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A ciência por trás dos memes

Por| Editado por Luciana Zaramela | 03 de Outubro de 2022 às 16h38

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Hood Documentary/YouTube
Hood Documentary/YouTube

Memes podem ir das mais simples piadas com felinos e outros animais fofinhos a críticas sociais e políticas profundas. Uma das formas de comunicação mais comuns na internet de hoje, essas reproduções culturais podem ser mais antigas do que você pensa, e mais importantes do que parecem. Tudo depende do que você fará com elas, com qual objetivo, para quem replicará, enfim... variáveis mil.

O que são memes?

Oficialmente, o uso do termo "meme" foi iniciado pelo cientista evolucionário Richard Dawkins, em seu livro O Gene Egoísta, de 1976. Ele se apropria da palavra grega "mimeme" (de "mimesis", imitação) e a encurta, definindo o conceito como a reprodução de ideias, melodias, frases de efeito ou qualquer informação que seja imitada, passada de pessoa para pessoa. O objetivo era mostrar como a cultura humana é replicada e compartilhada.

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Embora anteriormente não houvesse sido definido dessa forma, o comportamento humano sempre foi cheio desse tipo de comentário artístico sobre a vida. Especialistas conseguem ligar tais atividades até o tempo dos gregos: no teatro trágico dos antigos, eram trabalhados temas que lhes incomodavam e atormentavam, transformados em comédia. Os memes, guardadas as devidas proporções, fazem o mesmo.

Com a internet, é claro, maximiza-se o potencial replicador e a influência dos memes, que passam a se espalhar, crescer e modificar cada vez mais. Especialistas como Limor Shifman estenderam a definição do fenômeno, que agora é considerado como "um grupo de textos com características compartilhadas, como forma, conteúdo e postura".

"Forma" define nossa experiência visual ou auditiva, ou seja, sensorial, enquanto "conteúdo" são as ideias e ideologias reproduzidas, e "postura" é o tom ou estilo, as funções de comunicação do meme. Há, claro, limites para o conceito: um texto copiado e colado que se espalha muito bem não é um meme, é apenas um conteúdo viral. Quando começam a surgir versões do mesmo texto, a coisa muda de figura.

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Em um estudo de 2014, Shifman pôde identificar 121.605 versões de um meme específico postadas e 1,14 milhões de atualizações de status internet afora. Os memes já viraram parte do folclore da internet, chamado por alguns de "netlore" — através deles, não são expressadas apenas piadas, mas também sentimentos, ansiedades e desejos das pessoas.

É por isso que, geralmente, os memes são utilizados para falar de acontecimentos recentes da memória pública dos meios onde circulam, carregando algo de grande importância aos usuários. Para entender os mais virais, por exemplo, não é preciso fazer parte da subcultura da internet, já que apelam a conceitos mais simples. Acontecimentos como eleições, copas do mundo e até a pandemia estão entre os mais fáceis de se ver abordados por aí.

Humor, tragédia, comunidade

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O mais básico, no entanto, e mais difícil de se replicar, é o humor: é preciso que um meme seja divertido, que olhar para ele e compartilhá-lo seja divertido. Um estudo de 2013 mostrou que os memes que geram as respostas emocionais mais fortes são os mais compartilhados, com vídeos engraçados prevalecendo sobre vídeos fofos, nojentos ou irritantes.

Mas apesar de ser primariamente uma fonte de humor, trazendo algum tipo de alívio ou deixando um tema mais leve, eles não precisam necessariamente ser engraçados. Um exemplo são os memes sobre a guerra na Ucrânia, compartilhados até pelas próprias redes sociais oficiais do governo do país. É o poder que têm de capturar sentimentos e experiências.

Há, claro, os memes mais nichados. Alguns estudos notaram que pessoas com depressão acham memes sobre a condição mais engraçados, compartilháveis e relacionáveis. Segundo alguns especialistas, eles podem expressar a experiência depressiva de formas difíceis de se vocalizar.

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A formação de uma identidade coletiva é muito ajudada pelos memes, especialmente em comunidades marginalizadas, como LGBTQIAP+ ou grupos ainda mais específicos, como pessoas concebidas a partir de espermatozoides e óvulos doados. Nesse caso, eles não são feitos para viralizar, mas criam um sentimento de pertencimento e participação comunitária muito grande, facilitando a comunicação.

Para a sociedade como um todo, os memes abrem discussões e funcionam como um meio argumentativo, apoiando ou repudiando argumentos variados, indo de pautas políticas a banalidades da vida privada, como o lado que o papel higiênico é colocado, ou como as vacinas e o isolamento ajudam a evitar a transmissão da covid-19.

Subversão e conspiração

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Em países onde há mais censura, os memes ajudam a compartilhar ideias de forma subversiva: em 2018, a campanha #MeToo, que advogava contra assédio sexual ao divulgar histórias de mulheres assediadas, teve sua hashtag bloqueada na China. A solução? Compartilhar imagens de coelhos ao lado de arroz, que, em chinês, são pronunciados como "mi tu", imitando a pronúncia anglófona.

Apesar de incentivar a participação política e conversas necessárias à sociedade civil, os memes também podem ser mal utilizados. Teorias da conspiração e desinformação podem ser replicadas facilmente e rapidamente nesse formato, dispensando explicações mais elaboradas — também por conta do espaço limitado que fornecem — e preenchendo lacunas no conhecimento popular de forma perigosa.

Memes, ao ajudar no sentimento de participação e conexão a comunidades, também podem puxar pessoas vulneráveis a integrar grupos conspiracionistas. No final das contas, assim como tantas ferramentas de comunicação, os memes não são inerentemente bons ou ruins: tudo depende de como vamos utilizá-los.

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O que importa é saber que eles vieram para ficar — e que não podem ser subestimados. Há de se entendê-los como facilitadores da comunicação, do ativismo digital e do incentivo ao pertencimento, usando seu potencial para nos unir ao invés de nos dividir. Tudo depende do que você escolhe criar e replicar.

Fonte: PsyArXiv, New Media & Society, Selected Papers of Internet Research, Results in Applied Mathematics, Computers in Human Behavior via BBC