Funcionários da Ubisoft criticam resposta da empresa a assédio: "estamos fartos"
Por Felipe Goldenboy | Editado por Jones Oliveira | 29 de Julho de 2021 às 12h50
Após a ActivisionBlizzard ser processada por denúncias de assédio sexual, quase 500 funcionários da Ubisoft assinaram uma carta aberta em apoio às vítimas. O grupo também criticou as ações da própria Ubisoft, que, em 2020, passou por uma leva de denúncias internas de abuso e discriminação.
- Ex-funcionários da Activision Blizzard dizem que homens também sofriam assédio
- CEO da Riot Games é acusado de assédio sexual e discriminação de gênero
- Centro de reparos de produtos da Apple é denunciado por condições precárias
A carta foi divulgada pelo jornalista Stephen Totilo, do site Axios. O texto é dividido em duas partes: uma para os empregados da Activision Blizzard; outra, para a liderança da Ubisoft.
A primeira mostra solidariedade aos trabalhadores da Activision Blizzard: "nós acreditamos em vocês, estamos com vocês e apoiamos vocês". O grupo também alerta que, por conta da alta frequência de denúncias de assédio moral e sexual, "existe uma cultura amplamente difundida e profundamente enraizada de comportamentos abusivos na indústria".
“Não deveria mais ser surpresa para ninguém: funcionários, executivos jornalistas ou fãs, que esses atos hediondos estão acontecendo. É hora de parar de se chocar. Devemos exigir que sejam tomadas medidas reais para evitar isso. Os responsáveis devem ser punidos pelas suas ações”.
Já a segunda parte exige respostas mais ágeis e concretas da empresa às acusações de assédio reveladas em 2020. Na época, foi revelado que o jogo Assassin’s Creed Odysseyteria Kassandra como a única personagem jogável, mas o diretor criativo Serge Hascoët vetou a ideia sob o pretexto de que “mulher não vende”. Esse foi o estopim para que várias outras denúncias surgissem, as quais envolvem o CEO, Yves Guillemot, a liderança da empresa e até mesmo o RH.
Desde então, a Ubisoft desligou vários funcionários — incluindo os vice-presidentes Tommy François e Maxime Beland — e criou um portal online para que os funcionários registrem queixas anônimas. No entanto, isso parece não ter sido o suficiente: “nós, os abaixo-assinados, estamos fartos”, diz a carta. Eles ainda pedem que abusadores já conhecidos da empresa sejam demitidos:
“Já se passou mais de um ano desde as primeiras revelações de discriminação, assédio e bullying sistêmicos dentro da Ubisoft. Na época, vocês ficaram surpresos ao saber desses ocorridos na empresa, e nós demos o benefício da dúvida. Entretanto, nós não vimos nada além de um ano de palavras gentis, promessas vazias e uma incapacidade ou indisposição para remover criminosos conhecidos. Não confiamos mais no compromisso de vocês de resolver esses problemas em suas essências. Vocês precisam fazer mais."
Por fim, a equipe exige que sejam feitas “mudanças reais e fundamentais na Ubisoft, na Activision Blizzard e em toda a indústria” e pede a outras empresas de games um “conjunto de regras e processos para lidar com esse tipo de denúncia”.
O que diz a Ubisoft
A empresa divulgou um comunicado aos funcionários, afirmando que tem promovido mudanças desde o ano passado e que “ainda há muito trabalho a ser feito”. O texto continua: “muitas dessas mudanças foram impulsionadas por feedbacks internos e percepções compartilhadas por nossas equipes, e nós somos gratos por termos essa comunicação contínua”.
“Apoiamos totalmente esses esforços e o impacto positivo que eles tiveram na cultura da nossa empresa, ao mesmo tempo em que reconhecemos ser preciso continuar a nos envolver com os funcionários para garantir que estejamos criando um local de trabalho onde eles se sintam valorizados, apoiados e, o mais importante, seguros.”
Fonte: Stephen Totilo (Twitter), VG247