Primeiras células surgiram graças à chuva, sugere estudo
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela | •

Cientistas descobriram que o ingrediente secreto para a origem da vida pode ser um fenômeno bastante comum nos dias atuais — a chuva. A água que cai do céu provavelmente ajudou as células de bilhões de anos atrás, muito mais simples do que as células cheias de DNA e RNA do mundo atual, a se manterem unidas e funcionais.
As protocélulas, ou células ancestrais, provavelmente continham apenas RNA, uma versão de sequência (ou fita) única do DNA, capaz de carregar informações genéticas em suas “letras” moleculares. Uma das capacidades do RNA é a de se dobrar e gerar formatos intrincados, virando uma espécie de ferramenta de corte ou união de moléculas.
As protocélulas podem ter se reproduzido se suas moléculas de RNA pegassem os blocos genéticos para fazer cópias de si mesmos, mas os cientistas não sabem ao certo que tipo de “embalagem” mantinha seus elementos unidos. É aí que a chuva entra.
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Como eram as células do passado
Enquanto células modernas são envoltas em membranas, que controlam a passagem de moléculas para dentro e fora, esse elemento essencial poderia ter sido um problema para as protocélulas, impedindo-as de permitir a entrada das moléculas necessárias para crescer ou jogar fora seus restos.
Uma das possibilidades é a das protocélulas não terem possuído membrana, ficando à deriva em gotas de substâncias químicas ou mesmo água.
Em alguns experimentos, balançar as gotas já era o suficiente para dividir o RNA, “reproduzindo” as células. O problema é que, ao contrário das células, as gotas de RNA tendiam a se juntar, como gotas de óleo formando uma película no topo de um copo de água.
Em 2018, no entanto, o engenheiro químico Aman Agrawal descobriu, sem querer, uma solução. Ele estudava, na Universidade de Houston, uma maneira de sintetizar substâncias químicas em gotas d’água.
Para isso, ele replicou um estudo de 2015 que tornava as gotas mais estáveis, mas não entendeu como os canais microscópicos de água purificada realizavam a proeza.
Quatro meses depois do experimento, ele notou que um dos frascos esquecidos no laboratório ainda tinha gotas, com uma espécie de malha, indicando que a água as teria estabilizado.
Junto a uma equipe, Agrawal juntou substâncias químicas, RNA e água purificada e teve sucesso, com a estabilidade das gotas durando dias.
Especulou-se, então, que a chuva da Terra primitiva pode ter providenciado a água necessária para fazer as gotas de RNA, que, quando balançadas, se replicavam, imitando o futuro das células.
A chuva do passado teria sido diferente, bem ácida, com altos níveis de dióxido de carbono, então os pesquisadores repetiram o experimento com vinagre, também obtendo sucesso.
É mais uma peça do quebra- cabeça da origem da vida se juntando à enciclopédia da ciência, embora ainda estejamos longe de resolver o cenário inteiro.
Fonte: Science Advances, Angewandte Chemie