Crítica Agente Stone | A missão impossível de se empolgar com esse filme
Por André Mello • Editado por Jones Oliveira |
A Netflix tem um problema há algum tempo quando o assunto são suas produções originais, principalmente as do gênero de ação. Enquanto alguns dos filmes lançados no streaming são de qualidade indiscutível, outros parecem feitos através de uma pesquisa de grupo para saber o que deu certo em outro lugar, tentando replicar o seu sucesso no serviço.
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A fórmula desses filmes parece ser sempre a mesma. Encontram um ator ou atriz conhecidos, pegam elementos de alguma franquia que deu certo, misturam, criam um fio de história e filmam. A ideia, que vai muito pela estratégia da empresa ao começar com a produção de conteúdo original, segue uma linha de "Por que pagar pelos direitos de Missão Impossível se você pode ter Agente Stone?".
O problema está quando, ao final de suas duas horas de duração, fica aparente porque o filme com Tom Cruise é melhor. E nem é somente pelo orçamento.
Uma espiã que se disfarça como espiã
Agente Stone mostra a que veio logo na sua primeira hora de duração, mostrando Rachel Stone, interpretada pela Gal Gadot (Mulher-Maravilha), como uma hacker sem experiência com ação. Ela faz parte da equipe da MI6 para tentar capturar um traficante internacional de armas sumido há quase 3 anos.
Toda a sequência inicial mostra Stone como uma agente despreparada, acostumada com seu trabalho atrás do computador, até o momento em que precisa finalmente ajudar. Só que ela ainda se mostra assustada, enquanto outros agentes mais experientes tentam resolver o problema.
Quando fica para trás, Stone acaba revelando que, na verdade, é uma espiã se passando por espiã, já que é uma agente de um grupo somente chamado de A Carta. Completamente capaz de lidar com qualquer problema, ela protagoniza uma cena de ação que certamente, no papel, parecia muito empolgante, mas parece pouco inspirada na tela.
Dentro desses primeiros minutos de filme, você descobre que A Carta tem uma inteligência artificial chamada Coração capaz de analisar dados e possibilidades a ponto de praticamente prever o futuro. O negócio é tão bom que analisa a localização de pessoas e reproduz a aparência e movimentos delas. Quando eu digo bom, na verdad,e queria dizer mentiroso e quase ridículo, mas vocês entenderam.
Em todo esse começo de Agente Stone, você entende que é esse tipo de filme, o que não chega a ser um problema se ele tivesse um pouco de coragem de abraçar essa galhofa toda e se divertir com a ideia.
Um filme que não sabe qual Missão Impossível copiar
As comparações com a franquia Missão: Impossível continuam porque Agente Stone é produzido pela Skydance Media, a mesma produtora responsável pelos filmes do agente Ethan Hunt. Chega a ser incrível como o longa com Gal Gadot tenta pegar tudo o que fez os filmes de Tom Cruise funcionar, mas colocar a atriz de franjinha no lugar.
Deveria funcionar, já que Gal Gadot ficou muito bem com a tal franjinha, mas tudo parece seguir uma fórmula, completamente sem vida ou emoção. Praticamente todas as grandes cenas de ação do longa são versões de algo já feito nos filmes de Tom Cruise.
A diferença aqui é que, enquanto em um filme, Tom Cruise é um completo maluco e realmente saiu correndo de moto, pulando de avião ou saltando de precipícios, em Agente Stone, é tudo feito de maneira sem graça, feito com efeitos especiais e com a Gal Gadot em fundo verde. É a prova de que é necessário muito mais que uma ideia louca para uma cena para fazer com que ela funcione.
A luta para proteger uma inteligência artificial
Agente Stone tem um momento muito específico em que o filme poderia se tornar algo mais, mesmo ainda tendo suas cenas de ação genéricas. Com uma trama que gira em torno do roubo de uma inteligência artificial, o filme poderia mostrar o valor dos agentes, trabalhando juntos para, sem a tecnologia, salvarem o mundo.
Só que Agente Stone não tenta fazer isso, deixando a personagem de Gal Gadot sozinha, correndo e atirando para proteger a tal IA. Existe algo bastante intrigante quando, usando praticamente o mesmo mote de Missão: Impossível 7, com agentes em busca de uma IA, um filme da Netflix tenha optado em colocar a tecnologia como uma ferramenta do bem.
Se, em MI7, Ethan Hunt luta contra a tecnologia que pode acabar com a sociedade, em Agente Stone, Rachel Stone tenta a todo custo protegê-la. Vindo de uma produção exclusiva da Netflix, que ficou no meio de disputas com atores e roteiristas sobre o uso de inteligência artificial de maneira nociva, esse caminho que a trama toma não é muito sutil.
O início de uma franquia?
Agente Stone claramente tenta se colocar como o primeiro filme de uma franquia de ação da Netflix. A empresa já tentou isso com outros longas e esse deixa tudo muito claro quando você chega à sua conclusão.
Apesar de ser bastante falho, o longa não é ofensivo e é possível notar que Gal Gadot está tentando entregar um bom trabalho. Só que ele é tão genérico, sem vida e pouco empolgante que fica difícil ficar ansioso para saber como os personagens vão se desenvolver no futuro.
Cada vez mais, a Netflix se mostra uma versão moderna daquela locadora de bairro, cheia de filmes que você não sabe de onde vieram, com atores conhecidos na capa, e que depois de 2 horas de duração, você não lembra de absolutamente nada.