Sinal de cirurgia cerebral feita há 4.000 anos é visto em esqueleto em Israel
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Arqueólogos encontraram as mais antigas evidências de cirurgia cerebral do mundo em Megido, antiga cidade localizada na atual Israel, realizada há 4.000 anos. Os procedimentos teriam sido feitos em 2 irmãos da elite da época, aparentemente para tratar doenças que deixavam seus ossos porosos — possivelmente, eles sofriam de hanseníase.
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A época dos achados é conhecida como Idade do Bronze, quando populações humanas ocupavam a região do Levante. Megido, a cidade onde a cirurgia cerebral — uma trepanação — teria sido feita, era um ponto estratégico em uma rota de comércio, sendo uma das localidades mais ricas do Oriente Próximo. Enterrados com bens opulentos em uma área residencial próxima a um palácio, a localização dos irmãos em morte indicam ter sido nobres, quem sabe até mesmo realeza.
Tratamento das elites
O status social dos indivíduos é irônico, já que só podemos ver os sinais de doença avançada em seus ossos por terem tido condições de sobreviver por muitos anos em uma época em que a expectativa de vida eram bem baixa. Pessoas de classes mais pobres geralmente morriam antes que as doenças contraídas pudessem deixar suas marcas nos ossos, devido à falta de acesso a tratamentos de ponta. Tratados por cirurgiões que poucos podiam pagar, os sujeitos trepanados conviveram com suas condições por um bom tempo.
Além do tratamento privilegiado, a elite da época podia se dar ao luxo de não trabalhar muito, comer dietas especiais e receber cuidados pessoais que ajudavam a sobreviver enquanto carregavam patogenias terríveis. Mesmo com tudo isso, os irmãos não viveram muito — um deles morreu entre o final da adolescência e início da 2ª década de vida, e o outro veio a óbito entre 21 e 46 anos de idade.
Os esqueletos de ambos apresentam ossos com extrema porosidade, lesões e sinais de inflamação nas membranas que cobriam os ossos, sugerindo hanseníase, popularmente chamada de lepra. Ela é difícil de se identificar, já que afeta os ossos em diferentes estágios, com ordenação e severidade diferente para cada pessoa. Por isso, não podemos cravar que essa foi a condição que afetou os familiares, podendo ser outra doença infecciosa.
A trepanação teria sido uma medida desesperada para tentar melhorar a saúde dos pacientes. O método milenar era utilizado para diminuir a pressão do cérebro após traumas na cabeça, sendo menos usado para outras condições, como epilepsia, inflamação óssea e escorbuto, por exemplo. No caso de Megido, o resultado não foi dos melhores, já que a falta de regeneração óssea indica que o paciente teria morrido quase instantaneamente após o procedimento.
Não há, até hoje, um exemplo arqueológico de trepanação sendo utilizada em um paciente com tantas lesões. Embora os cientistas não saibam exatamente o que teria levado os indivíduos a procurarem o tratamento na Idade do Bronze, eles afirmam que é preciso estar em uma situação bastante grave para se submeter a ter um furo feito no crânio.
Fonte: PLOS One