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Satélites Starlink destroem completamente foto do cometa NEOWISE; veja a imagem

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Daniel Lopez
Daniel Lopez

Estamos sendo agraciados com a passagem rara do cometa C/2020 F3 NEOWISE nos arredores do planeta — e inclusive os brasileiros já começaram a vê-lo no céu noturno nesta semana, fazendo belos registros. Este cometa, descoberto em março, passa por aqui a cada 6.765 anos; ou seja, esta é uma oportunidade única de registrá-lo. Contudo, os satélites Starlink, da SpaceX, arruinaram completamente a tentativa de registro de um astrofotógrafo nas Ilhas Canárias.

Julien Girard, astrônomo do Space Telescope Science Institute, publicou em seu Twitter uma foto para lá de triste, tirada pelo astrofotógrafo Daniel Lopez. Na imagem, vemos o cometa NEOWISE e sua bela cauda brilhando intensamente, mas o registro foi prejudicado pela passagem dos satélites Starlink bem naquela hora, que deixaram rastros luminosos em toda a imagem. Veja:

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O tweet fala que 17 imagens com 30 segundos de exposição foram reunidas pelo astrofotógrafo, completamente prejudicadas pelos satélites de Elon Musk. "São algumas centenas deles agora, mas haverá alguns milhares no futuro próximo. A SpaceX está empenhada em revesti-los e orientá-los melhor, mas ainda assim...", lamenta o cientista.

Não é de hoje que a passagem dos "trens" de satélites Starlink pelo céu atrapalham observações astronômicas. Na verdade, esse alerta vem sendo dado pela comunidade científica desde o início do projeto, que lançou o primeiro lote com 60 satélites em maio de 2019. Desde então, provas e mais provas de que os Starlink prejudicam as observações do céu noturno vêm sendo apresentadas, e Elon Musk vem tentando resolver o problema. Sua empresa chegou a testar um revestimento escuro para verificar se isso seria suficiente a ponto de reduzir a reflexividade de um satélite experimental, o que não deu certo. Depois, tentou colocar visores para desviar a luz refletida, mas os resultados desse experimento ainda não foram divulgados. No momento há cerca de 540 satélites Starlink em órbita, mas a empresa já tem permissão de lançar 30 mil no total, procurando autorização para que esse número suba a 42 mil.

E se engana quem pensa que a passagem dos Starlink prejudica apenas observações por meio de câmeras e telescópios. Alguns satélites também são visíveis a olho nu, o que acaba gerando confusão nas pessoas em geral, que, ao observarem "objetos se movendo de maneira estranha no céu", creem estarem observando OVNIs. Esse brilho dos satélites aparece muito mais intenso quando eles estão orbitando a Terra a uma distância mais próxima do que os demais satélites ao redor do planeta, aqueles que não nos atrapalham em nada. Isso acontece quando os Starlink estão a aproximadamente 550 km de altitude, sendo que a órbita usual média para isso é de 20 mil km, enquanto a órbita geoestacionária fica a 36 km — esta usada por outros tipos de satélites, como os de comunicação e GPS. A SpaceX diz que seus Starlink porventura acabam subindo sua órbita, aos poucos, e vão ficando cada vez menos visíveis durante alguns meses.

Problema recorrente

Essa não é a primeira vez em que a passagem dos satélites Starlink prejudica o registro da passagem de um cometa. Em abril deste ano, um astrofotógrafo amador chamado Zdenek Bardon, da República Tcheca, tentou fotografar a passagem do cometa ATLAS, que estava se fragmentando à medida que se aproximava do Sol, e foi surpreendido com sua foto também sendo arruinada com as trilhas luminosas deixadas pelos satélites de Elon Musk.

Conforme ele mesmo explicou na época, Bardon não estava em um local com baixa poluição luminosa para conseguir registrar o cometa com uma só tacada, então precisou usar a técnica do empilhamento de imagens — quando se faz diversas exposições individuais, que depois são reunidas para intensificar o brilho de objetos que não ficaram proeminentes em cada uma delas isoladamente. Só que, ao fazer isso, quem também apareceu "de gaiato" foram os satélites Starlink, que deixaram diversas trilhas na imagem final.