Se o Planeta 9 existe, por que ainda não fomos capazes de detectá-lo?
Por Patricia Gnipper |
Há bastante tempo se especula sobre um suposto planeta desconhecido nos confins do Sistema Solar, que ora é chamado de Planeta 9, ou também de Planeta X. A própria NASA já admitiu que as evidências de que nosso quintal espacial abriga um nono planeta aguardando ser descoberto são grandes demais para serem ignoradas, e a órbita estranha de objetos além de Netuno poderia ser explicada por um planeta na região.
Um dos primeiros questionamentos que muita gente faz quando se depara com especulações sobre a existência do Planeta 9 é: como o Hubble consegue fotografar galáxias a até bilhões de anos-luz de distância, mas não é capaz de registrar um planeta no próprio Sistema Solar?
Inegável é o fato de que o Hubble registra imagens de galáxias extremamente distantes, com detalhes sem precedentes. Igualmente inegável, no entanto, também é sua incapacidade de fotografar Plutão, por exemplo, que, em seus registros, aparece como uma bolha desfocada no espaço. Só que isso pode ser facilmente explicado com a matemática.
Antes do cálculo, precisamos levar em consideração o quão grande as galáxias aparecem no céu, em comparação com pequenos corpos nos confins do Sistema Solar. Para responder à questão, é preciso saber seus tamanhos e distâncias.
Um exemplo de galáxia lindamente registrada pelo Hubble é a NGC 5584, a cerca de 72 milhões de anos-luz da Terra, abrangendo 50 mil anos-luz de tamanho. Já Plutão, a 4,67 bilhões de quilômetros, tem diâmetro de 2.400 km. Então, para medir o quão grande esses corpos aparecem em nosso céu, devemos relacionar seus tamanhos às suas distâncias, considerando suas proporções na ordem de grandeza.
A proporção da galáxia em questão é de cem mil de tamanho dividido por uma centena de milhões de distância, com relação em torno de um milésimo. Já a proporção de Plutão é de mil de tamanho dividido por um bilhão de distância, sendo esta relação em torno de um milionésimo. Sendo assim, sabemos que a galáxia NGC 5584 deve aparecer cerca de 1.300 vezes maior no céu do que Plutão.
E estamos falando de Plutão, um planeta-anão conhecido por nós, sendo que sabemos, a partir de sua órbita, exatamente onde ele estará no instante de uma observação. Sendo assim, como o Planeta 9 ainda é somente uma possibilidade, não se sabe sequer se ele existe mesmo, que dirá como é sua órbita (ainda que tal órbita já tenha sido especulada e calculada computacionalmente com base na descoberta do objeto 2015 BP519, como podemos ver na imagem abaixo).
Concluindo, uma vez que as galáxias, ainda que muito distantes, são muito maiores do que um único planeta, essa distância é compensada com seu diâmetro na hora de serem observadas aqui da Terra. Dessa maneira, algo localizado a milhões de anos-luz pode aparecer milhares de vezes maior no céu do que algo dentro do Sistema Solar. Por isso telescópios poderosos, como o Hubble, são incríveis na hora de fotografar tais galáxias, mas não registram imagens muito legais dos nossos vizinhos espaciais — sendo necessário enviar missões especiais para a órbita desses planetas, como foi o caso da New Horizons, que estudou Plutão de pertinho em 2015.
*Matéria originalmente publicada em 06/07/2018; atualizada e republicada em 29/06/2020
Fonte: Quanta Magazine, The Planetary Society