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A história do Tetris, o jogo mais popular do mundo

Por| Editado por Jones Oliveira | 28 de Março de 2023 às 17h05

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Nintendo
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Não há quem não conheça Tetris. O jogo é um dos mais famosos do mundo e povoa o imaginário não só dos gamers, mas de todo o mundo da tecnologia e da própria cultura pop há quase 40 anos — e tudo isso com uma proposta bastante simples. O que poderia ser mais básico do que organizar blocos?

Mas apesar de ser um dos games mais importantes e conhecidos da História, nem todo mundo conhece os detalhes sobre a criação desse ícone. Com exceção de ser um jogo russo, poucas pessoas sabem os detalhes ou curiosidades em torno de um dos títulos mais importantes da indústria. Do surgimento quase clandestino ao fato de ele ter sido contrabandeado para fora da União Soviética e o reconhecimento tardio de seu criador, não faltam capítulos nessa trajetória tão conturbada.

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É uma trama tão rocambolesca que parece coisa de cinema. Não por acaso, Hollywood fez questão de levar a história por trás de Tetris para mostrar tudo isso. Para um jogo sem personagens ou enredo, seu entorno é bastante conturbado.

Quem criou o jogo Tetris?

Todo o conceito de Tetris foi criado por uma única pessoa: o russo Alexey Pajitnov. No início dos anos 1980, ainda durante o período da Guerra Fria, ele passou a trabalhar na Academia Soviética de Ciências como pesquisador e engenheiro de software para desenvolver novas tecnologias para o regime, como a de reconhecimento de fala.

Só que Pajitnov decidiu usar os recursos à sua disposição para criar algo diferente. Em entrevistas posteriores, ele disse que queria criar um game por considerar os jogos uma forma muito mais eficiente de conhecer as pessoas e seu comportamento, principalmente em termos de nuances e detalhes. E foi assim que ele colocou a mão na massa.

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Foi assim que, em 1984, o Tetris nasceu em sua primeira versão, que era bastante rudimentar. Programado em um Electronika 60, um computador soviético da época, ele apresentava as peças com caracteres de texto, já que o sistema não tinha mapeamento de bits para criar as imagens. E, mesmo assim, o jogo foi um sucesso.

A ideia por trás de tudo era bem simples e adaptava a mecânica do pentaminó — um quebra-cabeça de encaixe de peças —, mas simplificando ao fazer com que essas peças fossem compostas por quatro ao invés de cinco blocos. Tanto que é daí que vem o nome: Tetris nada mais é do que uma mistura de tetra (quatro, em grego) com tênis, que era o esporte favorito de Pajitnov.

Sucesso imediato

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O fato de ser um jogo bem básico fez com que Tetris se popularizasse muito rapidamente mesmo em um mundo sem internet como conhecemos hoje. Quando foi criado, ele não tinha um sistema de pontuação ou níveis, como foi adicionado mais tarde, mas já era capaz de engajar os jogadores e prender o pessoal naquelas telas por horas.

Em pouquíssimo tempo, todos os computadores da Academia Soviética de Ciências já estavam rodando o game e não demorou muito para que o mesmo se repetisse em outros pontos de Moscou. A coisa chegou a um nível que alguns órgãos do governo baniram o jogo por causa da perda de produtividade dos trabalhadores. No fim todo mundo estava jogando Tetris, mesmo que ele nunca tivesse sido lançado de verdade, sendo distribuído apenas no boca a boca.

Essa popularidade ganhou força pouco tempo depois quando Pajitnov encontrou alguém para aperfeiçoar seu trabalho. Com apenas 16 anos de idade, Vadim Gerasimov reprogramou o jogo em um computador IBM e deu nova roupagem. Assim, as peças que eram textos ganharam forma de verdade e cores. Além disso, o game ganhou um sistema de pontuação e o vício apenas cresceu.

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Sucesso global, mas sem dinheiro algum

Como dito, a história de Tetris é rocambolesca de uma forma que parece coisa de cinema e não apenas por ter sido programado de forma quase rupestre nos computadores da época. Na verdade, o que torna os bastidores do game tão curiosa é mesmo a novela que virou seu lançamento internacional.

O sucesso local do jogo empolgou Pajitnov, que sonhava em ver sua criação sendo experimentada por pessoas do mundo todo. O problema é que a gente está falando de Guerra Fria e de uma União Soviética muito fechada com o mundo ocidental. E isso implicava também nas leis de direitos autorais, que impedia que pesquisadores vendessem seus projetos para o exterior, além de manter um monopólio sobre a exportação.

