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Crítica Resistência | Um épico de ficção-científica como se não faz mais

Por| Editado por Durval Ramos | 26 de Setembro de 2023 às 20h05

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Reprodução/20th Century Studios
Reprodução/20th Century Studios

Criar algo grandioso em Hollywood nos dias de hoje sem que seu projeto seja uma adaptação ou sequência de uma franquia estabelecida é uma tarefa quase impossível. Estúdios parecem ter uma verdadeira aversão ao risco de um filme com conceito um pouco mais ousado, apostando sempre no mais seguro possível. Isso faz com que várias ideias se percam, mas algumas conseguem encontrar brechas e viram filmes, como é o caso de Resistência.

Com uma história original, criada pelo diretor Gareth Edwards, de Rogue One e Godzilla, Resistência é um filme de ficção-científica como há muito não se via nos cinemas. Basicamente um épico filmado com um orçamento modesto, o filme é visualmente impressionante e aborda temas bastante atuais, de melhor forma que a ficção-científica pode ser.

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Uma história relativamente simples

Resistência conta uma história de um mundo em que robôs com inteligência artificial existem lado a lado com a humanidade. Trabalhando como médicos, policiais e qualquer outro tipo de função de trabalho na sociedade, eles vivem em harmonia com homens e mulheres.

Isso muda quando um desses robôs explode uma bomba atômica em Los Angeles, matando milhões de pessoas. O governo dos Estados Unidos, ao lado de outras nações do Ocidente, resolve banir toda inteligência artificial de seus territórios, mas ela continua sendo desenvolvida em países asiáticos.

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É nesse cenário de incerteza global que o filme se desenrola, com uma história até bastante simples e direta, enquanto o pano de fundo parece bem mais complexo do que aparenta ser. Escrito pelo diretor e por Chris Weitz (Sr e Sra Smith), Resistência gira em torno de Joshua, interpretado por John David Washington (Tenet), um ex-agente de uma força especial que perdeu a sua mulher em ataque contra robôs na Ásia.

Quando ele descobre que sua esposa, interpretada por Gemma Chan (Eternos), pode estar viva, ele aceita uma missão para se infiltrar em território inimigo para encontrá-la e destruir uma arma capaz de acabar com a guerra contra a humanidade.

O problema é que essa arma é uma inteligência artificial poderosa que tem a forma de uma garotinha, vivida pela estreante Madeleine Yuna Voyles. Joshua se encontra um dilema em como lidar com essa informação, criando uma corrida para encontrar uma solução e sua esposa.

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À primeira vista, a trama é direta e sem muitas nuances. Um soldado não quer matar uma criança, independente de ela ser um robô ou não, e tenta encontrar um outro jeito de resolver o problema. Talvez esteja aí a grande sacada de Resistência.

Ao apresentar uma história simples de acompanhar, o diretor consegue aplicar diferentes camadas que você vai compreendendo ao prestar mais atenção. A mais aparente é o conflito que a humanidade se encontra em aceitar a existência de uma nova espécie que pode superá-la no futuro.

Trabalhando em cima desse instinto de sobrevivência, os chamados vilões do filme acabam tendo algumas de suas ações justificadas, ainda que o outro lado da moeda mostre seres apenas querendo existir e lutando para garantir isso.

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Não se engane com o foco em inteligência artificial

Apesar de boa parte do marketing de Resistência levantar a questão de inteligência artificial, o assunto mais comentado em 2023, o filme aborda isso da maneira mais comum que a ficção-científica pode fazer, usando robôs com consciência em sua história. Não existe um grande sistema ameaçando a todos, mas sim uma evolução de autômatos que pode colocar em risco a humanidade e se tornar um próximo passo evolutivo da existência na Terra.

Em entrevista para a divulgação do filme, o diretor comentou que a história de Resistência havia sido criada em meados de 2018, sendo que foi uma coincidência que no ano em que o longa fosse lançado, o assunto estivesse tanto em destaque.

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Um mundo criado com suor e jeitinho

Visualmente, Resistência é um filme impressionante. Seja em seus cenários, no visual de robôs, tudo é muito legal de se ver. Em várias cenas, confesso ter ficado olhando o fundo e reparando em vários elementos que achei muito legais.

