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TV e cinema dos últimos 10 anos: o que virou clássico e flopou com o tempo?

Por| Editado por Jones Oliveira | 12 de Julho de 2022 às 15h30

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Summit Entertainment, Marvel Studios, ABC
Summit Entertainment, Marvel Studios, ABC

Olhar para trás é sempre um exercício. E não falo naquele velho papo de ver o quanto você mudou ao longo de uma década, mas em termos de mercado mesmo. Essa olhadela no retrovisor mostra o quanto um período de apenas 10 anos é o suficiente para separar o joio do trigo e deixar bem claro o que nasceu para ser clássico e aquilo que era apenas um hype momentâneo.

É só olhar para os filmes e séries que estavam em alta naquela época. Algumas tendências que vivemos hoje já se desenhavam em 2012 enquanto outras foram completamente engolidas pelo caminhar do tempo. Era um mundo em que o streaming ainda engatinhava e isso diz muito sobre as séries, por exemplo.

E como tanto a tecnologia quanto o próprio entretenimento mudam a uma velocidade impressionante, fazer esse retrospecto é um exercício torna tudo ainda mais interessante. Além disso, como o Canaltech também está celebrando seus 10 anos em 2022, acompanhamos todas essas mudanças de perto. Mas será que todos lembramos como era a cultura pop lá atrás?

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O cinema em 2012

Um mundo (quase) sem heróis

A começar pelo cinema, os grandes sucessos de bilheteria eram bem diferentes daquilo que temos hoje — mas já começando a sinalizar o fenômeno que temos em 2022. Afinal, dez anos atrás, a invasão de super-heróis estava ainda no início e dava para contar nos dedos de uma só mão as estreias relacionadas a quadrinhos que surgiam nessa época.

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Porém, já era clara a força que eles teriam dali em diante. Não por acaso, as maiores bilheterias daquele ano foram o primeiro Vingadores e Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge.

Aliás, essa dobradinha heroica também é um retrato muito bom do que foi o mercado cinematográfico dentro desse nicho. Do lado da Disney, era o primeiro grande evento do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU, na sigla em inglês) e a prova de que era possível construir um mundo com vários filmes interligados para contar uma história que conectava todos eles — algo que tomou proporções gigantescas nos anos seguintes.

Só que, até então, isso era apenas um sonho dos fãs que tinham à sua disposição apenas seis longas. Hoje, o Marvel Studios acabou de estrear seu 29º filme e já conta com com mais uma leva engatilhada, além de outras tantas séries de TV.

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Essa explosão nos números tem uma explicação bem óbvia: dinheiro. Ao longo de todos esses anos, o MCU já soma mais de US$ 25 bilhões (R$ 135,5 bilhões) em bilheteria — uma média de 890 milhões para cada novo longa. E o fato de o primeiro Vingadores ter alcançado incríveis US$ 1,5 bilhão (R$ 8,1 bilhões) em 2012 já era um forte sinal de que ele seria apenas o começo.

Já do lado da DC, o movimento é quase invertido. Embora Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge tenha conseguido chegar ao US$ 1 bilhão (R$ 5,4 bilhões) em bilheteria naquele ano, o filme marcou a despedida do diretor Christopher Nolan do mundo de super-heróis e o início de um período um tanto quanto conturbado para a Warner, que tentou estabelecer seu próprio universo cinematográfico nos anos seguintes, mas a muitos tropeços.

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Além disso, o próprio Cavaleiro das Trevas Ressurge é um filme bem divisivo. Apesar dos bons números, a crítica e o próprio público o consideram o mais fraco da trilogia, sobretudo por causa do seu roteiro cheio de reviravoltas pobres. Assim, quando há esse olhar para trás para o legado de Nolan com o Batman, o terceiro longa é sempre citado com um muxoxo, como aquele gostinho amargo de decepção depois de duas histórias muito boas.

Já no meio do caminho há O Espetacular Homem-Aranha, que marcou a estreia de Andrew Garfield no papel de Peter Parker. E aqui há um fenômeno interessante que mostra o quanto revisitar o passado é também dar uma segunda chance e que, às vezes, o saudosismo faz muito bem a certas obras.

