Crítica | Loucura de Amor sai da zona de conforto e surpreende pelo mais simples
Por Beatriz Vaccari • Editado por Jones Oliveira |
É muito difícil um filme de romance conseguir inovar e destacar-se entre tantos títulos uma vez que o próprio gênero já experimentou de tudo. Mesmo com tantas novidades, é raro nomes novos conseguirem ocupar um pouquinho do espaço dos clássicos no coração dos fãs, mas não é equivocado dizer que a Netflix chegou bem perto disso com Loucura de Amor (Loco por Ella, em sua linguagem original).
O mais novo longa-metragem do streaming não vem com a proposta de ser uma comédia romântica, como tem mostrado suas recentes apostas como Amor² ou Amor com Data Marcada. Loucura de Amor, por outro lado, traz um enredo emocionante e questões necessárias, cujo romance entre o casal principal fica na maior parte do tempo em segundo plano enquanto outras histórias se resolvem na tela — e isso está longe de ser ruim.
- Crítica | Amor² não tem nem amor, quem dirá ao quadrado
- Crítica | Amor com Data Marcada limita-se a agradar os fãs de comédia romântica
- Os lançamentos da Netflix em março de 2021
Atenção! A partir daqui o texto pode conter spoilers sobre o filme. Leia por sua conta e risco.
Filmes que trazem enfermidades em seu enredo normalmente causam uma única impressão no espectador mesmo antes de apertar o play: o final será triste. Isso porque é esperado que em algum momento da história um dos personagens fique muito doente, ou já esteja adoecido quando o longa começa. Na maioria dos casos (principalmente tratando-se de filmes de romance) a doença acaba interrompendo a vida do casal principal, seja por uma eventual morte, separação ou um efeito colateral que impeça os protagonistas de ficarem juntos como em Diário de uma Paixão ou Para Sempre.
Doenças podem causar muita tragédia e isso não há dúvidas, mas em Loucura de Amor, curiosamente, é o distúrbio que acaba juntando os protagonistas. Claro que isso pode soar como se o filme tivesse romantizado algo que cause dor em milhares de pessoas ao redor do mundo, mas longe disso. No longa de Dani de la Orden (Elite) para a Netflix, a saúde e os distúrbios mentais humanos são trazidos como pauta e explorados com delicadeza e toda a atenção que os assuntos merecem, sem fugir de toda a emoção que um filme de romance pode proporcionar.
Loucura de Amor inicia de forma afobada, num bar noturno movimentado que Adri (Álvaro Cervantes) aposta com os amigos que conseguirá fazer qualquer garota que esteja no local a sair com ele. Cheio de si, o protagonista vai em busca de sua vitória, mas logo é interrompido pela agitada Carla (Susana Abaitua), que o escolhe para viver uma noite de muita loucura. Juntos, o casal recém-conhecido entra de penetra em um casamento e participa da festa como convidados, dividindo uma noite divertida, mas que logo tem fim quando a misteriosa garota vai embora.
Não demora muito para Adri perder a pose de garanhão e não parar de pensar na madrugada insana que dividiu com Carla e ir atrás dela. Quando ele descobre que ela, na verdade, é paciente de um centro psiquiátrico, a primeira coisa que o protagonista pensa é em se internar no local para conhecer melhor a garota. Por mais que a atitude possa parecer simples de ser resolvida, a recepção de Carla não é a das melhores, e logo Adri decide cancelar sua internação e voltar para sua vida normal — mas obviamente, ele não consegue.
Nada feliz com a nova companhia, Carla passa a evitar constantemente a presença de Adri no centro, que por sua vez decide fazer o que for necessário para escapar da cilada que ele mesmo se colocou: para isso, ele resolve fazer amizade com outros pacientes, de uma forma que, se receber muitos votos positivos, receberá logo sua alta. Mas o que Adri não esperava é que se envolveria muito mais com cada uma das histórias que habitam naqueles corredores, e é dando esse espaço para questões coadjuvantes, mas de extrema importância, que Loucura de Amor se destaca entre os títulos de seu gênero.
Ao longo da história, é possível notar o cuidado e o respeito que de la Orden tratou cada um dos distúrbios mentais apresentados no filme. Explorando questões mentais e emocionais como a síndrome de Tourette, a bipolaridade ou outras síndromes obsessivo-compulsivas, Loucura de Amor procura sensibilizar comportamentos e limitações que têm pouco ou nenhum espaço aberto para discussão atualmente e acabam caindo no limbo de "bizarro" e sendo alvos de risadas e piadas.
Embora possa parecer muito arriscado para um filme com pouco menos de duas horas abordar tantas coisas em sua história, Loucura de Amor não perde o ritmo uma única vez e lida muito bem com a quantidade e a ordem de informações que joga na tela. Como falando anteriormente, o relacionamento de Carla e Adri fica em stand by enquanto o protagonista conquista a confiança e conhece com mais cuidado cada um dos outros pacientes com quem convive sob o mesmo teto, dando espaço para histórias e arcos que prometem arrancar lágrimas de alegria e de tristeza do espectador.
Cada um dos personagens possui tempo suficiente de tela para conquistar o carisma do público sem pressa de resolverem suas histórias. A narrativa flui de forma leve, mesmo tratando de assuntos tão delicados, e logo é compreensível o fato de Loucura de Amor estar há quase uma semana no Top 10 de conteúdos mais assistidos na Netflix Brasil.
É claro que, como todo fim de filme de romance, o espectador poderá conferir a famosa cena de beijo em público, cheia de declarações de amor e lágrimas, mas até mesmo nos clichês Loucura de Amor consegue se sustentar sem parecer banal ou estragar a experiência. Com uma proposta totalmente diferente, necessária e com o romance dosado nas medidas certas, a sessão é válida de adolescentes para adultos; e é claro, com os lencinhos ao lado.
Loucura de Amor está disponível na Netflix.