um game fácil, como muitos fãs mais conservadores podem temer, mas é algo que tira um pouco daquele peso opressor que os demais títulos oferecem. Desde ter um personagem que pode finalmente pular, até uma sensível diminuição do consumo de vigor dentro e fora dos combates: são mudanças que deixam a experiência menos punitiva para quem está chegando agora.

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Dito isso, a existência de uma montaria ajuda bastante. Montar em Torrente é um convite para conhecer cada canto das Terras Intermédias, da mesma forma que ele se mostra um grande auxílio em combate. Entrar e fugir de confrontos no lombo de seu pangaré torna tudo mais ágil e facilita em alguns aspectos — embora isso resulte quase sempre em um excesso de confiança que pode ser mortal.

Essa acessibilidade também passa pela dificuldade, mas sem entrar no debate sobre um Modo Fácil. Afinal, como um mundo aberto, é muito mais tranquilo treinar e se acostumar com a dinâmica antes de avançar para uma nova área, o que ajuda a equilibrar a situação. Você ainda vai morrer muitas vezes, mas fica mais claro que a maior parte dos fracassos foi por algum deslize seu e não apenas porque o game é meramente difícil.

Da mesma forma, Elden Ring traz algumas novidades para as batalhas que ajudam nessa acessibilidade, ao mesmo tempo em que adicionam camadas para os veteranos. É o caso das Cinzas de Guerra, habilidades específicas que podem ser equipadas em suas armas e que mexem substancialmente no modo como seu personagem ataca.

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Trata-se de uma espécie de evolução da dinâmica de equipamento de Bloodborne, com a diferença de que elas são cambiáveis e você pode alterá-las a qualquer momento em um Local de Graça, como são chamadas as bonfires por aqui. Isso pode fazer com que um Guerreiro, por exemplo, possa ter uma habilidade mágica à disposição para atacar à distância ou mesmo um tipo de ataque elemental.

Isso é interessante porque é um auxílio muito útil para o jogador e que ajuda muito quem está começando, mas se torna um elemento fundamental na construção de diferentes builds de personagens para quem já está habituado a toda a matemática do metagame de um Soulsborne — principalmente para quem gosta de passar um bom tempo invadindo outros mundos.

Ainda familiar

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Só que, como dito, Elden Ring não é apenas inovação, mas também tradição. Mesmo com esse caminhão de novas dinâmicas, ele não nega o seu DNA de Dark Souls — o que vai muito além da semelhança visual e do reaproveitamento de objetos. Apesar de toda a liberdade oferecida e das consequências que isso traz à mecânica, a essência ainda é a mesma.

Pode se preparar para encontrar inimigos grandiosos, chefes que vão levá-lo ao limite e aquela constante sensação de progresso ao entender o padrão de combate de um adversário novo. Aliás, a nova escala que o mundo aberto oferece eleva também alguns desses componentes, pois agora há espaço para encarar monstros gigantescos e descobrir a forma de derrotá-los é realmente recompensador — o que, em certa medida, lembra bastante Shadow of the Colossus.

Ao mesmo tempo, Elden Ring não vira as costas para muitos dos elementos que eram icônicos em Dark Souls, como o level design. Ainda que o grande mapa das Terras Intermédias seja destaque, há vários ambientes mais fechados que remetem à jogabilidade que marcou a FromSoftware. São castelos repletos de espectros e com pouco espaço para esquivar, batalhas contra chefes em pontes em que qualquer deslize é morte certa e cavernas escuras, cheias de oponentes escondidos e armadilhas.

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E, sim, os pântanos estão de volta para acabar com o sono de muita gente. Embora todas as imagens promocionais tenham se dedicado a mostrar a área mais verdejante de Limgrave, há diferentes tipos de ambientes que só mostram o quanto esse mundo é rico e variado — do jeito que a From sempre faz muito bem.

