Como a computação de borda deve impulsionar a IA e a IoT
Por Samir Vani |
Nos últimos anos, muito tem se falado no crescimento do mercado de cloud computing, a computação na nuvem. Para quem ainda não está familiarizado com o termo, estamos falando da tecnologia que permite o acesso remoto a dados, aplicativos e até processamento de forma remota, oferecidos como serviços, por meio da Internet.
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Nesse modelo, as empresas ou mesmo as pessoas pagam para acessar recursos que estão localizados em servidores remotos de data centers, que pertencem a provedores de serviços como Google, AWS ou IBM. Seu grande apelo é a questão financeira e a praticidade, pois não é preciso arcar por exemplo, com os custos de ter um data center.
Por conta disso, o setor não para de crescer. Um estudo divulgado pela Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES), em parceria com a International Data Corporation (IDC), revelou que os investimentos em cloud devem ter forte crescimento no Brasil em 2023, com aumento de 41% nos gastos com serviços em nuvem em relação ao ano anterior, passando de US$ 4,5 bilhões.
Mas faz sentido jogar tudo na Internet e confiar no processamento remoto via internet? A cloud computing resolve todo tipo de necessidade tecnológica? A resposta é não.
A nuvem é uma importante ferramenta tecnológica e de negócios, mas tecnologias como a inteligência artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglê), por exemplo, pedem em certas aplicações uma maior capacidade de processamento local, seja no data center ou nos dispositivos. É o que se convencionou chamar como edge computing. Com ela é possível processar os dados próximos de onde eles são gerados, em vez de promover a troca de informações com um data center distante.
Um exemplo prático de seu uso: milhões de pessoas conseguem ver suas séries preferidas sem engasgo graças à edge computing, que encurta a distância geográfica (com o uso de pequenos data centers locais, por exemplo) entre a transmissão de áudio e vídeo oferecido por empresas como Netflix ou Amazon. O processamento no extremo da rede ganha segundos importantes e alivia o tráfego da rede.
E imagine um carro autônomo cheio de sensores e que se depara com um pedestre desatento que entra na sua frente. Se essa informação for enviada primeiro para a nuvem pela Internet, para depois ser processada e só então o veículo entender que precisa brecar, o resultado pode ser fatal. Já com o processamento local, o carro entende mais rápido que precisa brecar.
Segundo a consultoria IDC, os gastos mundiais em computação de borda foram de mais de US$ 170 bilhões em 2022, um aumento de 14,8% em relação a 2021. E a previsão de gastos de empresas e em equipamentos, software e serviços para soluções de edge computing devem seguir em crescimento, atingindo em 2025, investimentos de cerca de US$ 270 bilhões.
Recentemente a MediaTek anunciou uma parceria com a Meta para o uso do Llama 2, Large Language Model de código aberto da empresa. Utilizando o LLM da Meta, bem como as mais recentes APUs e a plataforma NeuroPilot AI, as empresas pretendem construir um ecossistema de computação de borda projetado para acelerar o desenvolvimento de aplicações de inteligência artificial para smartphones, dispositivos de IoT, automóveis, casa inteligente e outros dispositivos.
Atualmente, a maior parte do processamento de IA generativa é realizada por meio de computação em nuvem. O uso de modelos Llama 2 permitirá que os aplicativos de inteligência artificial generativa também sejam executados localmente, diretamente no dispositivo.
Isso oferece várias vantagens para desenvolvedores e usuários, incluindo performance constante, maior privacidade, melhor segurança e confiabilidade, menor latência, capacidade de trabalhar em áreas com pouca ou nenhuma conectividade e menor custo de operação.
Para tirar proveito da tecnologia de IA generativa no dispositivo de forma completa, os fabricantes de dispositivos de borda precisarão adotar processadores de IA de alta computação, baixo consumo de energia e conectividade mais rápida e confiável, para aprimorar os recursos de computação.
Vale lembrar que a edge computing não compete com a cloud computing. Elas são tecnologias que se complementam e que juntas podem tornar a conectividade ainda mais eficiente e tecnologias como a inteligência artificial generativa, mais acessíveis.
*Samir Vani é diretor de desenvolvimento de negócios da MediaTek (empresa fabricante global de processadores para equipamentos como smartphones, tablets, smart TVs e soluções para Internet das Coisas) na América Latina.