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Relatório da ESA revela preocupação com o acúmulo de lixo espacial em órbita

Por  • Editado por  Rafael Rigues  | 

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NASA
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Um novo relatório da Agência Espacial Europeia (ESA), publicado em 22 de abril, revela como a órbita da Terra encontra-se extremamente congestionada, seja por satélites ativos ou fragmentos de foguetes lançados há décadas. O documento detalha o crescimento de constelações de satélites comerciais e os esforços para tornar o espaço próximo à Terra sustentável a longo prazo.

Parte da vida moderna é sustentada graças ao aparato tecnológico estabelecido em órbita de nosso mundo. É a partir desse espaço que monitoramos as mudanças climáticas e estabelecemos os sistemas de comunicação e navegação, além de ajudar a responder questões fundamentais da ciência.

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No entanto, todo esse suporte tecnológico está cada vez mais ameaçado de ser destruído pelo crescente número de lixo espacial — sobras de satélites ou foguetes extintos que viajam a altas velocidades. Se nada for feito para resolver este problema, o uso do espaço será insustentável.

Em 2002 o Comitê Interagências de Coordenação de Detritos Espaciais (IADC, na sigla em inglês) estabeleceu as Diretrizes de Mitigação de Detritos Espaciais. O documento traz uma série de normas sobre como projetar, lançar e descartar missões espaciais sem poluir o espaço próximo à Terra.

As diretrizes iniciaram a proteção da órbita e foram a base para políticas espaciais voltadas a esse propósito nos últimos 20 anos. Desde 2016, o Space Debris Office, da ESA, fornece um relatório anual informando sobre o que tem acontecido no espaço próximo à Terra e o que tem sido feito para torná-lo sustentável a longo prazo.

A seguir, você confere os pontos mais importantes do Relatório Ambiental de Detritos Espaciais deste ano.

Mais satélites, mais lixo espacial

Segundo o relatório, o atual número de detritos espaciais já é bem grande, mas ele não para de aumentar. Estima-se que existam mais de 30 mil fragmentos espaciais na órbita da Terra, todos registrados e monitorados com frequência por redes de vigilância espacial.

Embora o avanço da tecnologia permita rastrear esses detritos com maior precisão, o número de objetos sem identificação também aumenta, ou seja, não há como estimar o evento que gerou esses fragmentos. Quando objetos maiores que 1 cm são considerados, o número de detritos pode superar um milhão.

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O relatório também destaca o crescimento no número de voos espaciais desde 2020. O suporte tecnológico para a criação de constelações de satélites não apenas se tornou mais confiável, mas também compacto. Nos últimos dois anos, o número de satélites lançados à órbita cresceu bastante e a maioria deles pesa de 100 a 1.000 kg.

Outra fator que contribuiu para este crescimento foi o número recorde, observado no ano passado, de foguetes lançando diversos satélites ao mesmo tempo. Isso reduziu bastante os custos de lançamento, mas também tornou mais desafiador monitorar esses objetos de maneira individual.

Órbita congestionada

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Antes mesmo do número de satélites em órbita crescer, a quantidade de lixo espacial já era bem grande. Com isso, nos últimos anos os encontros próximos entre satélites ativos e detritos, chamados “conjunções”, também se tornaram mais frequentes.

O gráfico acima demonstra o número de vezes que um satélite comum, em variadas altitudes, passou por um alerta de colisão durante 2021. Em baixas altitudes, os satélites se deparam com outros pequenos satélites, enquanto em altitudes mais elevadas eles encontram com maior frequência detritos espaciais.

Esses alertas nem sempre significam uma colisão inevitável, mas com mais objetos orbitando a Terra, torna-se mais difícil para os operadores de satélites administrá-los manualmente. A ESA tem trabalhado em um sistema automático capaz de realizar manobras para prevenir colisões e reduzir os alarmes falsos.

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Descarte seguro de satélites avança, mas ainda há muito a fazer

O relatório destaca que, atualmente, a maior parte dos foguetes usados para lançamento de satélites têm sido descartada de maneira adequada. Enquanto uns queimam em uma “reentrada controlada” na atmosfera, outros são colocados em uma órbita "cemitério" para caírem gradualmente em 25 anos.

Outro apontamento é que um número crescente de satélites que chegam ao final de suas missões na baixa órbita tem sido descartado de maneira adequada, mas ainda há muito o que fazer. Há um aumento nas tentativas de descarte bem-sucedido, mas muito satélites são largados à deriva na órbita.

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Embora hoje exista uma maior conscientização a respeito do uso sustentável do espaço próximo à Terra, os atuais esforços são insuficientes. Se a maneira como lançamos e descartamos objetos espaciais não mudar imediatamente, o número de colisões catastróficas no futuro será extrapolado.

A ESA teme que as atuais práticas insustentáveis levem à Síndrome de Kessler, que descreve uma órbita tão congestionada de objetos que qualquer colisão, por menor que seja, pode produzir um efeito em cascata: uma colisão leva à outra, que leva à outra e assim por diante.

Para a agência europeia, a melhor alternativa para responder a este problema é que mais instituições e políticas se voltem às diretrizes estabelecidas pelo IADC há anos. Outro passo fundamental, é começar a limpar o espaço próximo à Terra e alguns esforços já caminham nessa direção.

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A missão ClearSpace-1, prevista para ser lançada em 2026, será a primeira a remover um pedaço de lixo espacial da órbita. Uma sonda será usada para capturar e derrubar, em segurança, um objeto de 112 Kg que é parte de um foguete lançado em 2013. O objetivo é se assegurar de que a reentrada do objeto na atmosfera seja totalmente controlada.

Fonte: ESA