Análise do dente de neandertal espanhol revela que a espécie era carnívora
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Cientistas analisaram restos de neandertais da Espanha e concluíram: a extinta espécie era carnívora. Inovador, o estudo é o primeiro a utilizar isótopos de zinco presentes em restos de dente para determinar a posição do Homo neanderthalensis na cadeia alimentar. A questão, no entanto, não é consensual na comunidade científica.
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Análises anteriores, que olharam para o tártaro dos dentes de neandertais da Península Ibérica, mostravam que eles seriam grandes consumidores de plantas. O problema é que sítios arqueológicos distantes da região ibérica sugerem que eles se alimentavam apenas de carne. Para a nova pesquisa, foram utilizadas técnicas inovadores no molar de um neandertal do sítio de Gabasa, em terras espanholas.
Como descobrimos a dieta neandertal
Para descobrir a posição de uma criatura na cadeia alimentar, são geralmente extraídas proteínas de seus restos mortais, as quais passam por análise do isótopo de nitrogênio do colágeno dentário. O problema é que a técnica só pode ser utilizada em ambientes temperados, raramente funcionando em amostras de mais de 50.000 anos. Era o caso do espécime espanhol.
Na impossibilidade de observar o colágeno, os pesquisadores se voltaram aos isótopos de zinco do esmalte dentário, um mineral resistente a todos os tipos de degradação ambiental. Quanto menos isótopos de zinco presentes nos ossos, maiores as chances do animal ter sido um carnívoro.
Como parte do estudo, foram analisados também os restos de ossadas de animais do mesmo período e área geográfica dos neandertais, inclusive de carnívoros — como linces e lobos — e herbívoros — como coelhos e camurças. Comparando os dados, demonstrou-se que os H. neanderthalensis de Gabasa teriam sido carnívoros, que consumiam a carne das presas, mas não o seu sangue.
Além disso, ossos quebrados do mesmo sítio arqueológico — em conjunto com dados isotópicos — mostraram que o neandertal estudado comeu o tutano dos ossos das presas, mas não consumiu seus ossos. Outros dados químicos puderam nos informar que os espécimes foram desmamados aos 2 anos de idade. É provável que o indivíduo estudado tenha morrido no mesmo local onde viveu quando criança.
Em comparação com técnicas mais antigas, a que envolve o zinco nos permite distinguir melhor entre onívoros e carnívoros. Como uma forma de confirmar as conclusões e fortalecer a convicção acerca da dieta da espécie extinta, os cientistas planejam repetir as análises em espécimes de outros sítios, em especial no de Payre, no sudeste da França, onde novas pesquisas já estão sendo feitas.
Fonte: PNAS