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Subsuperfície de Marte pode ser habitável para microorganismos, sugere estudo

Por| Editado por Luciana Zaramela | 22 de Abril de 2021 às 20h00

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NASA/JPL-Caltech
NASA/JPL-Caltech

Em fevereiro, o rover Perseverance, da NASA, pousou na cratera Jezero, onde irá procurar sinais que podem ter sido deixados por formas de vida, que talvez tenham ocorrido no passado de Marte. Enquanto o explorador robótico inicia suas buscas, um novo estudo sugere que a subsuperfície marciana pode ser um ótimo lugar para procurar por formas de vida atuais, em função de reações químicas capazes de sustentar microrganismos.

O estudo trabalha com os processos que ocorrem nas profundezas do nosso planeta: recentemente, cientistas descobriram que os lugares mais profundos da Terra abrigam grandes biomas, onde as criaturas sobrevivem com os produtos das reações químicas que ocorrem quando rochas entram em contato com a água. Uma delas é a radiólise, que acontece quando elementos radioativos nas rochas reagem com a água. Com isso, as moléculas de água se quebram nos elementos que as constituem.

Nisso, o hidrogênio liberado se dissolve na água que sobrou, enquanto minerais capturam o oxigênio livre para formar minerais de sulfato. Os micróbios podem ingerir o hidrogênio dissolvido como “combustível”, enquanto usam o oxigênio dos sulfatos para "queimá-lo". Em locais como a mina Kidd Creek, no Canadá, esses microrganismos “redutores de sulfato” já foram encontrados vivendo a mais de 1,6 km abaixo do solo, em água que não recebe luz solar há pelo menos um bilhão de anos.

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Mesmo nestes ambientes tão remotos, as reações químicas continuam acontecendo e sustentando os organismos. Assim, os pesquisadores trabalharam com a possibilidade de haver processos similares em Marte, que podem ter dado suporte à vida no passado do planeta. Para isso, eles observaram a composição de meteoritos vindos de Marte, rochas que foram arrancadas da superfície com impactos espaciais e acabaram chegando à Terra — e que podem ter vindo de camadas profundas da crosta marciana.

A análise mostrou que, se entrarem em contato com a água, essas rochas podem produzir energia química, que poderia dar suporte ao desenvolvimento de comunidades microbianas parecidas com aquelas que existem nas profundezas da Terra. Jesse Tarnas, autor líder do estudo, explica que a grande implicação que existe depende da água: “onde quer que haja água subterrânea em Marte, há grandes chances de haver energia química suficiente para dar suporte à vida microbiana na subsuperfície”, comenta ele.

Na prática, isso sugere que grande parte da subsuperfície de Marte pode ser habitável para microorganismos: “não sabemos se a vida começou abaixo da superfície de Marte, mas se esse for o caso, pensamos que pode ter bastante energia para sustentá-la até hoje”, diz. Então, usando dados do rover Curiosity e orbitadores, eles investigaram se Marte teria os ingredientes necessários para criar habitats definidos pela radiólise, além de informações da composição de meteoritos marcianos, que representam diferentes partes da crosta do planeta.

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A equipe procurou elementos radioativos, minerais que pudessem ser convertidos em sulfato e rochas porosas o suficiente para reter água. No fim, eles descobriram que, de fato, alguns tipos de meteoritos vindos de Marte têm todos os ingredientes na frequência adequada para dar suporte a habitats microbianos semelhantes aos da Terra — e isso se aplica principalmente para as rochas com mais de 3,6 bilhões de anos, vindas da crosta, que mostraram o maior potencial de suporte à vida.

Como Marte não tem um sistema de placas tectônicas, as partes mais antigas do solo continuam praticamente inalteradas. Para os pesquisadores, as descobertas vão ajudar na definição de programas de exploração que busquem sinais de vida atual na subsuperfície do planeta. Além disso, como pesquisas anteriores já encontraram evidências de sistemas de água subterrânea que fluiu por lá no passado, eles consideram que há motivos para acreditar que parte dessa água ainda existe hoje em algum lugar.

Os autores Tarnas e Mustard ressaltam que, embora haja desafios técnicos na exploração do subsolo, ela não seria tão impossível quanto parece, e pode guardar boas surpresas: “investigamos a atmosfera, mapeamos a superfície com diferentes comprimentos de onda e pousamos na superfície em diversos lugares, e esse trabalho continua a nos dizer muito sobre o passado do planeta”, comentou Mustard. “Mas se quisermos pensar sobre a possibilidade da vida nos dias de hoje, o subsolo com certeza será onde está a ação”.

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O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Astrobiology.

Fonte: Brown University