Tubarão jurássico era extremamente evoluído, segundo estudo de novo fóssil
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Cientistas redescreveram uma espécie de tubarão primitivo do período Jurássico, o Protospinax annectans, que se acreditava ser um ancestral dos atuais tubarões e raias, a partir de um novo achado — uma fossilização das suas cartilagens bem preservadas em um sítio arqueológico da Alemanha. Incrivelmente rara, essa preservação revelou uma enorme surpresa aos cientistas, já que o animal era muito mais evoluído do que se pensava.
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Geralmente, os fósseis de tubarões e raias, que fazem parte dos elasmobrânquios (Elasmobranchii), são apenas dentes isolados, já que são partes do corpo que crescem e são substituídas muito rapidamente nessas criaturas. Como seu endoesqueleto é cartilaginoso, a preservação raramente acontece, dificultando o estudo aprofundado de espécies já extintas. É mais comum encontrar restos preservados de elasmobrânquios na Bavária, estado alemão com depósitos sedimentares muito prolíficos conhecidos como "Arquipélago Solnhofen".
Novo fóssil, novo estudo
Foi nesse local de conservação que um P. annectans muito bem preservado foi encontrado — a espécie viveu há cerca de 150 milhões de anos, com 1,5 metro de comprimento, dorso e ventre achatados e esqueleto cartilaginoso. Suas nadadeiras peitorais eram expandidas, com espinhos proeminentes sustentando mais um par de nadadeiras em frente a cada nadadeira dorsal. A curiosa característica deixa o animal com traços parecidos tanto com os de tubarões como os de raias modernas.
Outros espécimes da criatura já haviam sido encontrados antes, e em bom estado de preservação, mas suas características filogenéticas — ou seja, sua relação com outros animais relacionados — ainda eram bem enigmáticas. O P. annectans foi descrito pela primeira vez em 1918, mas apenas nos últimos 25 anos se propôs a ideia de que ele seria um "elo perdido" entre raias e tubarões, marcando a transição definitiva entre uma classe animal e outra.
Outra teoria coloca o bicho jurássico no lugar de um tubarão primitivo, ancestral tanto de raias quanto de tubarões, mais antigo do que um elo, ou ainda ancestral de grupos específicos de peixes, os Galeomorphii, que incluem o atual tubarão-branco. Com o novo fóssil, foi possível resolver a dúvida de uma vez por todas, comparando seu DNA mitocondrial com as espécies modernas e usar dados morfológicos para colocá-lo em seu lugar na escala evolutiva.
Mais moderno do que parece
Surpreendentemente, descobriu-se que ele não era elo perdido e nem um tubarão primitivo, coisa nenhuma: era, na verdade, um tubarão altamente evoluído — em outras palavras, com características bem parecidas aos dos seus primos modernos. Os cientistas explicam que costumamos ver a evolução como uma escada, uma hierarquia onde os grupos mais antigos estão na base e os modernos, como nós, humanos, são espécies bem jovens, no topo da história.
O P. annectans vem desafiar esse conceito, mostrando que a evolução nunca parou para as espécies de tubarão, ainda que tenha deixado esses animais para trás. Até hoje, tubarões seguem evoluindo, bem como nós, mudando o DNA e permitindo que nos adaptemos ao ambiente, sobrevivendo pelas eras.
Esse animal primitivo foi extinto na fronteira entre o Jurássico e o Cretáceo, há 145 milhões de anos, mas deixou outros peixes cartilaginosos sobreviverem até hoje. Não sabemos porque animais tão parecidos com ele, como as raias, ainda existem, enquanto tubarões similares não conseguiram chegar até aqui, mas essa é a beleza da ciência: sempre há mais para descobrir, novos experimentos para fazer.
Fonte: Zitteliana, Diversity