Mistério! Perseverance coletou amostra de Marte mas o conteúdo sumiu
Por Danielle Cassita • Editado por Patricia Gnipper |
Na última sexta-feira (6), o rover Perseverance perfurou o solo de Marte para realizar a primeira coleta de amostras já feita em sua missão. Entretanto, os dados enviados mostraram que o procedimento não aconteceu conforme o planejado. As informações obtidas pelo rover indicam que rochas ou poeira não foram coletadas durante a atividade, ou seja, não houve material armazenado no tubo de coleta. Contudo, as fotos mostram que o solo foi perfurado devidamente.
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Segundo oficiais da NASA, os dados indicam que a broca do rover funcionou normalmente e que o processamento do tubo de coleta também pareceu normal. “O processo de amostragem é autônomo do início ao fim”, disse Jessica Samuels, gerente de missão de superfície do Perseverance. “Um dos passos que ocorrem após posicionar a sonda no tubo de coleta é mensurar o volume da amostra; a sonda não encontrou a resistência esperada que estaria lá se houvesse uma amostra no tubo”, explicou, em um comunicado.
Isso significa que, no fim das contas, uma perfuração foi realmente feita no solo, mas o tubo para a coleta do material continuou vazio — algo que nunca aconteceu durante os testes feitos na Terra. “A ideia inicial é que o tubo vazio é, provavelmente, o resultado da rocha-alvo não reagindo conforme esperávamos, e há menos chances de ser um problema de hardware com o Sampling and Caching System”, comentou Jennifer Trosper, gerente de projeto do Perseverance no Laboratório de Propulsão a Jato.
Nos próximos dias, a equipe irá analisar os dados já obtidos e irão coletar alguns dados de diagnóstico para, assim, tentar entender o que aconteceu. Além disso, a equipe da missão Perseverance está reunindo um time de resposta para analisar os dados e, para isso, eles irão usar o instrumento WATSON (Wide Angle Topographic Sensor for Operations and eNgineering), localizado no fim do braço robótico do rover, para fazer algumas fotos da perfuração. Após compreender o ocorrido, a equipe poderá programar uma nova tentativa de coleta.
O rover Perseverance tem mais de 40 tubos para o armazenamento de amostras e, felizmente, preencher o primeiro deles não era um momento tão decisivo, já que o plano de missão define que o rover deverá coletar e armazenar amostras em pelo menos 20 deles. “Embora isso não seja o que esperávamos, sempre há riscos quando abrimos novos caminhos”, disse Thomas Zurbuchen, administrador associado da Diretoria de Missões Científicas, na NASA. "Estou confiante que temos a equipe certa trabalhando nisso, e vamos seguir com perseverança em uma solução para garantir sucesso futuro", finalizou.
Esta não é a primeira vez que as rochas e o regolito de Marte mostram propriedades que pregam peças nos cientistas das missões da NASA: o rover Curiosity, por exemplo, já perfurou rochas que se mostraram mais rígidas e quebradiças do que se esperava. Já a sonda de calor — carinhosamente apelidada de “toupeira” — da sonda InSight exigiu vários esforços da equipe para tentar enterrá-la no solo marciano, que não forneceu a fricção necessária para o procedimento. “Estive em todas as missões de Marte desde o começo, e esse planeta está sempre nos ensinando algo que não sabemos”, comentou Trosper. “O que eu descobri é que não é raro ter complicações durante atividades complexas realizadas pela primeira vez”.