Fortaleza mais antiga do mundo é achada na Sibéria, com 8000 anos
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Em um ponto de virada importante para a arqueologia, uma equipe de pesquisadores descobriu fortalezas construídas há 8.000 anos, na Sibéria, desafiando noções de que os humanos primitivos só viram necessidade de levantar construções complexas com o advento da agricultura. Com o achado, fica claro que caçadores-coletores já fortificavam suas moradias durante a Idade da Pedra, reformulando o que se pensava ser uma linearidade na história evolucionária humana.
- Nativos americanos da antiguidade eram exímios engenheiros
- Mulheres pré-históricas também caçavam, tal como os homens
Um estudo sobre o caso, que estuda o forte do promontório de Amnya, na Sibéria, foi publicado no periódico científico Antiquity neste mês de dezembro, e envolveu cientistas da Universidade Livre de Berlim e arqueólogos de Yekaterimburgo, na Rússia. O assentamento fortificado de Amnya é considerado o forte mais ao norte de toda a Idade da Pedra na Eurásia, e tem sido alvo de trabalhos de campo desde 2019.
Datando o forte como mais antigo
Para fazer a descoberta, os pesquisadores coletaram amostras da antiga fortaleza para fazer datação por radiocarbono, além de análises paleobotânicas (ou seja, das antigas plantas locais) e estratigráficas (das camadas geológicas que se empilham ao longo do tempo). Segundo os achados, os humanos pré-históricos do oeste da Sibéria tinham um estilo de vida sofisticado, garantido pelos recursos abundantes da taiga russa.
Os humanos primitivos pescavam os peixes do rio Amnya e caçavam alces e renas com lanças de ponta de pedra e osso. Para preservar os excedentes de carne e óleo, potes de cerâmica decorada especialmente elaborados eram produzidos. Suas moradias eram cabanas escavadas cercadas por muros de terra e paliçadas de madeira, demonstrando arquitetura avançada e altas capacidades defensivas.
Anteriormente, se acreditava que os assentamentos permanentes construídos com defesas elaboradas só haviam aparecido na evolução humana a partir das sociedades agriculturais. Agora, sabemos que a criação animal e a agricultura não foram pré-requisitos para a complexidade social, já que caçadores-coletores já construíam fortes — em Amnya, cerca de 10 sítios fortificados já foram encontrados, todos datados da Idade da Pedra.
Junto a achados no sítio megalítico de Göbekli Tepe, na atual Turquia, as conclusões tomadas a partir de Amnya desafiam as noções evolucionistas de que o desenvolvimento das sociedades foi algo linear, indo do simples ao complexo — diversas ruas sem saída foram tomadas, e diferentes níveis de complexidade social foram atingidos em momentos diferentes da história humana.
A influência do ambiente é muito clara, mostrando que a abundância de recursos, especialmente de uma fonte de água, foi chave para o assentamento permanente. Acredita-se que o estabelecimento de fortalezas ajudou a explorar e dominar a região pesqueira do rio Amnya, mostrando que as sociedades caçadoras-coletoras não estavam isentas de entrar em conflito, como se pensava anteriormente.
Fonte: Antiquity