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Uma viagem interestelar é possível? Saiba o que esperar

Por| Editado por Patricia Gnipper | 20 de Setembro de 2023 às 20h30

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photocreo/Envato
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À medida que a ciência planeja a primeira viagem tripulada a outro planeta do Sistema Solar, algo ainda mais grandioso e desafiador surge no horizonte: a viagem interestelar. Mas será que estamos prontos — tecnológica, social, cultural, econômica e politicamente — para alcançar as estrelas? Ainda não, e por isso o debate deve começar agora mesmo.

Viajar para outros sistemas estelares é um sonho não apenas de entusiastas do cosmos e autores de ficção científica. Afinal, os próprios cientistas espaciais trabalham há décadas em pesquisas sobre novos veículos, motores de propulsão e tecnologias inovadoras para descobrir se é possível viajar para estrelas galáxia afora.

Viagem interestelar é possível?

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Esta que será a aventura mais audaciosa da espécie humana vai exigir um esforço mais do que árduo para ser realizada. Por isso, ninguém espera que aconteça de um dia para o outro, e um dos maiores desafios é aprender a pensar em longuíssimo prazo, já que as pessoas vivas hoje não vão fazer parte dessa conquista. É "semear" agora para alguém "colher" depois.

Como manda a cartilha da seleção natural, nossa espécie é muito eficaz em se perpetuar na Terra, mas não estamos muito acostumados a planejar o futuro a um prazo muito longo, bem além de nossos tempos de vida. Podemos pensar no mundo que vamos deixar para nossos filhos e netos, mas é desafiador estabelecer planos para os humanos de séculos no futuro.

Considerando que nosso futuro em colônias interestelares só deve dar seus primeiros passos significativos nos próximos séculos, como podemos estabelecer, hoje, os caminhos que serão tomados? Melhor ainda, será que isso cabe a nós? Nossos debates vão fazer sentido no século 22 ou 23?

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É impossível prever como as futuras gerações vão pensar, que tipo de mundo eles herdarão e quais serão as filosofias e políticas vigentes. Por que então se preocupar em debater as viagens que só eles conseguirão realizar? De certo modo, essas questões foram o tema que motivou uma mesa de debate no 8th Interstellar Symposium ("8º Simpósio Interestelar", traduzindo literalmente), realizado em julho deste ano.

O bate-papo recebeu o adequado nome “Viagem Interestelar: Estamos Prontos?” e aconteceu na Universidade de McGill em Montreal, no Canadá, com transmissão ao vivo para o público interessado. Ali, alguns pesquisadores foram convidados a discutir e refletir nosso papel nas futuras viagens a outros “sóis”.

O simpósio foi organizado pelo Interstellar Research Group (IRG), pela International Academy of Astronautics (IAA) e pela Breakthrough Initiatives, em coordenação com a Universidade de McGill. O evento contou com palestrantes de múltiplas disciplinas, como astronomia e astrofísica, astrobiologia, geologia e cosmologia.

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Tecnologias para viagem interestelar

O primeiro obstáculo para que a viagem interestelar seja possível é, claro, a tecnologia. Uma espaçonave tripulada atual levaria dezenas de milhares de anos para chegar a Proxima Centauri, a estrela mais perto da Terra. Experimentos mais modestos, como as velas solares da Sociedade Planetária e as nanonaves do Breakthrough Starshot, poderiam chegar lá em cerca de 20 anos. Entretanto, essas tecnologias ainda não estão prontas, e tudo o que poderiam carregar consigo são câmeras simples, apenas.

Também há outras propostas estudadas há décadas. É o caso do Alcubierre Warp Drive, proposto pelo físico mexicano Miguel Alcubierre em 1994, que poderia transportar uma espaçonave por meio de dobra espacial. A ideia faz uso das propriedades do espaço-tempo da Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein.

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As estimativas de alguns participantes do painel, como o autor e cientista da NASA Les Johnson, são de que as missões robóticas poderiam ficar prontas para alcançar as estrelas dentro de 100 a 200 anos. Mas, até lá, é preciso fazer o trabalho que está dentro da nossa capacidade intelectual e criativa, já que o progresso científico se dá por meio do acúmulo de desenvolvimento através das gerações.

Esse é um dos aspectos em que os pesquisadores de hoje vão ter papel fundamental, uma vez que as viagens interplanetárias devem começar ainda no tempo de nossas vidas — basta lembrar que pode levar apenas duas ou três décadas para pisarmos em Marte. Alan Stern, pesquisador principal da missão New Horizons, disse que quando isso acontecer estaremos no “ponto de inflexão onde Star Trek começa”.

Segundo Stern: “Estamos vivendo numa era em que as pessoas vão olhar para trás, nos séculos 24 e 25, e vão dizer: foi aí que o voo espacial decolou. E tendo objetivos que não são apenas o que podemos fazer nesta década (ou na próxima, ou mesmo neste século), podemos realmente começar a traçar um caminho para as estrelas”.

