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Carta criptografada de 500 anos, com segredos de estado de Carlos V, é decifrada

Por| Editado por Luciana Zaramela | 07 de Dezembro de 2022 às 16h30

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Biblioteca Stanislas/Nancy
Biblioteca Stanislas/Nancy

Cientistas conseguiram decifrar uma carta de 5 séculos que estava, até então, sem solução. E a fofoca é boa: o escrito era de Carlos V, rei da Espanha e Imperador do Sacro Império Romano Germânico, que detalhou comunicações diplomáticas e relatou uma trama de assassinato contra si a um de seus embaixadores na frança, Jean de Saint-Mauris em 1547.

Temendo pela vida, já que disputava poder político com o rei francês Francisco I, Carlos resolveu cifrar o documento, escrito em 22 de fevereiro daquele ano, inserindo símbolos irreconhecíveis entre parágrafos de escrita normal. A cópia física da carta está, atualmente, guardada na Biblioteca Stanislas em Nancy, no leste da França, onde ficou intocada por séculos a fio.

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Cortes, intrigas e conspirações

Rei da Espanha entre 1516 e 1556 e Sacro Imperador Romano-Germânico de 1519 a 1556, o monarca reinou por um dos maiores territórios imperiais do ocidente, abarcando as modernas Espanha, Bélgica, Áustria, Alemanha, Países Baixos e porções da Itália, além de supervisionar a invasão e colonização espanhola das Américas.

A carta de 1547 foi redescoberta por funcionários da biblioteca em 2019, quando criptógrafos e cientistas da computação tentaram decifrar suas seções enigmáticas. Só em 2022, após mais de 6 meses de pesquisa, foi possível quebrar o código, revelando o conteúdo inacessível por 500 anos.

Uma das dificuldades notáveis da criptografia de Carlos reside no fato de que cada letra cifrada representa uma palavra inteira, e não uma equivalência alfabética simples. Além disso, alguns dos símbolos não tinham significado, servindo apenas para confundir um leitor, mesmo que tivesse posse do código para decifrar o conteúdo.

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Inicialmente, um programa simples de computador foi programado para tentar diferenciar os símbolos e entender a estrutura de escrita, mas sem sucesso. Um algoritmo mais avançado utilizou padrões nos símbolos para dar significados possíveis e identificar letras de despiste. Algumas das passagens foram reveladas dessa maneira, mas não todo o documento.

A sorte da equipe surgiu quando parte do código para descriptografar a mensagem foi encontrada em uma outra carta, desta vez escrita pelo destinatário do imperador, Jean de Saint-Mauris. Conseguindo transcrever a carta, foi possível ver todo o seu conteúdo: nela, Carlos V relatava a frágil paz entre seu reino e a França, cujas tensões vinham da Guerra da Itália, de 1494 a 1495, antes de qualquer envolvido ser monarca.

No conflito, a Espanha havia ocupado o Piemonte, região italiana na fronteira francesa. Dali, o acesso a uma invasão da França seria fácil por parte da Espanha. O monarca inglês Henrique VIII havia acabado de morrer: ele era um aliado importante de Carlos, o que lhe gerou preocupação. Uma desestabilização francesa com o evento poderia levar a atos irracionais, o que o levou a buscar a paz ativamente.

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Tentativa de assassinato

Na carta, o espanhol relatava um rumor de que alguém desconhecido na política francesa pedia a Francisco I que Carlos fosse assassinado, então pedindo a Saint-Mauris que investigasse o caso. É a única menção a essa trama que os historiadores conhecem, então há chances de que fosse apenas um falso rumor — ou que Saint-Mauris tenha sido extremamente eficiente em afogar o caso.

A Liga de Schmalkalden também surgiu na epístola: ela era formada por um grupo de opositores de Carlos V liderado por príncipes luteranos germânicos que eram contra as ordens impostas pelo Sacro Império Romano-Germânico, que era católico. Quando a carta foi escrita, o monarca já havia iniciado uma operação militar para desmantelar a liga.

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No final das contas, 1547 acabou sendo um bom ano para o espanhol: Francisco I veio a falecer nos meses seguintes e a Liga de Schmalkalden teve seu fim, beneficiando o poder de Carlos. Com a criptografia da carta em mãos, os pesquisadores possivelmente conseguirão revelar o conteúdo de mais escritos do monarca, dando uma visão rara e privilegiada do cenário europeu da época.

Fonte: Nancy