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Crítica Rebel Moon: A Menina do Fogo | Zack Snyder tinha que virar churrasqueiro

Por| Editado por Durval Ramos | 22 de Dezembro de 2023 às 16h07

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Reprodução/Netflix
Reprodução/Netflix
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Zack Snyder não me parece ser uma pessoa ruim. Praticamente todo mundo que trabalha com o cara fala bem dele e, de vez em quando, ele demonstra ser uma boa pessoa. Não o conheço, mas essa é a impressão que tenho. Durante a divulgação de Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo, o diretor veio até o Brasil e participou da CCXP.

Em um dos momentos de sua visita, Snyder fez um churrasco para jornalistas e convidados, em vídeos divulgados nas redes do próprio diretor. Todo mundo estava feliz, afinal de contas, churrasco é um ambiente alegre. Eu realmente acredito que Snyder quer fazer as pessoas felizes.

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Após assistir a Rebel Moon, lembrei dessa breve ativação em que ele participou e cheguei à conclusão de que ele tinha que deixar de ser diretor e virar churrasqueiro. Talvez ali esteja o verdadeiro talento do Snyder, porque fazer filmes definitivamente não é.

Feio e bobo

Rebel Moon nasceu como uma tentativa de Snyder em fazer um filme de Star Wars mais maduro e violento. Quando a Disney comprou a Lucasfilm, nem deu mais trela pro diretor e seguiu seu caminho. Só que o Snyder ficou com aquela ideia e, após onze anos, lança a primeira parte da história na Netflix.

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Desde as primeiras cenas de A Menina do Fogo, nome dado à primeira parte, você sente que ele ainda queria muito fazer um filme de Star Wars e fez esse de birra. Rebel Moon é o equivalente a um adolescente de 15 anos que viu um filme, gostou das ideias, mas decidiu que conseguiria fazer algo melhor. Só que o Snyder tem 57 anos — e não consegue fazer melhor.

Contar histórias coesas e bem desenvolvidas nunca foi o forte da filmografia do diretor, mas é inegável que visualmente, seus filmes eram impressionantes. Eu seria maluco de não admitir que, mesmo revoltado com Batman vs Superman, algumas cenas me fizeram pensar "Isso aí daria um wallpaper doido!".

Só que, em Rebel Moon, Snyder resolveu não trabalhar com seu diretor de fotografia de filmes como BvS, Sucker Punch e Watchmen, Larry Fong. O diretor resolveu que ele mesmo cuidaria da fotografia, aplicando diretamente a sua visão do que deveria ser mostrado. E é quando a gente descobre quem era o verdadeiro visionário da dupla.

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O resultado é um filme com cenas feias, iluminação esquisita, muitas fora de foco, e algumas com cenários claramente com chroma key, que parecem uma peça de teatro da oitava série do ensino fundamental. Parece exagerado, mas não é. Rebel Moon passa uma sensação de produção de baixo orçamento feita para algum canal de TV — mesmo tendo custado US$ 166 milhões. É impressionante.

Voltando à história, o longa mostra um universo em guerra. Quando o rei e sua família são traídos e assassinados, o tirânico regente Balisarius toma conta de tudo, formando o Imperium e eliminando qualquer foco de rebelião que possa surgir.

É nesse cenário que conhecemos Kora, uma jovem que vive em uma vila de agricultores na lua Veldt. Eles vivem em harmonia, comendo do que a terra lhes dá e fazendo festa. Em uma cena um pouco constrangedora, o líder da vila basicamente fala para todos beberem muito e "fazerem amor" com alguém para agradecer os alimentos. 

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Quando o Almirante Noble chega ao local, indo atrás de informações sobre a possibilidade de a vila ter vendido alimentos para rebeldes, a tragédia toma conta. Kora resolve lutar contra isso, ficando responsável em buscar reforços para proteger a vila de novos ataques do Imperium.

Não parece algo muito ruim, mas a maneira truncada que a história se desenvolve, cheia de diálogos ruins, faz com que nenhum ator consiga desempenhar um bom trabalho no filme. Personagens tomam atitudes que são ignoradas logo em seguida, ou simplesmente mudam de personalidade conforme a cena pede. Em alguns momentos, é constrangedor. Na grande maioria, porém, é só ruim mesmo.

