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Crítica What If…? | O que aconteceria se a Marvel tivesse coragem de ousar?

Por  • Editado por Jones Oliveira | 

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Divulgação/Marvel Studios
Divulgação/Marvel Studios

A ideia de brincar com os personagens do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU, na sigla em inglês) em realidades completamente diferentes daquelas dos filmes sempre foi muito interessante. Era um conceito com muito potencial que podia render histórias e abordagens novas e bastante criativas. Era a oportunidade de se descolar da cronologia para subverter tudo aquilo que a gente já conhecia dos heróis, assim como os quadrinhos já fizeram por tantas vezes. Só que, para isso, é preciso de um tanto de criatividade e coragem, o que faltou bastante em What If…?.

A animação do Marvel Studios parte de uma ótima ideia, mas parece não saber direito o que fazer com isso e comete o único grande erro que deveria evitar: fica a todo momento preso aos filmes e girando em torno de histórias que a gente já conhece. Se a ideia é se manter fiel ao que o MCU já apresentou, qual o sentido em explorar as possibilidades do multiverso?

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Esse era um risco que se desenhou já no primeiro episódio. Em nossa crítica da abertura da série, pontuamos justamente que a história da Capitã Carter soava um remake pouco inspirado de Capitão América: O Primeiro Vingador e que as consequências da mudança, que era a parte realmente interessante da brincadeira, ficaram de fora da história. E esse foi um erro que se repetiu ao longo de toda a temporada, com uma ou outra exceção.

Assim, o que deveria ser um grande playground para que os roteiristas extrapolassem os limites narrativos que o MCU já mostrou se revelou um cercadinho de ideias não tão inventivas assim e que parece ter medo de ousar demais.

De trás pra frente

Com o término da temporada, a impressão que fica é que o Marvel Studios construiu What If…? de trás pra frente. Ao vermos o último episódio, fica nítido que a ideia sempre foi ter uma equipe formada por personagens vindos de diferentes cantos do multiverso para enfrentar uma grande ameaça que colocasse todas as realidades em risco. Então por que não explorar justamente esse conceito?

Assim como boa parte dos episódios pareceram ser o prólogo de uma história que era muito mais interessante do que a mostrada em tela, o modo como a animação foi desenvolvida também dá a sensação de ser um enorme preparativo para esse capítulo final. O problema é que usar toda uma temporada para isso é completamente sem propósito.

É claro que todos esses personagens precisam de contexto. Só que, justamente por What If…? se manter tão preso ao status quo que a gente já conhece do MCU, não há necessidade de usar oito episódios para isso. O que há de diferente naquele Killmonger em relação ao de Pantera Negra que justifique todo um episódio para ele? O Thor idiota é tão profundo assim que não pudesse ser compreendido em duas linhas de diálogo?

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Caso a animação tivesse tido coragem de subverter seus personagens e explorado ideias realmente ousadas, o formato seria totalmente compreensível. Se a série tivesse seguido por um caminho como o adotado nas histórias do Doutor Estranho Sombrio ou do T’Challa Senhor das Estrelas, faria sentido criar essa apresentação individual para cada um dos heróis — não por acaso, eles são a melhor coisa do seriado —, só que não é isso o que acontece.

No geral, What If…? apenas reciclou os personagens e alterou um ou outro elemento em sua origem, o que fez com que a maior parte da série fosse redundante à cronologia principal. A falta de coragem do Marvel Studios de se descolar dos filmes esvaziou completamente uma excelente ideia.

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Potencial jogado fora

O pior é pensar que bastaria mudar a estrutura dos episódios para que a mesma história pudesse ser contada de uma forma muito mais interessante. Nos quadrinhos, a Marvel já brincou de várias maneiras com seu multiverso, incluindo formando equipes para viajar por entre realidades.

O gibi Exilados é o maior exemplo disso e poderia ser a grande inspiração para What If…?: versões diferentes de personagens conhecidos são tirados de seus mundos e precisam viajar pelo multiverso para resolver algum problema. E é entre uma viagem e outra que suas histórias são desenvolvidas e o passado de cada um é aprofundado.

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Assim, seria muito mais interessante para a série ver a dinâmica desse grupo atuando em conjunto ao mesmo tempo em que explora as particularidades de cada um. Sob essa lógica, até o episódio dos zumbis poderia ser muito mais interessante do que apenas colocar os heróis se devorando por aí.

Aliás, What If…? aproveita tão mal todas as ideias que até mesmo aquilo que ela apresenta acaba sendo subutilizado. Se a ideia era fazer com que cada episódio fosse uma prévia de seus personagens, para o que serviu a realidade dos mortos-vivos? Criar uma ceninha de dois segundos com a Feiticeira Escarlate e o Visão? Onde está o Homem-Aranha?

No fim, a série que chegou como uma enorme promessa termina com aquele gostinho amargo de ter sido uma enorme decepção. Com exceção de um ou outro episódio realmente marcante, todo o resto é esquecível pelo simples fato de cair em um mais do mesmo que contraria toda a proposta da animação.

Talvez, os fãs de uma outra realidade tenham tido mais sorte que a gente.

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What If...? está disponível no catálogo do Disney+ para todos os assinantes.