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Cadernos roubados de Charles Darwin retornam após 22 anos

Por| Editado por Luciana Zaramela | 07 de Abril de 2022 às 11h21

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Stuart Roberts/Cambridge University Library
Stuart Roberts/Cambridge University Library

Imagine a alegria que você sente quando encontra aquele dinheiro que esqueceu estar no bolso do casaco guardado faz meses. Agora, pense que o dinheiro ficou sumido por 22 anos — e que ele é, na verdade, dois cadernos de anotação do naturalista Charles Darwin, roubados no ano 2000. A felicidade desse reencontro é de Jessica Gardner, bibliotecária da Universidade de Cambridge, lar dos itens, e que os recebeu de forma misteriosa no dia 9 de março.

Os blocos haviam sido retirados do cofre das coleções especias do Arquivo de Darwin da biblioteca para serem fotografados, em novembro de 2000. Verificações de rotina, dois meses depois, notaram a ausência deles no local correto — o que, inicialmente, foi tomado como um erro de devolução, e pensou-se que os cadernos poderiam estar em algum lugar entre os 10 milhões de livros, mapas e outros manuscritos da biblioteca. Em 2020, uma busca meticulosa confirmou que eles realmente não estavam na biblioteca.

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Reaparição dos cadernos

Gardner, que chegou a temer não ver mais os manuscritos em vida, é a contente bibliotecária que reviu os itens pela primeira em décadas. O pacote contendo as anotações, uma sacola de presente rosa-choque com a caixa original azul dos itens, foi deixado na frente de seu escritório, na parte pública e sem câmeras da biblioteca. No envelope pardo simples guardando a caixa, estava escrito: "Bibliotecária, Feliz Páscoa. Beijo". Em seu interior, os cadernos estavam embrulhados em plástico filme.

O estado de conservação é notável: há sinais de pouco manuseio, os itens estão secos e bem cuidados. Seja quem for o ladrão, sabia o que estava fazendo: todas as páginas estão onde deveriam estar, e os especialistas que examinaram os cadernos atestam a autenticidade. Diferentes tintas utilizadas por Darwin, pedaços de cobre nas dobras e o tipo de papel batem com o que se esperava. Ao encontrar a bolsa, Gardner teve de aguentar por 5 dias até a polícia autorizar a retirada do plástico filme para confirmar a natureza genuína do conteúdo.

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Importância dos itens

Os blocos de anotação fazem parte da coleção "Cadernos da Transmutação", onde Darwin anotava suas ideias sobre a mudança — ou transmutação — dos animais. Os itens roubados eram os cadernos "B" e "C", segundo e terceiro da série, respectivamente. Eles foram escritos em 1837, quando o naturalista tinha 28 anos de idade, logo após o retorno da viagem de cinco anos a bordo do navio HMS Beagle. Foi nessa jornada que ele visitou, entre outros lugares, o Brasil e as Ilhas Galápagos, e vislumbrou animais que o intrigaram e ajudaram a desenvolver a teoria da evolução pela seleção natural das espécies.

O caderno "B", inclusive, contém um esboço da árvore da vida, uma representação de como seria a ancestralidade animal, com seu comentário acima: "I think" (eu acho). O livro onde se delineiam essas ideias, desenvolvidas mais plenamente, é A Origem das Espécies, publicado mais de 20 anos depois da anotação nos cadernos em questão. A hipótese de Darwin é uma das mais importantes de toda a ciência, especialmente as naturais e ambientais. O registro histórico presente nos itens é inestimável.

Agora, a polícia avalia as câmeras de segurança do local, tentando encontrar uma pista sobre o ladrão dos itens em questão. Apesar do local onde a sacola foi deixada não ter sido filmado, a frente e os fundos da biblioteca são filmados, bem como salas de leitura especializadas e cofres internos. A polícia de Cambridgeshire pede que qualquer pessoa com informações os informe o mais rápido possível.

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Os blocos, agora em um cofre seguro na biblioteca, poderão ser vistos pelo público em julho, na exposição Darwin in Conversation, que será gratuita a todos os visitantes. Caso você esteja na curiosidade, não quer esperar ou não planeja ir a Cambridge, pode acessar cópias digitais dos cadernos "B" e "C" no site da universidade. Eles serão transferidos à Biblioteca Pública de Nova York em 2023.

Fonte: BBC