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Além disso, a própria Academia Soviética de Ciências não estava muito engajada em divulgar o jogo, por acreditar que ele não acrescentava em nada aos seus propósitos. Assim, a solução era dar um jeito de contrabandear Tetris para fora da Cortina de Ferro.

Em 1986, a partir de um amigo de Pajitnov, o jogo passou a circular por alguns países do Leste Europeu em busca de alguém disposto a distribuí-lo internacionalmente. Foi quando caiu na mão de Robert Stein, um empresário inglês que viu o potencial do game e tentou adquirir os direitos.

Aqui começa uma enorme novela que, simplificada, resultou no programador russo dando a autorização para Stein a partir de um simples fax e do britânico negociando esses direitos com meio mundo até de forma duvidosa.

O resultado disso é que, de um lado, Tetris se tornou um fenômeno global lançado nos Estados Unidos e Europa para sistemas Amiga, Atari ST, ZX Spectrum, Amstrad CPC e Commodore 64 e com todo mundo viciado nas pecinhas que caem na tela. Do outro, você tinha diversas empresas achando que tinham o direito de lançar o jogo como quisessem. No meio, o pobre Pajitnov sem receber um único centavo por sua criação — na verdade, ele nem sabia que o game havia sido lançado no Ocidente.

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Tetris no Game Boy

As coisas só mudaram de figura quando a Nintendo tentou levar Tetris para o Game Boy, que estava prestes a ser lançado. É aí que Henk Rogers entra em cena.

Ele trabalhava em uma distribuidora na época, a Bullet Proof Software, e precisava negociar com Stein para fazer o lançamento do jogo em um console portátil, já que os acordos existentes até então falavam apenas em computadores. Como o inglês não respondeu, Rogers foi direto para a fonte e procurou a União Soviética.

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Foi aí que todo mundo descobriu o enorme trambique que Robert Stein fez até ali. Quando os agentes da URSS viram o cartucho de Tetris do NES, acusaram a Nintendo de piratear o game soviético, pois eles acreditavam que o lançamento tinha sido feito apenas para PCs. Já a empresa japonesa disse que tinha comprado os direitos da Atari, que tinha adquirido de Stein.

Se você ficou confuso, imagine como o pessoal ficou na época. Assim, todos os contratos foram suspensos e os direitos do game foram renegociados — desta vez sob a batuta da própria URSS e com aval de Pajitnov —, o que permitiu que Tetris se tornasse um dos maiores sucessos do Game Boy.

Aliás, foi graças ao console portátil que Tetris se tornou o primeiro título jogado no espaço. Em 1993, um Game Boy com o cartucho foi levado para a Estação Espacial MIR.

Retorno dos direitos

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Toda essa trama ajudou a tornar Pajitnov uma espécie de celebridade no mundo da tecnologia, inclusive fora dos muros da União Soviética. Mesmo sem receber um centavo até então por sua criação, ele foi celebrado pela comunidade e, em 1991, se mudou para os Estados Unidos.

Em 1996, dez anos após o lançamento comercial de sua criação, os direitos de Tetris voltaram para ele. Assim, o programador criou a Tetris Company ao lado de Henk Rogers, que é quem detém os direitos globais do jogo até hoje.

Ao longo desses quase 40 anos de história, Tetris se tornou tanto um fenômeno cultural como uma parte importante da própria história da computação. Em 2010, entrou para o Guinness World Records como o jogo mais portado para outras plataformas. Até então, eram 65 plataformas distintas — um número que certamente já aumentou.

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O segredo do sucesso de Tetris

Existem várias explicações que justificam o sucesso de Tetris. E não é apenas o fato de ser um marco para a época, pois a ideia de empilhar blocos continua sendo um sucesso até hoje. Só em termos de dispositivos móveis, já foram mais de 615 milhões de downloads.

Uma das razões para isso é a simplicidade em torno de todo o conceito. Tanto em um momento em que o mundo ainda estava se habituando a jogar em computadores quanto no mundo ultraconectado de agora, a mecânica de Tetris sempre foi muito amigável e até viciante. Ele incorpora o desafio básico de um jogo em sua forma mais pura.

Além disso, há também algumas explicações científicas. A principal delas é que o game estimula uma função do cérebro relacionada à realização de tarefas. É o chamado efeito Zeigarnik, em que armazenamos essas atividades incompletas até como forma de nos manter focados em algo. E o que Tetris faz é continuamente criar novas tarefas assim, mantendo a atenção por períodos prolongados.