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Crítica | Top Gun: Ases Indomáveis é um dos maiores clássicos populares

Por| 16 de Julho de 2020 às 10h11

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Paramount Pictures
Paramount Pictures

Top Gun: Ases Indomáveis (disponível na Netflix) foi a origem de uma das críticas de cinema mais famosas já escritas, em um dos raros casos em que um texto posterior acabaria se tornando célebre. Claro que não tanto quanto o filme, que, para além de ter sido assistido como um hino à masculinidade pela maior parte do público, havia alçado Tom Cruise ao estrelato. O romance entre Maverick (Cruise) e Charlie (Kelly McGillis), que era adornado pela canção Take My Breath Away, era um segundo plano ideal para aquele momento; uma subtrama heterossexual romântica era, afinal, utilitarista nos anos 1980 – uma década cheia de brucutus. O casal do ano 1986 era, então, Maverick e Charlie (um nome um tanto quanto ambíguo).

Não demorou para a crítica Pauline Kael – das maiores de qualquer tempo – escrever que o filme, dirigido por Tony Scott (de Déjà Vu – filme de 2006), era um “radiante comercial homoerótico”. O texto, que logo se tornou muito popular, parecia desafiar uma das verdades sobre a crítica, algo que Anton Ego (o crítico culinário da animação Ratatouille – de Brad Bird e Jan Pinkava, 2007) comenta em seu discurso final: "A dura realidade que nós, críticos, devemos encarar é que, no quadro geral, a mais simples porcaria talvez seja mais significativa do que a nossa crítica".

Cuidado! A partir daqui o texto pode conter spoilers.

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A direção velada

Mas Kael, por mais que suas palavras não sejam tão significativas quanto a obra que comentava, levantou questões pertinentes. Assistir a Top Gun: Ases Indomáveis hoje, mais de três décadas após o seu lançamento, pode descortinar e deixar bem mais exposta a sua visão. Algumas cenas podem deixar a percepção da crítica ainda mais clara, como quando alguns personagens, enrolados em suas toalhas (ou somente com roupas de baixo), tocam-se com uma suposta naturalidade e, igualmente, na tensão sexual entre a personagem de Cruise e Iceman (Val Kilmer) – com ambos protagonizando diálogo com os rostos separados pela distância de um palmo.

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E não foi somente a crítica do The New Yorker que comentou a respeito. Em Vem Dormir Comigo (de Rory Kelly, 1994), por exemplo, o personagem Sid (interpretado por ninguém menos que Quentin Tarantino) reflete sobre o conflito sexual enfrentado por Maverick, que fica entre o desejo por Iceman e uma paixão por Charlie. Nesse sentido, Scott parece não preferir esclarecer muito, mantendo sugestivamente essas questões em uma espécie de direção velada – porém explicita em sua relação semiótica.

Ao mesmo tempo em que a primeira camada do filme é simplória, de fácil assimilação, existem subtextos que podem ser levados em consideração ou não. Essas camadas podem transformar um filme aparentemente bobo em algo a ser descoberto aos poucos, no que é um trabalho de direção inteligente: mantém-se a história limpa e transparente e, por meio da intercalação de planos e do resultado final da decupagem, ficam sugeridas interpretações.

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Tão grande e tão pequeno

Rever Top Gun: Ases Indomáveis, no final das contas, pode ser um exercício nostálgico dos mais divertidos. Primeiro pela história de certa forma instigante e fácil de acompanhar; e segundo porque se trata de um dos filmes que consolidaram clichês – tanto dramatúrgicos quanto visuais – que são muito presentes mesmo tantos anos depois. Isso, por sua vez, cede um caráter muito familiar e atual às quase duas horas de duração. A velocidade como elemento másculo (o que viria a ser derrubado em grande escala pela franquia Velozes & Furiosos) e a estética teal & orange (com o frequente contraste entre azul e laranja) carregam um potencial quase publicitário de uma produção que nasceu fadada a se tornar um clássico popular.

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Não é à toa que as vendas dos óculos aviador subiram quase 50% após o lançamento do filme, a Marinha dos EUA relatou um forte crescimento do alistamento militar e a citada música Take My Breath Away, pela banda Berlin, ficou mais de um mês em primeiro lugar no país. Seja de quem for o fôlego a ser tirado, tanto a crítica de Kael quanto essa (escrita décadas depois do lançamento) continuam insignificantes frente ao filme. Mas, ao contrário de Ego, não vejo como uma realidade dura; são os ossos do ofício de lidar com algo tão grande tendo a consciência de ser um ser humano – consequentemente, tão pequeno.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech