Rússia critica programa lunar da NASA e pede mais abertura internacional
Por Patricia Gnipper | 13 de Outubro de 2020 às 10h04
Dmitry Rogozin, chefe da agência espacial russa Roscosmos, criticou publicamente o programa Artemis, da NASA, que envolve planos de devolver a humanidade à superfície lunar a partir de 2024, contando com a estação orbital Gateway como "pit-stop" para que seja estabelecida uma presença humana constante e sustentável em nosso satélite natural. Ele chamou os planos da agência norte-americana de "centrada nos Estados Unidos" e pede mais cooperação internacional — assim, a Rússia teria mais chances de participar ativamente.
- Diretor da Roscosmos abre o jogo sobre o futuro da exploração espacial russa
- Rússia considera inaceitável tentativa de Trump de privatizar o espaço
- Saiba como a Rússia planeja enviar cosmonautas à Lua até 2030
Isso é um desdobramento da recente abertura do programa Artemis a outras nações, com a NASA divulgando critérios para que demais países se envolvessem na iniciativa. A Rússia já havia declarado interesse em fazer parte do programa, mas, agora, Rogozin diz que o país só estará aberto para participar se os planos da NASA mudarem, ficando mais focados na cooperação internacional.
“O mais importante seria basear este programa nos princípios de cooperação internacional que todos nós usamos” para voar na ISS, disse. “Se pudéssemos voltar a considerar fazer desses princípios a base do programa, a Roscosmos também poderia considerar sua participação”, complementa. Rogozin deixou claro que não é o maior fã do atual programa lunar da NASA, uma vez que os EUA lideram quase todos os principais elementos do programa, incluindo a construção da estação Gateway, que envolve foguetes, cápsulas, módulos de pouso, etc — tudo isso contando com parcerias com empresas privadas, vale dizer.
Rogozin disse também que "para os EUA, isso agora é mais um projeto político" do que qualquer outra coisa, declarando, ainda, que "com o projeto lunar, estamos observando a saída de nossos parceiros americanos dos princípios de cooperação e apoio mútuo que se desenvolveram durante a cooperação na ISS", pois "eles veem seu programa não como internacional, mas semelhante ao da OTAN — existe a América e todos os outros devem ajudar e pagar". Categórico, ele também diz que "para ser honesto, não estamos interessados em participar de tal projeto".
Após as declarações, Jim Bridenstine, administrador da NASA, disse ao The Verge que a mesma estrutura legal desenvolvida para a Estação Espacial Internacional (ISS) será usada na estação lunar Gateway. "A ISS não tem apenas tecnologia avançada, mas nos ajudou a aprender como trabalhar efetivamente em conjunto com uma variedade de culturas e países. É por isso que estamos usando o Acordo Intergovernamental (IGA), que é a estrutura legal da ISS para o Gateway", disse. Um esboço desse acordo adaptado para a Gateway teria sido enviado à Roscosmos em novembro do ano passado, mas, segundo Bridenstine, os russos não chegaram a responder de maneira sólida. “Continuamos abertos e interessados em receber seus comentários sobre o documento e nossa abordagem geral de utilização do IGA da ISS para o Gateway”, disse Bridenstine à agência espacial russa.
Fonte: The Verge, Space News