Querendo juntar um time sem saber como

A Menina do Fogo é um filme que busca apresentar os principais personagens que serão usados na segunda parte, que estreia em abril de 2024. Não existe outro motivo para o tanto de gente que aparece e não tem um pingo de desenvolvimento além de "tem um visual legal".

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Existe uma personagem interpretada pela atriz Bae Doona (Sense8) que se chama Nemesis. Nemesis é uma grande espadachim. Ela busca vingança pela morte dos filhos. As espadas dela meio que são sabres de luz. Esse é todo o desenvolvimento dela no filme.

Você pode achar que isso acontece só com ela, mas não. Todos os personagens da equipe que se forma para lutar contra o Imperium tem esse tipo de desenvolvimento. Kora, a personagem principal, interpretada por Sofia Boutella (A Múmia), é a única que recebe atenção, contando o seu passado de um jeito que parece ter sido escrito para um resumo de ficha de personagem de um jogo meia boca de PlayStation 1.

Existe um personagem, interpretado por Charlie Hunnam (Sons of Anarchy) que entra na história do jeito mais bobo possível, sem que nada sobre ele seja explorado e o resto do grupo simplesmente aceita. Ninguém se pergunta de onde ele veio, só aceitam tudo com "Você quer ajudar? Show!".

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Um filme violento sem sangue

Rebel Moon: A Menina do Fogo é um filme violento. Isso era esperado do momento que Zack Snyder disse que seria um filme maduro, pois essa é a forma como um adolescente entende o que é maturidade.

Só que, assim como a piora no visual ao ter o próprio Snyder como diretor de fotografia, todas as cenas de ação de Rebel Moon são piores que de qualquer filme dele. Tem câmera lenta (óbvio), mas em momentos completamente aleatórios e que não acrescentam nada nas cenas. É como na vez que ele mostrou Lois Lane comprando café em slow-motion no Snyder Cut.

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Tem uma cena em que o Snyder mete uma câmera lenta para mostrar um personagem caindo em uma mesa durante uma luta, que quebra sob o peso dele. Não é difícil imaginar uma cena assim, só que a cena acontece de um ângulo esquisito, com a câmera lenta começando e terminando em momentos estranhos.

Em outra cena, o Snyder deixa mostra uma batalha na velocidade normal e coloca em câmera lenta quando a personagem de Boutella encosta numa parede. Não faz sentido. Fora que a escolha dessa marca registrada das cenas de ação do diretor acaba expondo momentos em que a coreografia de luta não é tão boa, deixando tudo falso e quase amador. 

Outro elemento que causa estranheza é que todo mundo toma tiro, se corta e ninguém sangra. Mais de uma vez, soldados tomam tiros na cabeça, é possível ver o efeito da bala saindo pela parte de trás, mas em seguida não aparecem mais ferimentos, muito menos sangue.

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Eu quero acreditar que isso acontece porque as balas são de blasters e os cortes de espadas que lembram sabres de luz, mas não são chamados assim porque os advogados da Netflix não querem papo com os colegas da Disney. Porque existe a possibilidade de tudo ser mais violento e cheio de sangue na obviamente já anunciada "Edição do Diretor" de Rebel Moon, que será lançada em algum momento no streaming.

Inclusive, em pouco mais de duas horas de duração, ele parece um filme cheio de cenas faltando. Se o Snyder segurou isso para a versão estendida, sendo que supostamente tinha total controle sobre a edição do lançamento, ele já está brincando com a cara do público.

Que filme ruim!

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Não tem outro jeito de falar sobre Rebel Moon: A Menina do Fogo sem dizer com todas as letras que ele é o pior filme de Zack Snyder. Quando o diretor deixou as adaptações de quadrinhos no passado, eu acreditei de verdade que talvez os problemas que ele demonstrava estavam ligados ao fato de ele não saber lidar muito com adaptações.

Dois filmes depois, me parece que os filmes legais do Snyder, lá do começo da carreira dele, foram sorte. Quando vi Batman vs Superman, mesmo tendo assistido de graça, me senti lesado. Eu fiquei revoltado e triste. Com Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo, eu só estou impressionado que o Snyder segue conseguindo orçamentos grandiosos para cometer esses filmes.

Ele deve assar uma picanha e uma linguicinha toscana como ninguém mesmo. Certeza que o pão de alho é ele que prepara.

Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo está disponível na Netflix.