Planta fossilizada ancestral do café sobreviveu aos dinossauros
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Um biólogo evolucionário e professor de ecologia da Universidade do Kansas identificou o mais antigo fóssil de angiosperma do mundo. Trata-se de uma planta capaz de gerar flores e frutos que data de 80 milhões de anos atrás. O espécime fossilizado é ancestral das lamiídeas, que atualmente comportam quase 40.000 espécies de plantas — incluindo algumas essenciais para nós, como café, tomate, hortelã e batata.
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A espécie, cuja descrição foi publicada no periódico científico Nature Plants, foi nomeada Palaeophytocrene chicoensis, já que foi encontrada na Formação Chico, no estado americano da Califórnia. Ela faz parte de um grupo chamado liana, do qual são parentes os cipós e trepadeiras, também se enrolando em árvores para chegar à luz solar. Esse grupo adiciona uma complexidade estrutural grande às florestas úmidas, e agora sabemos ser muito mais antigo do que se pensava, remontando ao período Cretáceo.
Evolução das florestas e suas evidências
O fóssil representa um período importante da história da vida na Terra. Quando surgiu, as florestas transicionaram da dominação de gimnospermas, como as árvores coníferas, para as angiospermas, plantas com frutos e flores. Já era sabido que isso teria ocorrido no final do Cretáceo, mas não havia evidências críticas desse acontecimento, provas que detalhassem a formação de ecossistemas como as florestas úmidas, que atualmente abrigam mais da metade de todas as espécies de planta do mundo.
O P. chicoensis, na verdade, foi desenterrado nos anos 1990 por uma equipe de construtores em Sacramento, local ligado ao período geológico Campaniano, a quinta das seis eras do Cretáceo Superior. Recolhido por paleontólogos, o fóssil foi levado ao Museu de História Natural da faculdade comunitária local Sierra College, com sua importância passando batida por todo esse tempo.
Foi então que Brian Atkinson, que passou sete anos buscando por lamiídeas do Cretáceo na costa oeste dos Estados Unidos, recebeu a dica de visitar o museu da faculdade. Impressionado com a diversidade de plantas coletadas na obra, o biólogo evolucionário finalmente se deparou com o P. chicoensis, notando padrões incríveis na superfície do artefato.
Ele logo associou os padrões à família de lamiídeas chamada Icacinaceae, mais conhecida pelos seus espécimes mais novos, surgidos depois do impacto que extinguiu os dinossauros no final do Cretáceo. Não havia registros da espécie de antes da queda do asteroide. Com um microscópio ótico, ele estudou os tubérculos, fissuras e demais características da planta, podendo então comparar tudo isso com outros fósseis e descobrir onde a espécie ficaria, genealogicamente falando. O pesquisador nunca havia visto um fóssil comprimido desse tipo.
O achado desse ancestral de muito da flora atual é importante por mostrar à ciência que um dos grupos mais diversos de angiospermas conseguiu sobreviver ao cataclismo que exterminou os grandes dinossauros do planeta, evoluindo até se tornar grande partes das plantações vitais à sobrevivência humana nos tempos modernos.
Entender a gênese das plantas pode nos ajudar a descobrir o seu futuro, especialmente frente às mudanças climáticas que enfrentamos atualmente.
Fonte: Nature Plants