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Crítica Alerta Vermelho | Carisma demais, história de menos

Por| Editado por Jones Oliveira | 16 de Novembro de 2021 às 20h30

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O que acontece quando você reúne três dos atores mais carismáticos de Hollywood em um único filme? A princípio, parece realmente uma boa ideia e a oportunidade de transformar o longa em uma verdadeira máquina de imprimir dinheiro. Contudo, não há bênção que também não possa se tornar em maldição, principalmente quando o nome desses astros se torna maior do que a história que eles querem contar — e é desse mal que Alerta Vermelho sofre.

Com Dwayne Johnson, Ryan Reynolds e Gal Gadot no elenco principal, o novo longa da Netflix não esconde a pretensão de ser uma megaprodução. E nem economiza para isso, pois ele já é considerado a obra mais cara feita pelo streaming. São três artistas muito populares, adorados pelo público e que arrebanham fãs para qualquer coisa que eles façam. É uma aposta que não tem como dar errado.

Só que há um pequeno porém nisso tudo. Ao mesmo tempo em que Alerta Vermelho se apoia no carisma de seus protagonistas, ele também é inteiramente ofuscado por isso. Não que o filme não seja divertido ou que seu elenco esteja ruim — muito pelo contrário. Só que o resultado é que o longa se torna muito menor do que se propõe a ser.

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Mais uma vez, Alerta Vermelho não é um filme ruim. Ele entrega tudo aquilo que a Netflix pretendia quando trouxe um elenco tão forte quanto esse. O longa é inteiramente baseado no carisma de seus protagonistas, o que deixa tudo muito divertido. O trio está ótimo, com uma excelente química e boas piadas. Sabe aquele filme leve e engraçadinho que você vê perfeitamente passando na TV em um domingo à tarde? Pois o clima é justamente esse, para o bem e para o mal.

O grande ponto é que ninguém ali soa como o personagem que o roteiro tenta vender. Como dito, são nomes tão grandes que eles se sobrepõem à história que está sendo contada e isso impacta de forma direta no modo como a trama se desenvolve. Apesar de toda a tentativa de criar grandes motivações para que o agente do FBI John Hartley (Johnson) lute contra seus próprios princípios e trabalhe com um criminoso, tudo se resume no fim à velha persona de The Rock como o policial brutamontes que precisa trabalhar com um parceiro improvável.

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O mesmo acontece com Reynolds, que é basicamente uma metralhadora de piadas e comentários engraçadinhos. Ainda que o filme tente criar um pano de fundo para justificar como ele se tornou um grande ladrão de artes, tudo se resume àquilo que o ator sempre faz em seus filmes, de Deadpool a Free Guy. Há até mesmo brincadeiras quebrando a quarta parede.

Esses dois exemplos são claros para mostrar como Alerta Vermelho parece não conseguir conter seus astros e dar a eles novos rostos — ou seja, fazer com que encarnem aqueles personagens. A impressão que fica é que o diretor Rawson Marshall Thurber se sente intimidado diante de nomes tão grandes e, com isso, apenas os deixa livres para fazerem o que quiserem — ou que o implacável algoritmo da Netflix construiu um roteiro só com base naquilo que funcionou na carreira desses atores.

O problema disso é que não temos o agente Hartley e nem o ladrão Nolan Booth, mas apenas Dwayne Johnson e Ryan Reynold em cena. Com Gal Gadot, isso é ainda mais sintomático, já que a sua personagem mal tem um nome, sendo chamada apenas de O Bispo ao longo de todo o roteiro. Assim, como o longa termina com um gancho, é bem possível que tenhamos uma sequência em que sequer sabemos como uma de suas protagonistas se chama. Isso porque, no fim das contas, isso não importa. Gadot é maior do que a ladra que interpreta e é isso aí.

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É claro que há um lado positivo nessa zona de conforto da qual os atores não saem em momento algum. Como eles basicamente não estão atuando, tudo soa natural e você percebe como todos estão se divertindo com essa caça ao tesouro, o que ajuda a fazer com que tudo fique ainda mais leve.

Ao mesmo tempo, todo mundo está tão solto que fica claro como eles entram em um modo de piloto automático. Não há nada que difira esse agente que busca recuperar sua honra daquilo que The Rock apresentou em Jumanji, Um Espião e Meio ou mesmo em Jungle Cruise. O mesmo acontece com Reynolds em um nível que não seria de se estranhar caso, em algum momento, ele colocasse a máscara do Deadpool e fizesse piadas com super-heróis.

Há quem possa argumentar que é isso o que os fãs desses atores querem ver, já que a carreira deles foi inteiramente baseada nessas personas. Só que se apoiar apenas e unicamente nesse carisma empobrece demais o roteiro, pois tudo se torna previsível e vazio. Por mais que seja interessante ver a química dos atores e rir dos diálogos e das piadas — que são boas de verdade —, não há como se engajar com a história e seus personagens pelo simples fato de não existir personagens ali.

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A grande mágica do cinema é nos fazer acreditar naquele mundo à nossa frente, em que a tela é justamente uma janela para essa outra realidade. Isso é algo que vem desde a origem da mídia, com o trem dos Irmãos Lumiére. E quando Alerta Vermelho deixa seus astros serem maiores do que o próprio filme, ele simplesmente anula essa mística.

Por mais que a gente goste de seu trio de protagonistas e seja divertido vê-los juntos, estamos apenas vendo os três atores fazendo aquilo que eles sempre fazem, sem nada de novo ou que os faça ir além do feijão com arroz que tanto conhecemos. De novo: é como se todos estivessem no modo automático, o que é um enorme desperdício para nomes dessa magnitude.

No fim, Alerta Vermelho é realmente aquele filme de domingo à tarde, que você assiste para passar o tempo logo depois do almoço. Ele garante algumas risadas, você não precisa prestar muita atenção na história e que vai esquecer tudo logo depois, quando o futebol começar na TV.

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Alerta Vermelho está disponível para todos os assinantes da Netflix.