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"Lagos" subterrâneos de Marte podem ser apenas argila congelada, segundo estudo

Por| Editado por Patricia Gnipper | 29 de Julho de 2021 às 15h45

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NASA
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Em 2018, uma equipe de pesquisadores da Agência Espacial Europeia (ESA) anunciou a descoberta de água líquida em Marte a partir de dados coletados pelo radar MARSIS, que equipa a sonda Mars Express. Agora, um grupo de cientistas liderado por Isaac Smith, cientista planetário da York University, propõe que as detecções apresentadas anteriormente não indiquem reservatórios de água, mas sim grandes depósitos de argila congelada. 

Durante décadas, os cientistas suspeitaram que, assim como acontece na Terra, havia grandes massas de água abaixo das calotas polares de Marte — algo reforçado pelos dados obtidos pelo radar MARSIS, que mostravam evidências de um lago sob a calota polar sul do planeta. Depois, em 2020, foram identificados sinais de lagos de salmoura no Planeta Vermelho — e, se eles estivessem cheios da água que já existiu em Marte, poderiam até ter abrigado vida. Entretanto, a equipe do novo estudo considera que esta interpretação dos dados é controversa.

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Eles afirmam que seriam necessárias quantidades de sal e calor que não correspondem àquilo que se sabe sobre Marte hoje, de modo que faltava uma explicação alternativa — e é aqui que entra o estudo de Smith e seus colegas: eles propõem que minerais de argila, conhecidos por ocorrer naquela região, poderiam explicar os dados coletados pelos radares. “Entre a comunidade, houve ceticismo em relação à interpretação do lago, mas ninguém ofereceu uma alternativa realmente plausível”, disse ele, em entrevista. 

Assim, a equipe direcionou seus estudos para as esmectitas, um tipo de argila de composição parecida com aquela das rochas vulcânicas. Esse mineral é bastante abundante em Marte — especialmente nos planaltos do sul — e se forma quando as rochas erodidas interagem com a água, sofrendo algumas pequenas mudanças químicas. No laboratório, eles resfriaram esmectitas a -43 ºC para se aproximar ao frio de Marte, e descobriram que, se o mineral tiver retido água, é possível conseguir o mesmo tipo de reflexo identificado pelo MARSIS, mesmo se houver mistura de outros minerais.  

Além disso, a equipe também analisou dados do polo sul de Marte coletados anteriormente, e encontraram evidências das esmectitas por lá. Assim, eles sugerem que esses minerais se formaram na região durante o período de calor do planeta, quando ainda havia água em abundância; depois, essas argilas “encharcadas” foram enterradas sob o gelo de água. “Quando voltamos no tempo para o período em que Marte era muito mais úmido, podemos confirmar a evidência de que a água estava presente em uma área muito mais ampla do que previmos”, explica ele. 

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Como a argila foi encontrada na calota polar sul e abaixo dela, é possível que o local tenha sido quente o suficiente para dar suporte à existência de líquido, e eles consideram que as esmectitas sejam uma explicação mais viável do que os lagos de salmouras. “A ciência é um processo, e os cientistas estão sempre trabalhando em busca da verdade”, comentou Smith. “Mostrar que outro material, além da água líquida, pode causar as observações, não significa que foi errado publicar os primeiros resultados em 2018; aquilo deu várias ideias de experimentos, modelos e observações, ideias que vão se traduzir em outras investigações — como já está acontecendo com a minha equipe”, concluiu.

O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Geophysical Review Letters.

Fonte: Space.com