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Crítica Jungle Cruise | Quando o cartão postal é mais atraente do que a viagem

Por| Editado por Jones Oliveira | 28 de Julho de 2021 às 22h00

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Walt Disney Pictures
Walt Disney Pictures

A Disney encontrou uma verdadeira mina de ouro nessa onda de remakes em live-action dos clássicos animados, tudo começando por Alice no País das Maravilhas, em 2010. Embora tenham mais de 10 releituras dos desenhos incluídas no planejamento, os estúdios optaram por tirar inspiração de outras criações que não necessariamente filmes — bem como aconteceu com Piratas do Caribe, o Walt Disney Studios voltou a olhar para o complexo de parques na Flórida para criar uma história inteira baseada em uma das mais antigas atrações do Magic Kingdom, o Jungle Cruise.

O passeio a barco teve o conceito pensado pelo próprio Walt Disney, em 1955. Na época, o animador vinha de uma onda criativa muito voltada a programas sobre a natureza e animais exóticos. Seu mais recente trabalho na época tinha sido O Leão Africano (disponível no Disney+) e, apaixonado pelo tema, seu desejo era transformar aquilo num verdadeiro show imersivo para o público dos parques. O cruzeiro Jungle Cruise é uma viagem guiada pelas florestas ao redor do mundo, com destaque para a Amazônia, Irrawaddy, Mianmar e os rios Nilo e Congo.

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Pensando dessa forma, Jungle Cruise, protagonizado por Dwayne Johnson e Emily Blunt, pode muito bem ser visto como uma carta de amor a um dos projetos que Walt Disney colocou todo o coração em seus últimos anos de vida. O animador realmente tratou a Disneyland como sua prioridade desde a inauguração na década de 1950 e tinha pelo passeio de barco um carinho especial. No entanto, talvez pelo entusiasmo e margem criativa dada no projeto, o resultado final é um show de CGI cheio de boas intenções.

Atenção! Esse texto pode conter spoilers.

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Diferente de algumas atrações dos parques da Disney, como a Haunted Mansion ou o Hollywood Tower of Terror, o Jungle Cruise não possui um storytelling na visita, o que dá muito espaço para os roteiristas criarem todo um pano de fundo utilizando o contexto já apresentado no cenário do material original. A ideia aqui é justamente trazer um pouco da experiência vivida pelos visitantes do Magic Kingdom para as telas, e isso é bem nítido na primeira cena em que The Rock aparece: utilizando todas as suas visitas aos parques, o ator dá vida ao capitão Frank Wolff como um guia turístico pelo rio Amazonas, num Brasil de 1910.

Contudo, essa atmosfera de férias paradisíacas, repleta de cenários exóticos e paisagens de tirar o fôlego, cai por terra a partir do momento que o filme não sabe onde centralizar seu enredo. São muitos elementos na tela, o que resulta em um dos roteiros mais extensos e complexos já vistos em um filme da Disney.

Jungle Cruise não é necessariamente um filme para o público infantil — e pode anotar, esse ficará perdido se tentar acompanhar tantas informações acumuladas num lugar só, além de imagens que podem ser consideradas sensíveis para crianças de determinada faixa etária, o que é claro, traz pontos para a equipe de figurino e maquiagem.

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Assim como o já citado Piratas do Caribe, o filme introduz o público a uma lenda fictícia que, mais tarde, terá seu desfecho com os protagonistas da trama; sabemos que isso funciona porque já conhecemos essa fórmula de outros projetos, mas o problema aqui é justamente não saber quando trazê-la à tona. Há muita informação jogada por toda parte e um elenco afiado e dedicado aos personagens tentando fazer aquilo acontecer, mas nem mesmo o carisma de Dwayne Johnson, a sensibilidade de Emily Blunt e o humor certeiro de Jack Whitehall conseguem equilibrar uma trama que se vê perdida em meio a tantos detalhes históricos.

É confuso, inclusive, como um filme que bebe tanto da água dos livros de história não teve tempo o suficiente para pesquisar um pouco sobre o Brasil no início do século XX. Apesar do humor contagiante e do deleite visual que apenas o país consegue oferecer, Jungle Cruise esbarra em estereótipos e cai sem o menor cuidado: seja pela impressão antiquada de brasileiros falarem espanhol, pelo visual caricato de indígenas ou pela ideia de que o povo do Brasil é um grupo selvagem que faz refeições na companhia de onças, escorpiões e aranhas.

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Elenco carrega o filme nas costas

É nítido quando um ator se diverte ao interpretar um personagem em tela, e em Jungle Cruise é exatamente essa a impressão que o elenco passa. O destaque, no entanto, vai para McGregor Houghton (Jack Whitehall), irmão de Lily e totalmente o oposto da irmã: um cavalheiro inglês, amedrontado da selva e com um carisma encantador. Não é equivocado dizer que o ator é o principal acerto do filme, que além de ter interpretado o primeiro personagem abertamente homossexual da Disney, ainda serviu como um equilíbro perfeito entre as personalidades fortes e muito teimosas de Lily Houghton e do capitão Frank Wolff.

A dinâmica entre o trio protagonista funciona muito bem, obrigada. Emily Blunt e Dwayne Johnson possuem diálogos afiados, com respostas rápidas e provocativas, irresistíveis de se acompanhar. Enquanto a pesquisadora Lily, de Blunt, é uma figura sonhadora, inteligente, determinada e progressista (que lembra inclusive a jovem Jane Porter de Tarzan, 1999), o capitão Wolff é um rapaz metido à sabichão, forte e que dificilmente cede às suas escolhas, mas ao mesmo tempo, possui bom humor e tiradas fáceis de arrancar risadas do público no cinema.

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É interessante ver como Emily Blunt aproveitou todas as camadas de sua personagem que são exploradas pouco a pouco pelo diretor Jaume Collet-Serra; esse desenvolvimento torna a estudiosa Lily uma personagem divertida de se acompanhar, e que se tivesse sido interpretada por outra atriz, facilmente escorregaria na figura de mulher europeia e burguesa. Infelizmente, não dá pra dizer o mesmo sobre Dwayne Johnson, que apesar de oferecer todo o carisma já tradicional de seus papéis, sofre cada vez mais o typecasting pelo seu biotipo: tudo bem, ele é um cara grande, forte e "indestrutível", mas assisti-lo em Jungle Cruise, em muitos momentos, assemelha-se à experiência de acompanhar Hobbs em Velozes e Furiosos ou Dr. Smolder Bravestone em Jumanji — o perigo do ator cair na repetição inclusive é grande, visto que The Rock e Collet-Serra estão juntos em Adão Negro, o mais novo filme da DC.

Uma viagem cujo cartão postal é mais atraente

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Jungle Cruise é, sem dúvidas, uma experiência divertida e uma boa distração para se ver em família. Como mencionado no começo da crítica, a quantidade de detalhes e informações jogadas na cara do espectador pode tornar a experência dos mais novos confusa — bem como a duração do filme: 2h08min.

Para quem já teve a oportunidade de visitar a atração que dá nome ao filme, o longa pode ser um mar de easter eggs, cujo resultado também denuncia referências de Joe Contra o Vulcão (1989), Peter Pan (1953) e até mesmo Jumanji (1995). O visual é mágico, colorido e vibrante, por mais que às vezes deixe a tecnologia CGI bem escancarada, não é algo que atrapalhe a experiência como um todo.

Jungle Cruise está em cartaz nos cinemas a partir desta quinta-feira (29) e também pode ser visto pelo Premier Access do Disney+ sob a taxa extra de R$69,90.