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Rivais de Uber e 99, apps de corridas encaram gasolina alta e mercado concorrido

Por| Editado por Claudio Yuge | 05 de Outubro de 2021 às 19h30

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Reprodução: Dan Gold/Unsplash
Reprodução: Dan Gold/Unsplash

Os motoristas particulares de Uber e 99 têm feito uma reflexão maior sobre o seu lucro nesses aplicativos após a alta dos combustíveis. Para muitos deles, deixou de valer a pena. Vimos nas últimas semanas relatos de motoristas deixando a plataforma ou corridas sendo canceladas nos apps. Talvez este seja um bom momento para motoristas e o público olharem com mais atenção a outras plataformas de transporte particular espalhadas pelo Brasil, ainda que este mercado já demonstre uma consolidação de seus líderes.

Após o aumento de preços do combustível, muitas pessoas têm contado nas redes sociais as dificuldades para obter uma corrida na 99 e Uber. A Associação dos Motoristas de Aplicativos de São Paulo (Amasp) disse ao G1 que cerca de 25% da frota paulistana de motoristas desistiu do setor. Além disso, muitos motoristas que ainda permanecem ficaram mais seletivos e passaram a cancelar pedidos de corridas que consideram mais rentáveis. Por exemplo, recusam trabalhos para regiões mais próximas ou em áreas onde há engarrafamento.

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Os aplicativos responderam a essa crise com um reajuste no repasse do dinheiro da corrida aos motoristas. No Uber, pode chegar agora a 35%, e na 99, de 10% a 25%. Além disso, a brasileira mexeu no preço final dos trajetos, que ficou entre 10% e 25% em mais de 20 regiões metropolitanas. Em outra frente, houve expulsão de motoristas que cancelaram corridas demais nos últimos tempos — fala-se em mais de 15 mil retirados da Uber em setembro.

Segundo dados da plataforma Statista, a norte-americana Uber tem 71% de mercado no país, seguido da brasileira 99 (que pertence à chinesa Didi) com 21%. Todas as demais ocupam apenas 8%. Então quais são as armas de rivais e alternativas de transporte, como InDriver, Lady Driver, apps de carona compartilhada como Waze Carpool e Blablacar, e até apps menores que operam no interior do Brasil têm à mão para manter-se neste jogo, e ainda lidando com os mesmos problemas externos como o combustível alto e a crise econômica?

Para o público e o motorista, as vantagens de cada app podem variar. A Lady Driver, por exemplo, só aceita mulheres, tanto condutoras quanto passageiras, pois foca na segurança do público feminino. A Waze Carpool é, na verdade, um "match" entre motoristas que queiram disponibilizar seu carro para caronas e os caroneiros, com valores negociáveis para cobrir despesas do veículo. A russa InDriver também é adepta da negociação direta entre passageiros e motoristas, sem intermediários — e por conta do preço da gasolina, retirou momentaneamente a taxa cobrada dos seus motoristas em algumas cidades.

"A gente fez um estudo de mercado para ver os locais que mais sofreram. O aumento do combustível de fato impactou todo mundo", diz Anastasia Vilas Boas, gerente de operações do InDriver, que atua em 145 cidades. Já a Lady Driver, que neste ano está expandindo para 80 municípios, acredita que suas taxas e o modelo de corrida agendada são seus trunfos. "A gente cobra apenas 25% da corrida, então as motoristas já aderem naturalmente porque sabem que vale mais a pena pelo lado financeiro. Além disso, nas corridas agendadas elas não precisam ficar rodando com o carro o dia inteiro pela cidade, já têm as agendas prontas", diz Gabryella Corrêa, CEO da empresa.

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Douglas Tokuno, diretor de Waze Carpool para a América Latina, aponta para a desvalorização do cuidado com os veículos no contexto atual. Antes o app estabelecia preços fixos para remunerar os motoristas, mas com os custos para manutenção aumentando — além da gasolina, outras despesas cresceram, como pedágios — passou a liberar a negociação de valores entre condutor e passageiro. "O preço tem que ser uma sugestão, mas que o usuário tenha o controle. Claro, temos limites para não extrapolar, e se o preço aumenta muito, diminui-se muito as chances do público pagar por ele", argumenta.

