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Cientistas sequenciam genoma de planta mais antigo do mundo a partir de sementes

Por| Editado por Luciana Zaramela | 02 de Setembro de 2022 às 16h52

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Steve Evans/CC-BY-2.0
Steve Evans/CC-BY-2.0

Cientistas sequenciaram o genoma de planta mais antigo já estudado pelo ser humano: ele vem de sementes de melancia do Neolítico, mais precisamente de um sítio arqueológico do Deserto do Saara, na Líbia, e tem cerca de 6 mil anos. Em colaboração com o Herbário de Kew do Jardim Botânico Real britânico e outros parceiros, foram realizadas comparações genéticas e estudos para entender as origens da melancia moderna e sua domesticação.

Segundo os achados da pequisa, os líbios do neolítico se alimentavam das sementes da ancestral das melancias, uma iguaria ainda consumida nos dias de hoje, mas evitavam a polpa, que tinha um sabor muito azedo. A literatura científica considera que a melancia (Citrullus lanatus) tem origem no Vale do Nilo, no atual Sudão, após a domesticação de um "parente" próximo, a subespécie cordophanus.

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Origens da melancia e o genoma mais antigo

No início dos anos 1990, o que se acreditava serem sementes da fruta foram encontradas no sítio Neolítico de Uan Muhuggiag, na Líbia, intrigando os cientistas. Para entender melhor o caso, foram analisadas dezenas de sementes de melancias e de espécies relacionadas coletadas do Herbário de Kew, além de fósseis de sementes da Líbia e do Sudão, datadas por radiocarbono a 3.000 e 6.000 anos atrás, respectivamente.

Incapazes de resolver o mistério com morfologia, os cientistas se voltaram para o genoma das plantas. Encontrando longas sequências em todos os cromossomos, foi descrito o genoma mais antigo de uma planta já datada por radiocarbono da história. Assim, foi possível indicar que os líbios do neolítico coletavam ou até mesmo cultivavam espécies azedas de melancia, ao contrário das doces atuais.

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Antes da análise genômica, não era possível distinguir entre as espécies da Líbia e de outros espécimes do gênero Citrullus. Agora, sabemos que as antigas sementes descendem de uma parente da melancia conhecida como Egusi (Citrullus mucosospermus), uma cucurbitácea da família das abóboras, vinda do oeste africano, muito azedas e não comestíveis enquanto cruas devido à cucurbitacina da polpa — elas também são colhidas por conta de suas sementes, usadas em sopas.

A descoberta surpreendeu os cientistas, já que as sementes sudanesas — vindas do período faraônico — tinham DNA tanto da Egusi quanto das melancias doces. Isso sugere que, no Vale do Nilo, em períodos posteriores, uma mistura de variedades de Citrullus foi cultivada para aproveitar suas sementes, de maneira paralela às melancias doces.

Segundo os cientistas, é provável que as sementes de Egusi foram hibridizadas e trocaram genes com as melancias doces há milhares de anos, mas não sabemos que direção os genes tomaram. O caráter multidisciplinar da pesquisa foi enfatizado, e, conforme os pesquisadores, mostra o que milhares de anos de história cultural e evolucionária podem fazer pela ciência. Um estudo sobre o achado foi publicado na revista científica Molecular Biology and Evolution.

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Entre os benefícios práticos que podemos colher da pesquisa, estão possíveis programas de melhoramento genético para plantações de melancias doces, já que agora entendemos melhor sua genética e podemos procurar por genes que as façam resistentes a secas, doenças e pestes. É o poder que o sequenciamento de genomas milenares pode nos dar.

Fonte: Molecular Biology and Evolution