Ambiente extremo na Terra sugere como micróbios podem sobreviver em Marte
Por Danielle Cassita • Editado por Rafael Rigues |

Após longas buscas sob condições nada amigáveis, pesquisadores da Universidade McGill encontraram microrganismos no ambiente sob a camada de solo congelada (permafrost) de Lost Hammer Spring, uma das fontes mais frias no Canadá. Nem um pouco hospitaleira, ela é bem parecida com algumas regiões de Marte. Portanto, quem quer aprender sobre as formas de vida que talvez existam, ou tenham exisitido, em nosso vizinho, pode começar por lá.
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Lost Hammer Spring é uma das fontes terrestres de água mais fria e salgada que conhecemos: antes de chegar à superfície, a água viaja por uma camada congelada com quase 600 m de espessura, tem salinidade de aproximadamente 24%, temperatura por volta de -5 ºC e tem pouquíssimo oxigênio. Em função da alta concentração de sal, a água ali não congela, criando um habitat de água líquida a temperaturas abaixo de 0 ºC.
Estas condições são análogas àquelas encontradas em alguns lugares em Marte, onde os depósitos de sal e possíveis fontes de água salgada foram observados. Assim, para entender os tipos seres vivos que poderiam existir no Planeta Vermelho, a equipe de pesquisadores liderada por Lyle Whyte trabalhou com ferramentas genômicas de última geração somadas a métodos de microbiologia unicelular.
Identificar microrganismos ali e sequenciar o DNA e RNAm (RNA mensageiro) deles não foi uma tarefa fácil. “Levou alguns anos de trabalho com o sedimento antes de conseguirmos detectar comunidades microbianas ativas”, relembrou Elisse Magnuson, autora principal do estudo. A equipe isolou e sequenciou o DNA da comunidade na fonte e, depois, reconstruiu o genoma de aproximadamente 110 microrganismos; a maioria deles jamais foi vista antes.
Embora estudos anteriores tenham encontrado evidências de microrganismos em ambientes do tipo, este é um dos poucos que os encontrou ainda vivos e em atividade. De posse dos genomas, os cientistas determinaram como seres do tipo sobrevivem em um ambiente tão extremo, criando “modelos” para possíveis organismos em ambientes parecidos. Em seguida, a equipe usou o sequenciamento de RNA para identificar genes ativos nos genomas, identificando alguns seres surpreendentes.
Os autores demonstraram que as comunidades de microorganismos em Lost Hammer Spring sobrevivem se alimentando e respirando compostos inorgânicos simples de tipos já identificados em Marte, como o metano e o dióxido de carbono. “Eles também conseguem fixar o dióxido de carbono e o nitrogênio gasoso da atmosfera, o que os torna altamente adaptados a sobreviver e prosperar em ambientes muito extremos na Terra e além” disse ela.
Agora, a equipe planeja cultivar e caracterizar os membros mais abundantes e ativos do sistema para entender como e porquê eles vivem em um ambiente como o de Lost Hammer Spring. O estudo trouxe informações importantes também para a Agência Espacial Europeia, que coletou algumas amostras de sedimentos da região para testar as capacidades de detecção de vida dos instrumentos da futura missão ExoMars.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista ISME Journal.
Fonte: ISME Journal; Via: Universidade McGill