Temendo acidente nuclear, diplomata tenta negociar acordo entre Rússia e Ucrânia
Por Danielle Cassita • Editado por Patricia Gnipper |
A invasão da Rússia na Ucrânia traz riscos claros de um acidente nuclear acontecer. É no que acredita Rafael Mariano Grossi, especialista em energia nuclear e diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEIA). Em meio à tensão do cenário, Grossi se ofereceu para mediar um encontro entre a Rússia e a Ucrânia, para negociar um acordo de segurança nuclear.
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Na madrugada de sexta-feira (4) passada, a Rússia avançou suas tropas e tomou o controle da Usina de Zaporizhzhya, a maior usina nuclear na Europa. Durante o conflito, um incêndio se formou nas instalações. Apesar de ter sido controlado, o incidente levantou grande preocupação na comunidade internacional, que temeu pelos riscos de um acidente nuclear.
No momento, os técnicos ucranianos controlam a usina, mas as instalações estão cercadas por militares russos. “A questão positiva é que o controle operacional da instalação ficou nas mãos dos técnicos locais, que têm conhecimento dessa operação técnica”, disse Grossi, em entrevista à BBC. Mas, mesmo assim, ele enxerga que a situação continua perigosa.
Geralmente, o funcionamento normal da usina precisa ser garantido pelos funcionários e estes devem trabalhar sem pressão. “Agora, também é certo que uma força militar tomou o controle do perímetro da instalação, e também ocupa o interior [dela]”, observou. “Esta situação não poderia ser caracterizada como uma situação normal para o trabalho”.
Riscos de um acidente nuclear
Mesmo no cenário atual, Grossi não acredita que um conflito nuclear seja uma possibilidade concreta e, além disso, acidentes nucleares ocorridos no passado ajudaram a aumentar a segurança. “Hoje, Chernobyl tem vários reatores, e esses não têm combustível”, explicou. O reator 4 desta usina, que explodiu em 1986 e causou o maior desastre nuclear da história, passou por um grande trabalho de extração e tratamento de resíduos radioativos.
Além disso, ele destaca que os reatores são bastante resistentes. “Um reator pode aguentar até a queda de um avião, e o lado russo conhece bem todos esses reatores, porque são russos, com tecnologia russa”, destacou Grossi. Contudo, ele considera que um grande problema seria um ataque a alguma instalação de apoio ou segurança ligada a estes componentes, que possa afetar o funcionamento normal da instalação.
É a partir deste cenário que poderiam surgir condições propícias para um acidente nuclear. “[A Ucrânia] tem 15 reatores nucleares, tem instalações com Chernobyl, que é simbólica e icônica, e tem muitas instalações de segurança, de lixo radioativo. Então, existe um risco claro de acidente nuclear”, alertou o diplomata. Por isso, Grossi se ofereceu para visitar a Ucrânia e tentar negociar um acordo entre as partes envolvidas no conflito.
A ideia é que este acordo levante pontos-chave de segurança nuclear para, assim, evitar ataques às instalações. “Um acidente nuclear pode ocorrer a qualquer momento e, por isso, meus esforços estão orientados, neste momento, a chegar a um acordo o mais rapidamente possível”, ressaltou, em entrevista à BBC.
Fonte: BBC