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Sinal de cirurgia cerebral feita há 4.000 anos é visto em esqueleto em Israel

Por| Editado por Luciana Zaramela | 23 de Fevereiro de 2023 às 08h30

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Kalisher et al./PLOS One
Kalisher et al./PLOS One

Arqueólogos encontraram as mais antigas evidências de cirurgia cerebral do mundo em Megido, antiga cidade localizada na atual Israel, realizada há 4.000 anos. Os procedimentos teriam sido feitos em 2 irmãos da elite da época, aparentemente para tratar doenças que deixavam seus ossos porosos — possivelmente, eles sofriam de hanseníase.

A época dos achados é conhecida como Idade do Bronze, quando populações humanas ocupavam a região do Levante. Megido, a cidade onde a cirurgia cerebral — uma trepanação — teria sido feita, era um ponto estratégico em uma rota de comércio, sendo uma das localidades mais ricas do Oriente Próximo. Enterrados com bens opulentos em uma área residencial próxima a um palácio, a localização dos irmãos em morte indicam ter sido nobres, quem sabe até mesmo realeza.

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Tratamento das elites

O status social dos indivíduos é irônico, já que só podemos ver os sinais de doença avançada em seus ossos por terem tido condições de sobreviver por muitos anos em uma época em que a expectativa de vida eram bem baixa. Pessoas de classes mais pobres geralmente morriam antes que as doenças contraídas pudessem deixar suas marcas nos ossos, devido à falta de acesso a tratamentos de ponta. Tratados por cirurgiões que poucos podiam pagar, os sujeitos trepanados conviveram com suas condições por um bom tempo.

Além do tratamento privilegiado, a elite da época podia se dar ao luxo de não trabalhar muito, comer dietas especiais e receber cuidados pessoais que ajudavam a sobreviver enquanto carregavam patogenias terríveis. Mesmo com tudo isso, os irmãos não viveram muito — um deles morreu entre o final da adolescência e início da 2ª década de vida, e o outro veio a óbito entre 21 e 46 anos de idade.

Os esqueletos de ambos apresentam ossos com extrema porosidade, lesões e sinais de inflamação nas membranas que cobriam os ossos, sugerindo hanseníase, popularmente chamada de lepra. Ela é difícil de se identificar, já que afeta os ossos em diferentes estágios, com ordenação e severidade diferente para cada pessoa. Por isso, não podemos cravar que essa foi a condição que afetou os familiares, podendo ser outra doença infecciosa.

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A trepanação teria sido uma medida desesperada para tentar melhorar a saúde dos pacientes. O método milenar era utilizado para diminuir a pressão do cérebro após traumas na cabeça, sendo menos usado para outras condições, como epilepsia, inflamação óssea e escorbuto, por exemplo. No caso de Megido, o resultado não foi dos melhores, já que a falta de regeneração óssea indica que o paciente teria morrido quase instantaneamente após o procedimento.

Não há, até hoje, um exemplo arqueológico de trepanação sendo utilizada em um paciente com tantas lesões. Embora os cientistas não saibam exatamente o que teria levado os indivíduos a procurarem o tratamento na Idade do Bronze, eles afirmam que é preciso estar em uma situação bastante grave para se submeter a ter um furo feito no crânio.

Fonte: PLOS One