No agora longínquo ano de 2012, o filme da Sony também dividiu opiniões por causa das várias mudanças que trouxe à história, sobretudo ao apostar em uma trama que tratava dos pais de Peter como agentes secretos desaparecidos. Era um reboot tão confuso e com decisões tão questionáveis que a sua sequência, lançada dois anos depois, foi o suficiente para enterrar o papel de Garfield.

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Contudo, a estreia de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa no ano passado fez o pessoal revisitar o longa de 2012 com o coração mais aberto e ver o quanto o título foi injustiçado. Assim, em um acontecimento um tanto quanto raro no mundo do entretenimento, O Espetacular Homem-Aranha passou a ser mais amado e, hoje, há um movimento pedindo para que o estúdio faça um novo filme dentro desse universo. O flop virou cult.

Afetados pela nostalgia

Só que o Homem-Aranha não foi o único filme a ser visto com mais carinho por causa da nostalgia. Outro sucesso de 2012 que apanhou muito na época e que, dez anos depois, só ganha elogios é A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2.

A franquia dos vampiros brilhantes sempre foi alvo de piada desde os livros até sua estreia no cinema. Só que eles também foram parte muito importante da infância e adolescência de toda uma geração que, com o devido distanciamento histórico que somente uma década é capaz de oferecer, passa a ver com carinho o triângulo amoroso entre uma humana, um vampiro e um lobisomem.

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É o suficiente para fazer de Crepúsculo um clássico como Vingadores? Longe disso, mas é um apego emocional grande o bastante para manter essa história relevante mesmo depois de tanto tempo — principalmente quando o Robert Pattinson é escolhido para viver o Batman.

De forma semelhante, esse saudosismo adolescente também fez muito bem a Jogos Vorazes, outro dos sucessos de bilheteria de 2012. A diferença é que, no caso, a adaptação dos livros não apanhou tanto do pessoal na internet e o fato de ele se limitar a apenas quatro filmes fez com que ele não se tornasse um fenômeno muito duradouro. Em compensação, foi o suficiente para lançar Jennifer Lawrence ao estrelato e garantir uma sequência da trama depois de tanto tempo.

Apostas furadas

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Só que não foram apenas os clássicos que brilharam em 2012 e muita coisa que chegou naquele ano embalado no hype ficou pelo caminho.E isso inclui algumas apostas muito grandes.

O maior exemplo disso foi o lançamento de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, que era o retorno à Terra-Média depois de dez anos de O Senhor dos Anéis. E tudo isso em um dos livros mais queridos dos fãs de J.R.R. Tolkien e pelas mãos do mesmo Peter Jackson que trouxe a trilogia original. Era uma combinação que não tinha como dar errado.

Só que deu — e muito. O Hobbit era a grande esperança da Warner de emplacar uma nova série depois do fim de todas as suas principais franquias e isso fez com que o estúdio fosse com muita sede ao pote. O resultado foi uma tentativa de tornar a adaptação muito maior do que ela precisava ser e uma enxurrada de críticas.

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Ainda que Uma Jornada Inesperada tenha sido um sucesso de bilheteria, rompendo a barreira do bilhão, a decisão de dividir a história de um livro curto em três filmes complicou o que era simples, revoltou os fãs e não conquistou o público geral. Assim, além de as sequências minguarem em termos de valor arrecadado, a Warner conseguiu macular a memória de muita gente com a Terra-Média — o que esperamos que mude com a chegada de Os Anéis do Poder, série do Prime Video que estreia em setembro.

Outra franquia que deu seus últimos suspiros em 2012 foi Madagascar. A animação dos animais de zoológico teve um início espetacular e isso motivou a Dreamworks a produzir sequências não tão inspiradas assim. Tanto que é muito provável que você nem lembre que Madagascar 3: Os Procurados exista ou que, na melhor das hipóteses, passe a misturar a história com a dos filmes anteriores.

