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Ambiente extremo na Terra sugere como micróbios podem sobreviver em Marte

Por  • Editado por  Rafael Rigues  | 

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Elisse Magnuson
Elisse Magnuson

Após longas buscas sob condições nada amigáveis, pesquisadores da Universidade McGill encontraram microrganismos no ambiente sob a camada de solo congelada (permafrost) de Lost Hammer Spring, uma das fontes mais frias no Canadá. Nem um pouco hospitaleira, ela é bem parecida com algumas regiões de Marte. Portanto, quem quer aprender sobre as formas de vida que talvez existam, ou tenham exisitido, em nosso vizinho, pode começar por lá.

Lost Hammer Spring é uma das fontes terrestres de água mais fria e salgada que conhecemos: antes de chegar à superfície, a água viaja por uma camada congelada com quase 600 m de espessura, tem salinidade de aproximadamente 24%, temperatura por volta de -5 ºC e tem pouquíssimo oxigênio. Em função da alta concentração de sal, a água ali não congela, criando um habitat de água líquida a temperaturas abaixo de 0 ºC.

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Estas condições são análogas àquelas encontradas em alguns lugares em Marte, onde os depósitos de sal e possíveis fontes de água salgada foram observados. Assim, para entender os tipos seres vivos que poderiam existir no Planeta Vermelho, a equipe de pesquisadores liderada por Lyle Whyte trabalhou com ferramentas genômicas de última geração somadas a métodos de microbiologia unicelular.

Identificar microrganismos ali e sequenciar o DNA e RNAm (RNA mensageiro) deles não foi uma tarefa fácil. “Levou alguns anos de trabalho com o sedimento antes de conseguirmos detectar comunidades microbianas ativas”, relembrou Elisse Magnuson, autora principal do estudo. A equipe isolou e sequenciou o DNA da comunidade na fonte e, depois, reconstruiu o genoma de aproximadamente 110 microrganismos; a maioria deles jamais foi vista antes.

Embora estudos anteriores tenham encontrado evidências de microrganismos em ambientes do tipo, este é um dos poucos que os encontrou ainda vivos e em atividade. De posse dos genomas, os cientistas determinaram como seres do tipo sobrevivem em um ambiente tão extremo, criando “modelos” para possíveis organismos em ambientes parecidos. Em seguida, a equipe usou o sequenciamento de RNA para identificar genes ativos nos genomas, identificando alguns seres surpreendentes.

Os autores demonstraram que as comunidades de microorganismos em Lost Hammer Spring sobrevivem se alimentando e respirando compostos inorgânicos simples de tipos já identificados em Marte, como o metano e o dióxido de carbono. “Eles também conseguem fixar o dióxido de carbono e o nitrogênio gasoso da atmosfera, o que os torna altamente adaptados a sobreviver e prosperar em ambientes muito extremos na Terra e além” disse ela.

Agora, a equipe planeja cultivar e caracterizar os membros mais abundantes e ativos do sistema para entender como e porquê eles vivem em um ambiente como o de Lost Hammer Spring. O estudo trouxe informações importantes também para a Agência Espacial Europeia, que coletou algumas amostras de sedimentos da região para testar as capacidades de detecção de vida dos instrumentos da futura missão ExoMars.

O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista ISME Journal.

Fonte: ISME Journal; Via: Universidade McGill