Naufrágio de 400 anos é encontrado na Alemanha: "uma cápsula do tempo"
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Arqueólogos marinhos encontraram os restos de um naufrágio onde um navio afundou "quase de pé" há 400 anos, no norte da Alemanha. A embarcação levava uma carga de cal para construção e era do período Hanseático, quando diversas cidades costeiras do formaram uma guilda de comércio nos mares Báltico e do Norte, entre os séculos XIII e XVII.
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Adicionando à surpresa do achado, a madeira costuma apodrecer e ser consumida com muita facilidade na região, e, por conta disso, poucos naufrágios da época foram encontrados até hoje. Teorias de especialistas dizem que o navio pode ter sido protegido por uma camada de lama carregada até o local pelo rio Trave, que vem da cidade de Lübeck, a 8 quilômetros terra adentro.
Achando o navio
O navio foi identificado pela primeira vez em 2020, durante uma inspeção de sonar rotineira por autoridades do canal navegável do rio Trave. Ele repousa a 11 metros de profundidade, na água majoritariamente salobra do parte mais externa do rio, entre Lübeck e o porto de Travemünde, onde as águas fluviais desaguam no Mar Báltico.
A embarcação, com comprimento estimado de 20 a 25 metros, é provavelmente uma galeota, um tipo de navio de carga com um só mastro, comum ao período hanseático. A camada de lama impediu que ela fosse comida por Teredo navalis, conhecido como teredo ou cupim-do-mar, um bivalve que se alimenta de madeira submersa com muita rapidez, principalmente nas águas quentes do oeste do Báltico. No leste, nas águas frias, ele é pouco comum.
Nos compartimentos de carga, foram encontrados cerca de 150 barris de cal quase intactos. A substância vem da queima do calcário e é um ingrediente importante da argamassa utilizada em construções. Ela provavelmente vinha da Escandinávia, como Suécia ou Dinamarca, já que não há muito calcário na Alemanha.
Para a datação do navio, calculada para 1680, houve pesquisa histórica: uma carta da época nos arquivos de Lübeck mostram que o oficial de justiça de Travemünde pediu que a carga de uma galeota naufragada no rio fosse recuperada, o que bate com a situação vista pelos cientistas. Além disso, a dendrocronologia — datação da madeira pelos padrões circulares de seu interior — mostrou que as árvores foram derrubadas nos anos 1650.
Teorias
A galeota provavelmente estava virando antes de entrar na cidade, quando bateu em um baixio, um banco de areia que ainda ameaça navios desavisados. Acredita-se que trabalhadores da época recuperaram parte da carga, fazendo com que o navio voltasse a flutuar, mas afundasse de vez por conta de vazamentos causados pelo impacto na areia.
O naufrágio foi fotografado por Christian Howe, mergulhador científico que mora em Kiel, região próxima, e há planos para remover os restos do banco do rio nos próximos anos, evitando que se mova e coloque navios modernos em perigo. O estado de conservação do navio é ótimo, e também seu posicionamento: os 70 barris em seu interior e cerca de 80 nos arredores provavelmente fizeram com que afundasse sem capotar, quase em pé.
Sedimentos no interior do navio serão estudados e devem trazer mais descobertas arqueológicas aos cientistas. Tirar a embarcação do local também permitirá uma investigação completa do casco e sua construção, talvez até mesmo revelando sua origem. Há esperança de que a popa (parte traseira), onde ficava a tripulação, contenha itens domésticos do século XVII ainda escondidos pelos sedimentos. O navio, segundo os pesquisadores, é uma cápsula do tempo, mostrando como era a vida a bordo naquele período.
Fonte: University of Kiel