Híbrido de tubarão e arraia em aquário dos EUA é desmentido
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela | •
Algumas histórias são tão boas que gostaríamos que fossem verdadeiras, mas é sempre necessário encarar a realidade. Este é o caso de um aquário dos Estados Unidos que sugere ter uma arraia, a Charlotte, gestando um híbrido de arraia com tubarão — um "tubarraia". Segundo especialistas, isso é um absurdo.
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Todo o “mistério” envolvendo o inédito híbrido de tubarão com arraia que está prestes a nascer acontece na cidade de Hendersonville, na Carolina do Norte. Para ser mais específico, a história (ou a fanfic) se desenrola no Aquarium & Shark Lab Team ECCO.
A realidade é que a arraia Charlotte está grávida, e a gravidez surgiu sem nenhum contato documentado com um macho da sua espécie. Os únicos a conviver com este peixe batoide foram tubarões. Dito isso, a equipe do aquário chegou a suspeitar que a mãe estivesse com câncer, já que desconsideraram inicialmente uma gestação.
Animais híbridos existem?
Sim, animais híbridos podem existir, mas esses cruzamentos tendem a ocorrer com espécies próximas geneticamente, o que pode gerar filhotes férteis.
Por exemplo, em uma ilha do Havaí, já foram identificados “orfinhos”, gerados a partir do cruzamento de orcas com golfinhos. Também existem híbridos de baleia-azul. No entanto, o nascimento de uma mistura de arraia com tubarão é altamente improvável.
Caso do híbrido de tubarão com arraia
Para o canal de televisão ABC, Brenda Ramer, fundadora e diretora executiva do aquário, chegou a sugerir que a arraia poderia estar grávida de um tubarão-bambu (Chiloscyllium punctatum). Isso porque a arraia conviveu com dois tubarões machos, Larry e Moe, no ano passado.
Após algumas semanas, a equipe que cuida dos animais identificou marcas de mordida nas bordas das nadadeiras da arraia. Segunda Ramer, estas são comumente um indicador de acasalamento entre os tubarões, o que é usado para justificar a hipótese inusitada.
Além disso, ela explica que Charlotte nunca conviveu com um macho da sua espécie. Isso a impede de ter retido espermatozoides de anos atrás e só agora te-los fecundado.
Por fim, a última hipótese levantada pelo aquário é que a gravidez tenha ocorrido por meio de um modo reprodutivo chamado partenogênese — o desenvolvimento de um embrião sem fertilização e a participação de um macho.
No mesmo aquário, uma única fêmea de tubarão-bambu teve mais de 10 registros de partenogênese. Outros relatos do tipo já foram documentados pela ciência. No entanto, Ramer defende que esse processo é muito mais comum em tubarões do que em arraias.
Desmistificando a farsa: partenogênese
A possibilidade de um aquário levantar a hipótese de que uma arraia engravidou de um tubarão não passa de “desinformação”, afirmou Noah Bressman, professor assistente de fisiologia na Salisbury University, na rede social Bluesky.
“Tubarões e arraias são parentes tão distantes quanto humanos e cobras, então, uma cobra engravidando um humano é tão provável quanto um tubarão engravidando uma arraia”, avisa o professor.
“Provavelmente, [o que aconteceu] é partenogênese, também conhecida como clonagem, algo que as arraias costumam fazer ocasionalmente”, pontua o especialista. Nestes casos, um embrião se forma sem a necessidade de ser fecundado.
Na natureza, inúmeros organismos recorrem a essa estratégia de reprodução, como plantas, insetos, peixes, répteis (como crocodilos) e alguns pássaros.
Filhote de arraia vai nascer
Na última atualização do aquário, divulgada na terça-feira (20), as supostas criaturas híbridas de arraia com tubarão ainda não tinham nascido. O comportamento da mãe Charlotte estava normal.
Assim que o nascimento ocorrer, a equipe irá realizar testes de DNA para verificar qual hipótese é real, colocando um fim definitivo em toda a história especulativa.