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Crítica | Jumanji: Próxima Fase cai de pé e é um entretenimento sincero

Por| 17 de Janeiro de 2020 às 20h41

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Sony Pictures Entertainment
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É interessante quando a produção de um filme entende o seu lugar. Cada função parece fluir com mais leveza e, consequentemente, as ideias passam a se encaixar melhor. Nesse sentido, perceber como Jumanji: Bem-Vindo à Selva e, agora, Jumanji: Próxima Fase são filmes que flertam com essa fluidez baseada em um todo muito coeso pode ser fundamental para que se entenda sobre limites. Isso porque o roteiro de Jake Kasdan (que também dirige o filme), Jeff Pinkner e Scott Rosenberg (ambos sobreviventes do anterior) contém-se em expor situações sem buscar se aprofundar. Seria um péssimo sinal caso estivéssemos dizendo isso de um filme que claramente procurasse mais camadas.

A verdade é que Jumanji: Próxima Fase está pouco se importando com a problemática dramática das situações e muito mais focado no entretenimento que, justamente, a falta dessa problemática pode ocasionar.

Cuidado! A crítica pode conter spoilers!

O olhar intenso para as atuações

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Dessa forma, o primeiro ponto desejado pelo trio de roteiristas é a construção necessária de algum tipo de ligação emocional dos seus personagens para com o público. Aqui, a escolha do elenco é tão precisa que somente a primeira aparição de Danny DeVito já é suficiente para que sua personagem (Eddie) crie laços quase fraternais com o espectador. O tratamento dado a Eddie é, inclusive, cativante: ele é lançado como um velhinho arteiro e, pouco mais à frente, como um avô interessado em ajudar na intimidade do neto (sem deixar de ser traquina).

Ainda, a participação rápida de Danny Glover (Milo) é tão eficiente que, a partir do segundo ato, é a matéria-prima para o desenvolvimento de Mouse (Kevin Hart). O humor que parte da imitação gerada por Milo no corpo de Mouse é hábil tanto como prova da competência de Hart (como se fosse necessária) quanto como motor da história. Cada peça no tabuleiro de Jumanji, a esse ponto, é movida (ou não) pelas palavras que saem bem explicadas e lentamente da boca do zoólogo.

Jack Black, ademais, além de ser preciso em sua imitação de atleta adolescente, quando precisa desenvolver-se como Bethany, ele não somente assume a personagem de Madison Iseman como rouba o filme para si. Algo parecido acontece quando Dwayne Johnson, com seu Dr. Bravestone incorporado por Eddie, redescobre o olhar intenso. Para mais, Awkwafina (a Ming) é tão carismática que sua presença, mesmo ao lado dos já medalhões do elenco, é um acréscimo considerável.

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Dando voz ao seu gamer interior

Além disso, é tudo tão bem estruturado e, ao mesmo tempo, leve, que os personagens sem a consciência humana dos jogadores (multiplicados em relação ao antecessor de 2017) assumem as suas participações como uma comédia que beira o pastelão. Flame (Dania Ramirez), por exemplo, é de uma sensualidade visivelmente programada e, de quebra, Canivete (Massi Furlan) é de uma brutalidade inverossímil típica de um vilão com cabresto – sem qualquer chance de se desviar do seu foco perverso.

Tudo – absolutamente tudo – é desenvolvido com a função principal de gerar um universo plausível em si mesmo. As atuações, o texto (e as piadas dele), os efeitos visuais que contribuem para o resultado e nunca estão ali como mero artifício... todo o conjunto faz parte de algo maior, da proposta de Kasdan enquanto diretor em fazer desses filmes algo, de fato, funcional. Por esse lado, perceber que até mesmo os comentários bobos dos personagens podem soar como uma ferramenta quase metalinguística é divertido. É como se, ao descobrirem o que seus novos pontos fortes podem fazer e confessarem essas descobertas em voz alta, estivessem dando voz a um gamer que, jogando com suas amizades – comenta o mesmo em voz alta.

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Um entretenimento sincero

Assim, Jumanji: Próxima Fase é tão consciente de si que, por mais que seja uma espécie de mais do mesmo em relação ao seu antecessor, ele cai de pé por o ser confessadamente desde o título. Trata-se, no final das contas, justamente de uma nova fase do mesmo jogo. Ou melhor: o título original refere-se a level. Dito isso, é a mesma história (ou quase isso), os mesmos personagens (ou quase isso) com um acréscimo de dificuldade para os jogadores. Estes que, sendo os mesmos (ou quase isso), agem de maneira semelhante, mas com aquilo que aprenderam na fase – no level na verdade – anterior.

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No final das contas, Jumanji: Próxima Fase é um dos poucos filmes que conseguem aliar cinema e game de um jeito orgânico. Isso porque ele se escora na união dos dois e não na transformação de um no outro. É cinema com coração de game, mas continua sendo cinema. Claro, pode ser que permaneça em uma zona de conforto ao não mover as peças em direção a uma interação direta com o público, mas, de todo modo, diverte e acaba por ser um entretenimento sincero.