Sonda que está há 20 anos em órbita de Marte ganha atualização de software

Se você tem um smartphone Android, tem sorte se ele receber atualizações de software por quatro ou cinco anos. Quem opta por um iPhone pode ficar tranquilo por mais tempo: o atual iOS 15.5 suporta todos os modelos desde o iPhone 6s, lançado há quase sete anos.

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Mas quando o assunto é espaço, o hardware tem que ser suportado por "um pouco mais" de tempo: a agência espacial europeia (ESA) anunciou nesta semana um upgrade do MARSIS, um radar "caçador de água" a bordo da sonda Mars Express, que foi enviada a Marte há 19 anos.

Oficialmente chamado de Mars Advanced Radar for Subsurface and Ionospheric Sounding, o instrumento foi crucial na busca e descoberta de sinais de água líquida em Marte, incluindo um possível lago de água salgada com 20 por 30 km enterrado sob 1,5 km de gelo na região polar sul.

Por isso, os cientistas da ESA decidiram aproveitar que o hardware está em bom estado e desenvolver uma nova versão do software com mais recursos. “Depois de décadas de ciência frutífera e de ter adquirido uma boa compreensão de Marte, queríamos levar o desempenho do instrumento além de algumas das limitações exigidas no início da missão”, diz Andrea Cicchetti, vice-presidente do MARSIS e gerente de operações do INAF (Istituto Nazionale di Astrofisica, na Itália), que liderou o desenvolvimento da atualização.

Windows 98 em Marte? Não é bem assim...

“Enfrentamos vários desafios para melhorar o desempenho do MARSIS”, diz Carlo Nenna, engenheiro de software de bordo do MARSIS na Enginium, que está implementando a atualização. “Até porque o software MARSIS foi originalmente projetado há mais de 20 anos, usando um ambiente de desenvolvimento baseado no Microsoft Windows 98!”

Aqui vale mencionar que, ao contrário do que noticiaram alguns sites, a sonda não roda o Windows 98. O software dela foi desenvolvido em um ambiente baseado no Windows 98. Ou seja, esse era o sistema operacional sobre o qual os compiladores, editores de código-fonte e ferramentas de depuração usados durante o desenvolvimento rodavam. E trazer tudo isso para um sistema operacional mais moderno é um desafio.

O novo software foi projetado em conjunto pela equipe do INAF e Carlo, e agora está sendo implementado na Mars Express pela ESA. Inclui uma série de atualizações que melhoram a recepção do sinal e o processamento de dados a bordo para aumentar a quantidade e a qualidade dos dados científicos enviados à Terra.

“Anteriormente, para estudar as características mais importantes de Marte e estudar sua lua Fobos, contamos com uma técnica complexa que armazenava muitos dados de alta resolução que preenchiam a memória interna do instrumento muito rapidamente”, diz Andréa. “Ao descartar dados que não precisamos, o novo software nos permite ativar o MARSIS por cinco vezes mais tempo e explorar uma área muito maior a cada passagem.”

“Existem muitas regiões perto do pólo sul de Marte nas quais já podemos ter visto sinais indicando água líquida em dados de resolução mais baixa”, acrescenta Colin Wilson, cientista da ESA Mars Express.

“O novo software nos ajudará a estudar mais rápida e extensivamente essas regiões em alta resolução e confirmar se elas abrigam novas fontes de água em Marte. É realmente como ter um novo instrumento a bordo do Mars Express quase 20 anos após o lançamento.”