Ética e filosofia

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Outro papel que nós, enquanto geração das primeiras viagens interplanetárias, podemos — e devemos — exercer é o debate ético e filosófico. Essa foi a principal preocupação de Erika Nesvold, ex-pesquisadora da NASA e desenvolvedora do Giant Army (criadores do Universe Sandbox, um simulador espacial baseado em física real).

Ela afirmou que, já nas primeiras viagens à Lua e a Marte, temos que resolver problemas éticos “em relação com a seleção de astronautas, design de espaçonaves, inclusão, segurança, etc”. As decisões tomadas nessa e nas próximas décadas podem ser cruciais para o avanço ético que as gerações futuras vão herdar.

Isso também inclui o modo de vida econômico, já que a energia exigida sequer está disponível nos dias de hoje. AJ Link, professor adjunto da Faculdade de Direito da Universidade Howard e especialista em políticas jurídicas espaciais, disse que os valores devem ser muito diferentes que os de viagens interplanetárias “em termos de sistemas monetários, se existir um sistema monetário, que determinam a partilha de recursos”.

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Recursos

Um dos temas comuns em obras de ficção científica é o acesso ao espaço sendo limitado a classes sociais mais favorecidas. Enquanto os mais privilegiados podem viajar a lugares paradisíacos construídos no espaço pela humanidade, os mais pobres são destinados a viver em uma Terra sem recursos ou trabalho em condições insalubres em planetas hostis.

A arte, principalmente no gênero sci-fi, exerce seu importante papel de discutir a sociedade atual e os possíveis rumos da humanidade no futuro, mas há autores que também fazem isso com uma visão otimista: um espaço acessível a todos é o único modo de estabelecer a humanidade como um todo em outros mundos.

“Quando você pensa em acessibilidade, o exemplo é realmente tangível para as pessoas: é muito mais fácil construir algo acessível do que reformar”, disse Link. “Também é muito mais barato fazer isso desde o início e projetá-lo como acessível desde o início do que ter que refazê-lo. E então, quando falamos sobre as conversas, penso na mesma coisa”.

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O jurista também prevê que “vamos errar porque você não consegue saber as respostas … mas a ideia é que estejamos nos preparando para tantas situações quanto possível e de todas as maneiras possíveis”. Para ele, o papel de nossa geração também é “pensar em como estamos criando o novo futuro que desejamos; é por isso que acho importante iniciar as conversas cedo”.

Além disso, Link lembrou os paralelos históricos, como a colonização das Américas envolvendo genocídio e escravatura, enriquecendo os povos colonizadores e empobrecendo os colonizados — algo que se reflete até nos dias de hoje na forma de desenvolvimento e acesso a recursos. Então, será que estamos maduros o suficiente como espécie para a colonização no espaço? Será que precisaremos de leis para isso?

Link afirmou que: “Socialmente, culturalmente, espiritualmente, politicamente e economicamente há muitas questões não respondidas e não resolvidas — além de haver vários problemas históricos não resolvidos que permanecerão connosco se não confrontarmos algumas das partes mais sombrias das histórias colectivas. A humanidade tem muito que trabalhar antes de estarmos prontos para viajar entre as estrelas”.

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Filmes de viagem interestelar

Por falar em ficção científica e produções que enxergam a viagem interestelar com um viés pessimista, ao lado de outras que trazem uma "vibe" mais positiva e esperançosa, conheça 10 dos melhores filmes sobre viagem no espaço para incluir na sua watchlist:

  1. Apollo 13: Do Desastre ao Triunfo
  2. Alien – O Oitavo Passageiro
  3. Gravidade
  4. Passageiros
  5. Guardiões da Galáxia
  6. O Primeiro Homem
  7. Star Trek
  8. Interestelar
  9. Star Wars: O Despertar da Força
  10. 2001 – Uma Odisseia no Espaço

O nosso papel na colonização interestelar

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Pode ser que a humanidade ainda não esteja pronta em nenhum dos aspectos aqui citados para viajar entre as estrelas, mas, se quisermos pavimentar as primeiras estradas, o debate deve começar agora. Se não o fizermos, deixaremos uma função importante para outras gerações, resultando em uma “procrastinação” das tarefas fundamentais. E, com isso, humanos vão demorar muito mais para realizar o antigo sonho de visitar mundos ao redor de outros "sóis".

Ética, política, economia e outros assuntos tratados no debate são temas sensíveis e caros à sociedade; por isso, devem ser tratados com seriedade desde já, antes mesmo de as primeiras viagens interplanetárias acontecerem na prática. Quanto mais cedo começarmos o trabalho, mais fácil vai ser para os primeiros colonizadores interestelares realizarem este feito que certamente será um divisor de águas da evolução humana no universo.

Fonte: Com informações de: IRG, Space.com