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Por que tantas estátuas gregas e romanas não têm nariz?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 21 de Maio de 2024 às 13h44

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Daniel X. O'Neil/CC-BY-2.0
Daniel X. O'Neil/CC-BY-2.0

Se você já visitou um museu com estátuas gregas e romanas, especialmente da antiguidade, deve ter notado uma ausência generalizada de membros e extremidades — principalmente narizes, dedos e braços. Embora alguns possam ter sido arrancados acidentalmente, afinal, a gravidade e as esbarradas afetam a todos, nem todos o foram. Mas por que, afinal, alguém arrancaria o nariz de uma estátua?

Estudiosos como Spencer McDaniel, da Universidade Brandeis, afirmam que o dano do tempo e da exposição aos elementos têm muita responsabilidade nessa destruição, mas costumam deixar pernas e torsos mais completos, já que são partes mais “fixas” das esculturas. Quando uma estátua cai, membros costumeiramente quebram, e, quando a queda é “de cara”, o nariz é a primeira vítima.

Profanando narizes antigos

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No mundo antigo, mirar no nariz de esculturas era uma prática simbólica e ritualística. Para os egípcios, por exemplo, havia a crença de que estátuas guardavam algum tipo de essência da entidade ali mostrada. Vandalizar o ícone, então, poderia desempoderar o deus ou autoridade em questão. Arrancar o nariz seria o bastante para “matar”, já que tiraria a capacidade de respirar do indivíduo.

Indo para os gregos e romanos, no entanto, a coisa fica mais mórbida: da Grécia Helenística e Clássica aos impérios Persa, Romano e Bizantino, arrancar os narizes das pessoas era uma prática punitiva comum, de monarcas depostos a adúlteros. No Egito, havia uma vila chamada Rhinokoloura, que significa “cidade dos narizes mutilados”, para onde eram banidos criminosos que passaram pela punição. 

Isso era tão comum que chegava a aparecer nas lendas desses povos — Hércules, o famoso semideus dos 12 trabalhos, tinha o apelido de “cortador de narizes”, já que gostava da prática. Na Odisseia, um dos pretendentes de Penélope, esposa e quase viúva do protagonista Ulisses, é retirado do palácio e mutilado, primeiro no nariz e orelhas, e depois em outras extremidades.

Não foi preciso um pulo lógico muito grande, então, para aplicar a punição em estátuas de sujeitos desafetos, mesmo que de maneira simbólica. Atualmente, qualquer galeria de arte grega e romana possui mais cabeças sem corpo e corpos sem cabeça ou outros membros do que itens inteiros.

Às vezes, isso é resultado da simples separação, por comerciantes antigos, de um item em dois, para melhorar as chances de venda e de lucro, mas a dessacralização dos indivíduos representados continua sendo uma grande responsável. A quebra não é só no nariz, mas no passado que o sujeito mutilado representa.

No mundo atual, a prática do vandalismo de estátuas inclusive continua — na Martinica, em 2020, um protesto derrubou a escultura de Victor Schoelcher, abolicionista do século XIX que decretou o pagamento de indenizações a senhores de escravos pela libertação de escravizados. Nos Estados Unidos, uma estátua de Cristóvão Colombo foi decapitada, outra prática simbólica comum.

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No Brasil, nos últimos anos, estátuas dos bandeirantes e escravocratas Borba Gato e Raposo Tavares foram queimadas e desfiguradas por manifestantes. É uma forma de protesto ainda bastante simbólica e poderosa — e sem sinais de desaparecer da história tão cedo.

Fonte: Effaced from History?, Tales of Times Forgotten