Crítica Rebel Moon Parte 2 | Filme é um enorme atestado de incompetência
Por André Mello • Editado por Durval Ramos |
Em dado momento de Rebel Moon - Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes, General Titus, personagem de Djimon Hounsou, reúne o grupo de rebeldes e pergunta quais são os motivos para eles lutarem. Isso acontece na metade da segunda parte da história, quando o grupo já lutou intensamente juntos contra o Mundo-Mãe.
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Ao ver essa cena, que serve apenas para dar uma breve e rasa história para cada um dos personagens, me questionei por que ainda estava prestando atenção em qualquer coisa que Zack Snyder resolvesse colocar na tela.
Personagens com motivações com a profundidade de um pires, cenas de ação que deveriam ser empolgantes, mas são extremamente mal coreografadas, fotografia feia, uma história que não faz sentido e um dos piores vilões que eu já vi no cinema. Isso é A Marcadora de Cicatrizes, que consegue ser um pouco melhor que a primeira parte,mas não o suficiente para tornar a experiência menos do que sofrível.
Um filme que a Netflix esqueceu
Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo recebeu uma forte campanha de marketing, que inclusive trouxe o elenco e diretor Zack Snyder ao Brasil para mostrar o seu possível verdadeiro talento, que é ser churrasqueiro. Com a estreia da segunda parte, algo que chamou a atenção foi como o serviço de streaming parece não ter feito muita questão de divulgar o seu lançamento, quase como se tivesse o escondendo.
A baixa audiência frente a outras produções mais baratas da Netflix e as críticas ruins que o filme recebeu podem ter feito o streaming perceber que tinha uma bomba nas mãos e resolveu não chamar muita atenção para ele. Isso é mais esquisito porque Rebel Moon Parte 2, assim como o primeiro filme, ainda tenta construir um universo para continuá-lo em mais produções.
Continuando exatamente de onde o primeiro longa parou, com o grupo de rebeldes liderados por Kora (Sofia Boutella) chegando em Veldt, A Marcadora de Cicatrizes ainda sente necessidade de explicar parte do conflito e seus personagens, o que só mostra como Snyder é incapaz de apresentar e desenvolver uma história.
Uma coisa que realmente impressiona no filme é como o diretor parece ter perdido qualquer senso de timing para as cenas, com coisas acontecendo de repente e com a pior construção possível. Seja um romance que poderia ter sido desenvolvido ou mesmo as motivações de seus heróis, toda resolução tem a mesma delicadeza de uma britadeira descontrolada.
Belíssimo uso de câmera lenta para colher trigo
Eu ainda tinha esperança que, por mais que a história de Rebel Moon Parte 2 fosse ruim como a da primeira parte, ela teria cenas de ação um pouco mais interessantes. O primeiro filme é vergonhoso nesse quesito, com Snyder enfiando câmera lenta nos momentos mais aleatórios possíveis, tentando criar algo épico, mas somente passando vergonha.
É possível dizer que, pelo menos nisso, A Marcadora de Cicatrizes é um pouquinho melhor, já que entrega pelo menos duas cenas que me fizeram pensar “Mas olha só!”. Elas são rápidas e, milagrosamente, fazem sentido dentro do contexto geral do filme, mas Snyder logo volta para suas manias e estraga tudo.
O uso de câmera lenta continua exagerado, com a aplicação mais ridícula sendo para esticar uma cena dos moradores de um vilarejo colhendo trigo. A impressão que dá é que, na cabeça do diretor, câmera lenta aumenta a dramaticidade das coisas, então, em vez de construir uma cena decente, ele deixa tudo lento e corre para o abraço.
Um elenco fazendo o que pode com migalhas
Se a primeira parte de Rebel Moon apresentou quase nenhum tipo de desenvolvimento para boa parte do seu elenco, A Marcadora de Cicatrizes pelo menos tenta fazer isso, mas ainda falha em fazer com que você se importe com eles.
Desde personagens que você sente que claramente estão ali para se sacrificar até explicações cretinas para eles lutarem, tudo é feito como se fosse tirado diretamente do caderno de um adolescente empolgado demais.
O personagem que mais se desenvolve no filme é o do General Titus, personagem de Djimon Hounsou. Enquanto Kora parece ficar em segundo plano por boa parte do filme, é Titus quem assume a posição de líder, criando uma estratégia para ajudar os moradores de Veldt, o que faz com que Hounsou se destaque mesmo não sendo o protagonista propriamente dito.
Ele é um personagem que, na mão de um diretor e roteiristas talentosos, poderia ser incrível, já que o ator demonstrou em várias outras produções o seu talento em papéis similares. Só que a explicação dada por Snyder para ele ser do jeito que é apresentado no filme é, de uma maneira bem direta, burra.
Todas as escolhas e consequências dos personagens são apresentadas com eles tentando lidar com uma força que mostra todas as vezes o quanto são impiedosos e traiçoeiros. Na cabeça do diretor, talvez isso servisse para mostrar o quão cruel é o império, mas acaba apenas mostrando que seus heróis são burros e inocentes.
Um enorme desperdício de Rebel Moon e que chega a me deixar chateado é o robô James, dublado pelo Sir Anthony Hopkins. Na primeira parte, a figura do autômato que falhou em proteger a princesa e se vê em uma encruzilhada, sem saber se ajuda os rebeldes ou não, prometia muito.
O fato de ele quase não aparecer no filme inteiro dava a impressão que ele teria um papel enorme na segunda parte. James aparece pouco, tem um momento interessante e fica por isso mesmo. O que nos leva ao maior problema de A Marcadora de Cicatrizes.
Snyder é incompetente
O que vou falar pode parecer duro, mas um diretor anunciar, antes da estreia de seu filme, que ele receberá uma “versão do diretor” que vai explicar mais as coisas é um atestado de incompetência. Antes de Rebel Moon chegar ao streaming, Snyder já gritava para quem quisesse ouvir que as duas partes teriam as chamadas “Snyder Cut”, com mais de uma hora de conteúdo para explorar mais o seu universo.
Em vez de tentar entregar o melhor filme possível, Snyder lançou filmes ruins, já prometendo que eles talvez ficassem melhores se você investisse mais do seu tempo em versões maiores.
Isso por si só já é uma prática ridícula e mostra que o diretor não sabe fazer o trabalho dele direito, mas o mais revoltante de tudo isso é perceber que A Marcadora de Cicatrizes não resolve absolutamente nada.
Se o primeiro filme parecia uma enorme preparação para algo, a segunda parte não muda essa sensação porque é exatamente isso que ela é. Os personagens não são tão bem desenvolvidos porque, na cabeça de Snyder, ele vai ter a oportunidade de produzir mais meia dúzia desses filmes. E pode apostar que, se ele conseguir, todos ainda terão “versões do diretor”, porque ele não consegue fazer a edição principal ser boa o suficiente e precisa ficar fazendo esses remendos desnecessários.
Ao chegar no final de A Marcadora de Cicatrizes, a impressão que fica é a de perda de tempo. Um eterno “vem aí” mal feito para algo que não parece tão interessante se de fato vier.
Talvez Rebel Moon sirva para mostrar que, talvez, o visionário seja míope mesmo.