Em geral, o level design desses locais segue muito bom, incluindo ao trazer a tão elogiada narrativa contextual do estúdio. Explorar o Castelo de Tempesvéu não é apenas sobre avançar enquanto derrota soldados, mas também sobre descobrir os enxertados e a infâmia que corrompeu o lugar, da mesma forma que a influência do Anel Prístino afetou o lugar e seus habitantes.

Por outro lado, existem algumas simplificações que podem incomodar os fãs mais tradicionalistas. As dungeons opcionais — aquelas que você encontra pelo mundo aberto — não são lá muito criativas e quase sempre se resumem a um corredor escuro com alguma câmara no final em que há um chefe ou um tesouro escondido.

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Ainda assim, vasculhar todos esses cantos é uma ótima forma de mergulhar no lore do game. Como dito, Elden Ring é o projeto mais ambicioso da FromSoftware também na construção da história de seu mundo e isso é perceptível logo de início à medida que a cutscene inicial apresenta a base da narrativa.

A influência de George R. R. Martin (Game of Thrones) no clima bélico e cheio de facções que permeia as Terras Intermédias é notável, mas isso é muito bem contado no estilo fragmentado de Miyazaki. Ainda é preciso vasculhar itens, ler descrições e ficar muito atento ao que acontece à sua volta para montar esse quebra-cabeças — o que inclui ver exércitos no meio de uma batalha ou grupos de refugiados vagando pelos campos —, o que pode fazer com que a abordagem possa confundir quem está chegando agora.

Por ser um jogo de mundo aberto, Elden Ring torna isso também um pouco mais acessível, trazendo muito mais NPCs e elementos que ajudam a contar essa história do que em títulos anteriores. O jogo ainda exige muita exploração e dedicação, mas não é mais aquela coisa tão abstrata e quase subjetiva de antes.

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Que jogo lindo

Não há como deixar de falar de Elden Ring sem citar o quão bonito ele é. Passear pelas Terras Intermédias é realmente algo que enche os olhos e que nos leva de volta ao ponto da recompensa de explorar e descobrir coisas novas. A gigantesca Térvore pinta boa parte do cenário de dourado e contrasta com muitos dos ambientes sombrios que encontramos na jornada como Maculado, da mesma forma que compõe paisagens incríveis ao anoitecer.

Como dito, o jogo usa muito bem essa vastidão como um convite para a exploração. A riqueza de detalhes e a pluralidade de cenários apenas reforça isso. É muito gostoso avançar por uma nova área e observar o quanto esse mundo é vivo, como os próprios inimigos interagem entre si e, em alguns casos, contam parte da história nessas ações. São raros os momentos em que não há nada para ver em seu passeio nessa terra que não tem nada de desolada.

Vale a pena jogar Elden Ring?

No fim das contas, Elden Ring é tudo aquilo que o hype prometia — e até um pouco mais. Ele entrega tudo aquilo que os fãs da FromSoftware esperavam, eleva muitos elementos a novos patamares e não tem medo de se arriscar em testar seus próprios limites — e sem dar as costas para quem está chegando ao estilo agora.

As comparações com Dark Souls são inevitáveis, mas isso não é nem de perto um problema. Como dito, ele nada mais é do que uma expansão de uma fórmula que já vinha dando muito certo e que só acrescenta, mas sem invalidar o que veio antes.

No fim das contas, Elden Ring é o mesmo Dark Souls que a gente conhece, mas com várias novidades que mudam tudo dentro de sua dinâmica e estrutura — e também um jogo completamente novo, mas muito familiar. E é nessa (positiva) ambiguidade que ele se destaca, pois tem muito a oferecer tanto para quem já é fã do trabalho do estúdio quanto para quem está encarando a morte pela primeira vez.

Enquanto a trama aborda o eterno ciclo de corrupção e decadência do mundo, temos um game que vai na direção oposta, trazendo um novo respiro para um gênero que a From praticamente criou. Como jogo, Elden Ring também busca explorar novos caminhos e descobrir o que mais pode ser feito dentro do estilo. É sobre inovar a partir dessa mistura de aprendizado e lembrança.