Tudo isso foi criado de um jeito diferente ao de grandes produções, o que ajudou imensamente com que o filme saísse do papel. O diretor gravou boa parte de Resistência em locações reais, em vez de tentar criar tudo em estúdio. Viajando por países como Nepal, Tailândia, Japão, Indonésia, Camboja e Vietnã, a produção capturou boa parte do que precisava e, somente na pós-produção, passou a criar os efeitos especiais.

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Parece o jeito comum, mas na verdade, é o contrário. Em produções cheias de efeitos, eles são feitos muitas vezes antes das cenas serem gravadas, criando modelos 3D que acabam ditando como tudo é feito no set.

Em Resistência, o diretor passou cenas já editadas para a equipe de efeitos especiais criarem robôs e elementos do cenário usando apenas o frame editado. Isso fez com que o trabalho fosse mais rápido, já que era necessário criar apenas aquilo que estava na tela, em vez de algo 3D que pudesse ser alterado em pós-produção.

Isso reduziu bastante o tempo de pós-produção e os custos, permitindo que o filme ficasse com um orçamento que supostamente não ultrapassou US$ 100 milhões. Ainda parece alto, mas vendo o resultado na tela, é realmente impressionante o que foi feito com esse dinheiro, em comparação a outros filmes lançados recentemente e com orçamentos que passam do dobro desse valor.

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Muito bom, mas não é perfeito

Resistência tem em seu DNA muito do que Gareth Edwards aprendeu em grandes produções de Hollywood, como Godzilla e Rogue One, com algumas cenas parecendo bastante terem saído do filme da franquia Star Wars. Porém, ele ainda tem muito de um de seus filmes antigos, Monstros, principalmente com esse estilo mais "pé no chão" de conflitos.

Isso é muito interessante, mas ao mesmo tempo, Resistência segue algo bastante presente nos filmes do diretor que é uma certa falta de leveza. Não é como se o filme não tivesse momentos mais emotivos, mas em dado momento, você acaba ficando um pouco cansado com o fato de ele ser tão sério que acaba ficando mais pesado do que deveria.

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Não é como se ele precisasse de piadinhas e tiradinhas sarcásticas do mais absoluto nada, um mal que acomete boa parte dos blockbusters hoje em dia, mas alguns momentos que poderiam ter um impacto maior caso tivessem uma construção emocional mais forte ao longo do filme.

Outro elemento, e esse vai além do filme, é o fato de o diretor já ter deixado claro que Resistência é um filme com história fechada, não tendo muita vontade de voltar para o mundo que criou. Se, por um lado, isso é excelente e realmente incomum em Hollywood, por outro, isso acaba deixando várias questões abordadas no filme sem resposta.

Em alguns momentos, é possível notar que existem buracos na lógica que não chegam a afetar o entendimento geral da história, mas não explorar mais o mundo criado, ainda mais um tão interessante como esse, parece uma oportunidade perdida.

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O elenco, que ainda traz nomes como Ken Watanabe (Godzilla: O Rei dos Monstros) e Allison Janney (West Wing), é competente, mas não chega a chamar tanta atenção. A jovem Madeleine Yuna Voyles é destaque até por ser sua estreia no cinema, mas um ator como John David Washington deveria entregar mais do que consegue aqui.

O ator já mostrou em trabalhos anteriores, principalmente em Infiltrado na Klan, que é talentoso, mas Resistência mostra mais uma vez que ele ainda precisa de algo a mais para alcançar o próximo nível. Confesso ainda não saber exatamente o que seria esse algo mais, mas faz falta.

Originalidade merece nossa atenção

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Resistência é um dos melhores filmes originais de ficção-científica dos últimos tempos. Com uma construção de mundo fascinante, o longa aborda bem o temor pelo avanço desenfreado da tecnologia e a dificuldade da humanidade em aceitar aqueles que são diferentes de si.

Com um bom elenco, ótimos efeitos visuais e, novamente, uma excelente construção de mundo, esse é o tipo de filme que o cinema precisa cada vez mais.

Resistência chega aos cinemas de todo o Brasil no dia 28 de setembro.