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Crítica | Amor² não tem nem amor, quem dirá ao quadrado

Por| 18 de Fevereiro de 2021 às 22h00

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Comédias românticas são conhecidas por geralmente serem bastante clichês, o que não ouso condenar, sobretudo como fã de terror, um gênero que também é repleto dos próprios clichês. Alguns filmes, no entanto, abusam da nossa paciência no uso desses clichês e Amor² vai ainda além, reproduzindo muito mal o que já era óbvio e conseguindo piorar ainda mais o que, apenas pelo roteiro, já era bastante ruim.

O novo filme da Netflix ainda traz para o centro da trama um casal completamente sem química e que nem sequer faz sentido dentro do universo proposto pela trama. De um lado, ela é uma mistura estranha de Betty, a feia, com Clark Kent, enquanto ele é uma espécie de versão gigolô do Christian Grey.

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Na atuação, Adrianna Chlebicka está bastante bem e até consegue elevar um pouco Monika. Como Klaudia, a atriz já não se sai tão bem, mas isso provavelmente se deve a criação de uma personagem artificial demais até para uma Barbie. Do outro lado da dupla, Mateusz Banasiuk é um verdadeiro canastrão como Enzo.

Atenção! A partir daqui a crítica pode conter spoilers.

Amor?

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Tenho para mim que não são bons os filmes sobre amor que não nos deixam minimamente aflitos e receosos, afinal amar é sempre um ato complexo e que guarda, em iguais partes, doses de alegria e tristeza de todos os tamanhos. Os romances, no entanto, não são necessariamente filmes sobre amor, ainda que tragam relações amorosas para o centro das suas tramas. A comédia romântica é o subgênero que traz o humor para dentro deste contexto e, apesar de haver muitos preconceitos com o gênero, é preciso notar o quão difícil é fazer um ótimo filme desses.

Amor² falha terrivelmente em todas as camadas: não consegue formular algo consistente sobre amor, não faz um bom romance e nem sequer a comédia funciona. Claro que precisamos questionar também nossa posição como espectadores, uma vez que é provável que tenhamos perdido algumas piadas pelo nosso senso de humor, bastante diferente do humor polonês, sem contar o que se perde na tradução. Por outro lado, se o filme está no nosso catálogo, significa que podemos vê-lo e ponto final. É questionável, inclusive, a exportação desse filme, o que me faz pensar se, em algum catálogo de streaming do mundo, estamos exibindo Cinderela Baiana para que conheçam o “cinema brasileiro”.

Além das discussões sobre o gênero, Amor² conta com a péssima direção de Filip Zylber, aparentemente muito interessado em instituir estereótipos e explorar a beleza estereotipada dos personagens. Em uma das sequências do início do filme, quando Enzo “dá carona” para uma mulher (aleatória?) que encontra na rua, o desconforto da atriz com o cabelo solto em um carro conversível transborda como se estivesse escancarando uma direção que se preocupa muito mais com a estética do que com a ética.

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Isso fica ainda mais óbvio com o roteiro, já que o nosso Christian Gray falsificado é uma fusão dos clichês de personagens incrivelmente machistas, reproduzindo mais uma vez a já retrógrada e entediante história do mulherengo que vira o príncipe encantado quando conhece a moça certa, que, claro, é o oposto dele. O que o filme não leva em conta, é que já não acreditamos mais nos príncipes encantados de antigamente e tampouco acreditamos na conversão instantânea do babaca em moço de bem. Ou acreditamos, já que o filme alcançou o Top 3 da Netflix?

O que dá para salvar?

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Monika. Felizmente, o núcleo focado na vida de Monika é bastante mais interessante, com uma história que, se desenvolvida, provavelmente renderia um filme melhor que o romance. Enquanto Monika, a personagem enfrenta problemas institucionais como professora de Ensino Fundamental. Pressionada pelo diretor da escola e incompreendida pelas colegas, Monika é uma professora exemplar e sua função, ao final, é demonstrar que educação é muito mais do que apenas notas e que um tratamento humanitário das crianças ajuda em seu rendimento escolar.

O humor nesses trechos parece mais óbvio, mas ainda assim deve soar apenas como bobo para muitos espectadores. O que realmente é engraçado, pelo menos para mim, é que este filme soa como uma espécie de trash das comédias românticas. Até mesmo as péssimas atuações são dignas de filmes B. Apesar disso, Amor² não cativa o suficiente para merecer entrar para a lista dos “filmes ruins que são bons”.

Isso acontece, em grande parte, porque, em nenhum momento do processo de pré-produção e/ou produção, alguém percebeu que os atores não eram bons o suficiente para dar conta da dubiedade de algumas linhas do roteiro. Em muitos momentos, é difícil entender se o personagem foi sincero ou irônico, brincalhão ou grosseiro, por exemplo, cabendo ao espectador decidir o tom das falas. Funcionaria em algum filme cult, mas não funciona aqui.

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É provável que, apesar do sucesso na plataforma, muitas pessoas comentem que a própria Netflix não lança bons filmes. Há filmes incríveis no catálogo. Filmes realmente excelentes. Será que não é um momento de refletirmos sobre nós, o público? Como que uma comédia romântica polonesa de baixíssima qualidade conseguiu fisgar um público tão grande. Além de Monika, a reflexão pós-filme é um bom legado para uma experiência tão insípida quanto assistir Amor².

Amor² está no catálogo da Netflix.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.