Os apps regionais de transporte, por sua vez, podem se fortalecer em praças onde Uber e 99 ainda não chegaram ou têm atuação menor, embora seja uma tarefa difícil dado o gigantismo de Uber e 99. A primeira está em mais de 100 cidades, mas a segunda, talvez por ter herdado a base de usuários da 99 Táxis, atua em mais de 1.090 municípios do país. Ainda assim, plataformas como Mova (Pernambuco e Bahia), VaidQ (Rio de Janeiro e Espírito Santo), Bora Cariri e Servos (Ceará) e Urbano Norte (Rondônia e outros estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste) tentam criar sua própria base de clientes, mas ainda são iniciativas modestas. Nos comentários das lojas de apps, as pessoas trazem reclamações familiares: dificuldade para achar carros disponíveis, problemas técnicos ou incoerências de preço, mas também recebem elogios e com muitas notas 5, a máxima permitida.

O Mova foi criado em 2018 como uma resposta a uma deficiência da Uber, que, segundo os empreendedores, não dava o devido suporte ao motorista e cobrava taxas elevadas. Hoje o app nordestino cobra apenas 10% do condutor, além de ter um suporte local e disponibilizar a categoria de mototaxistas, bastante comum em cidades do interior brasileiro.

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Para o CEO, Diogo Portella, o cenário já foi mais favorável para os aplicativos locais há três anos. "O tom de pioneirismo, revolta e condição dos motoristas fazia as coisas acontecerem em cidades que as internacionais atuam. Hoje é briga difícil de vencer. O derrame de dinheiro é muito pesado, e isso alinhado ao imediatismo do motorista, que vive apertado com a desvalorização do seu trabalho e dinheiro, é barreira pra apps menores não vingarem nas cidades que Uber e 99 tomam conta", lamenta.

Como será o amanhã?

Mauro Zilbovicius, professor sênior de engenharia de produção e especialista em mobilidade da Poli-USP, acredita que está muito difícil para a concorrência nos apps de transporte — e uma prova disso foi a desistência da Cabify do mercado brasileiro neste ano. "Como as viagens diminuíram como um todo, a fatia deles [para cada app] diminuiu também. Nenhum outro player consegue ter a dimensão desses dois [Uber e 99]. Isso não é um problema de tecnologia, mas é preciso ganhar escala logo, e foi isso que eles conseguiram primeiro. Você pode dizer que o mesmo motorista dirige para vários apps, mas ele ainda será mais chamado pela Uber e 99", explica.

Não é uma tarefa impossível ganhar público neste setor, como explica Guillermo Petzhold, coordenador de mobilidade do instituto WRI Brasil. "Todos estes serviços dependem muito do motorista, entao ações ou incentivos para atrair mais deles pode fazer com que pequenos players cresçam". No entanto, ele acredita que a pandemia e a alta de combustível possa gerar no público uma mudança de coomportamento generalizada. "Isso pode levar as pessoas a reconsiderarem o táxi ou mudar de meio de transporte", diz.

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Em paralelo, Uber e 99 podem intensificar uma tendência recente de expandirem seu serviços. "Corridas são só um nicho do que elas de fato cobrem. Já fazem serviço de entregas, delivery de alimentos e operam como um MAAS (mobilidade como um serviço, na sigla em inglês) para envolver outros meios de transporte, como o Didi na China. A própria Uber nos EUA teve sua época de aluguel de patinetes. Ao mesmo tempo vê-se um movimento para criarem uma carteira digital [como o Uber Cash] para você colocar crédito antecipado e gastar em outras coisas", reforça Petzhold. Se isso vai ajudar os apps que lidam só com corridas a ganharem público ou vai atropelá-los de vez, só o tempo vai dizer.

InDriver

O que é: plataforma russa de corridas locais, interurbanas e transporte de cargas
Onde atua: mais de 145 cidades, incluindo as principais capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Curitiba, Manaus e outras)
Vantagens: negociação de preços entre motoristas e passageiros; taxa de apenas 9,5% para motoristas (que ficaram de 0% a 5% na pandemia)

Lady Driver

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O que é: oferece corridas com motoristas mulheres para passageiras mulheres
Onde atua: São Paulo, com expansão neste ano para 80 cidades em MG, RS, BA e DF
Vantagens: segurança para o público feminino; aceita corrida com crianças

Blablacar

O que é: compartilhamento de viagens interurbanas, além de marketplace de passagens de ônibus
Onde atua: em todo o país
Vantagens: mais de 12 mil rotas de ônibus e economia estimada em 70% para motoristas e de 30% a 50% para passageiros

Waze Carpool

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O que é: serviço de compartilhamento de corridas entre motoristas e passageiros
Onde atua: em todo o país
Vantagens: negociação de preços entre motoristas e passageiros;ajuda na sustentabilidade, ao ratear custos de um veículo entre várias pessoas