Dez anos depois, esses filmes são lembrados (quando muito) como tentativas frustradas de exaurir propriedades intelectuais muito boas. É a prova de que toda fórmula tem um limite — o que pode ser fundamental quando fizermos esse exercício de retrospecto em 2032.

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As séries em 2012

Já no mundo das séries, voltar dez anos no tempo é encarar um mundo completamente diferente. Afinal, em 2012, os streamings não tinham o peso e a relevância que apresentam hoje e isso implica diretamente no tipo de conteúdo que fazia sucesso entre o público.

Pensando em Brasil, a Netflix ainda estava tateando o mercado há cerca de um ano apenas e eram poucos os consumidores que entendiam o que era essa “locadora digital”, como o serviço era comumente chamado na época. Isso sem falar que as smart TVs não eram tão comuns quanto agora, o que também dificultava o acesso e a popularização.

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E por que isso é importante? Pois esse mundo pré-streaming tinha um perfil de consumo de séries muito diferentes daquele que temos hoje. Em 2012, as principais séries ainda eram aquelas que passavam exclusivamente em canais de TV e que chegavam aqui por TV a cabo, DVD ou nos braços da pirataria.

Isso impacta diretamente no formato das histórias. Estamos falando de temporadas longuíssimas com mais de 20 episódios e quase sempre em um formato procedural, ou seja, o famoso caso da semana.. Tanto que tínhamos uma proliferação enorme de seriados policiais: NCIS, Castle, CSI, Elementary, Blue Bloods, Person of Interest.

Da mesma forma, comédias como The Big Bang Theory e Two and a Half Man eram sucessos absolutos há 10 anos, assim como o fenômeno Modern Family, que apostava nessa estrutura mais seriada para explorar novos formatos e linguagens — não por acaso, era o favorito de qualquer premiação.

E o mais curioso disso tudo é que, apesar de a linguagem das séries ter mudado radicalmente em uma décadas, essas produções seguem sendo muito queridas pelo público e com esse apelo de clássico — não por acaso, volta e meia aparecem entre os conteúdos mais assistidos do streaming. Isso porque o formato episódico cai muito bem na facilidade de serviços como Netflixe HBO Max e esses seriados se tornaram os "companheiros" de quem gosta de deixar a TV ligada passando algo ou ver algo sem compromisso na hora do almoço.

O maior exemplo disso é Grey’s Anatomy. Em 2012, a série médica já estava em sua oitava temporada e a fórmula segue funcionando tão bem a ponto de ela continuar sendo uma das queridinhas dos fãs ainda hoje. É aquela velha história: mil cairão à tua direita, outros mil cairão à tua esquerda, e Meredith Grey vai continuar com seus dramas hospitalares mesmo quando esse tipo de história já não está mais tão na moda.

Ao mesmo tempo, o formato mais contido de séries que temos hoje já começava a dar seus sinais naquela época. Breaking Bad estava no hiato antes da temporada final, enquanto Game of Thrones havia acabado de estrear sua segunda temporada, dando início ao fenômeno que se tornou nos anos seguintes. Contudo, foram produções tão marcantes que, dez anos depois, seguimos ainda falando desses universos com Better Call Saul ou na expectativa por A Casa do Dragão.

Os próximos 10 anos

Como dito, olhar para trás é um exercício. E, se revisitar 2012 mostra como nossos gostos evoluíram e como o próprio mercado se transformou de forma tão radical, imagine como vai ser fazer esse experimento em 2032 e olharmos para o momento que vivemos hoje. Ainda estaremos empolgados com filmes de herói? O MCU vai estar em sua fase 6 ou vai ser o tipo de coisa que vive mais pela nostalgia do que pela novidade? Qual vai ser a próxima moda?

A corrida dos streamings mexeu muito com a oferta de conteúdo e com o modo como consumimos e lidamos com esse material. Então, os rumos desse mercado daqui para frente deve ditar como os filmes e séries vão ser encarados na próxima década. Pode ser que estejamos vivendo uma nova era de ouro repleto de clássicos, mas também pode ser que essa bolha dos serviços vai nos entulhar de coisas que serão esquecidas amanhã.