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Egípcios inventaram o sistema moderno de 24 horas com base nas estrelas

Por| Editado por Luciana Zaramela | 10 de Julho de 2023 às 22h00

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Robert Cockcroft/McMaster University
Robert Cockcroft/McMaster University

No mundo atual, é essencial ter controle dos horários, tanto para trabalhar quanto para saber quando ir ao dentista ou não chegar atrasado para um primeiro encontro. Embora a divisão do dia em horas tenha sido inventada pelos seres humanos, isso foi feito antes da primeira palavra escrita ser produzida — como, então, saber quem faz isso e, principalmente, quando? O primeiro registro escrito, pelo menos, conseguimos identificar, e ele está no Antigo Egito.

Algumas unidades de medida de tempo são mais óbvias, já que derivam de eventos astronômicos cuja observação e padronização é simples, sendo comuns a muitas culturas por todo o mundo. Medir um dia ou um ano, por exemplo, tem como base o movimento do sol em relação à Terra, enquanto a medição dos meses está relacionada às fases da lua.

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Já outras medidas são mais complexas de se entender a lógica, como a das semanas e das horas. Com estudos recentes dos textos hieróglifos egípcios, uma das tradições escritas mais antigas, cientistas estão desvendando as origens das horas do dia como as conhecemos, que agora sabemos ter se originado no Norte da África e Oriente Médio, se espalhando pela Europa antes de chegar ao restante do mundo durante os últimos séculos.

Antigo Egito e o tempo

Os mais antigos registros escritos do Egito estão nos chamados Textos das Pirâmides, feitos antes de 2.400 a.C. e contendo um teor majoritariamente religioso. Neles, há a palavra “wnwt” (cuja pronúncia seria mais ou menos como “uenãt”), escrita com o hieróglifo que representa uma estrela. Com isso, pesquisadores concluíram que a palavra está associada com a noite. Para entender a palavra e como ela chegou à tradução atual como “hora”, é preciso ir um pouco à frente no tempo.

Arqueólogos encontraram, na cidade de Asyut, caixões retangulares de madeira de cerca de 2.000 a.C. cujas tampas são, em alguns casos, decoradas com uma tabela astronômica na parte de dentro. Essa tabela traz colunas representando períodos de 10 dias ao longo do ano.

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O Calendário Civil Egípcio da época tinha 12 meses, com cada um trazendo “semanas” de 10 dias seguidos de 5 dias de festival — em cada coluna, há 12 nomes de estrelas listados, fazendo 12 linhas. Como mapas estelares atuais, toda a tabela registra as mudanças do céu ao longo de um ano inteiro.

Essas 12 estrelas representam a primeira divisão sistemática da noite em 12 períodos de tempo, cada um regido por um astro. Ainda não se via, no entanto, a associação da palavra wnwt em associação com as tabelas. Já no Império Novo egípcio, em cerca de 1210 a.C., podemos ver uma ligação explícita entre o número de linhas e a palavra.

Isso é bem claro no templo de Osireion em Abidos, um local cheio de informações astronômicas — além de conter a única tabela estelar de 12 linhas marcadas com a palavra wnwt, ele traz instruções de como fazer um relógio solar e descreve os movimentos das estrelas.

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Horas longas e estrelas

À época do Império Novo, já havia 12 wnwt noturnas e 12 wnwt diurnas, claramente sendo medidas de tempo. É quase igual às horas atuais, mas com duas diferenças — primeiramente, essas horas eram sempre representadas separadamente, nunca em um dia de 24 horas.

O dia era medido com base na sombra gerada pela luz do sol, enquanto as horas da noite eram baseadas nas estrelas. Isso só podia ser feito, é claro, quando os astros estivessem visíveis, e havia dois períodos no nascer do sol e no pôr do sol onde não havia hora alguma.

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Em segundo lugar, as horas wnwt do Império Novo não tem a mesma duração das atuais — os relógios solares e de água demonstram muito claramente que as wnwt variavam em duração ao longo do ano, com longas horas noturnas durante o solstício de inverno e longas horas diurnas durante o solstício de verão. Mas porque 12 horas, especificamente?

É bem claro que a escolha de 12 horas originou as horas atuais, mas não parece tão óbvia a razão dessa escolha nos períodos de 10 dias. As tabelas estelares dos caixões dão pistas acerca dessa escolha. Os egípcios antigos se baseavam na estrela Sirius, especialmente brilhante, para contar as horas, e selecionavam outros astros baseados na semelhança de sua trajetória com a de Sirius, mesmo que não fossem tão brilhantes.

O texto sobre as estrelas de Osireion fala sobre datas e mostra que, a cada 10 dias, uma estrela semelhante a Sirius desaparecia e outra aparecia, ocorrendo durante todo o ano. Dependendo da época, de 10 a 14 estrelas destas ficavam visíveis à noite. Caso se tome nota das estrelas em intervalos de 10 dias, uma tabela muito parecida com a dos caixões surge.

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Em cerca de 2.000 a.C., a tabela já havia ficado mais esquematizada do que precisa (ao menos do ponto de vista moderno), com a infame tabela de 12 linhas surgindo e sendo gravada nos túmulos. É possível, no fim das contas, que a escolha do número 12 para contar as horas noturnas e, eventualmente, as 24 horas do dia tenha vindo da escolha de 10 dias para separar a semana. A maneira moderna de contar as horas parece ter surgido há 4.000 anos, sendo fruto de uma série de decisões astronômicas egípcias.

Fonte: The Ancient Egyptian Pyramid TextsMcMaster Univesity/The Conversation