Por que os carros franceses são malvistos no Brasil?
Por Felipe Ribeiro • Editado por Jones Oliveira |
Um dos maiores memes da indústria automotiva brasileira se dá pela "fama" dos carros franceses. Modelos de marcas como Peugeot, Citroën e Renault (um pouco menos) carregam o estigma de serem carros de mecânica complicada, manutenção cara e pontos frágeis em suas construções. Há algumas verdades, mas muitos mitos e desinformação.
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Ao menos em todos os modelos avaliados pelo Canaltech, como o Peugeot 208, Renault Sandero R.S. e Citroën C4 Cactus, não há razão alguma para temer problemas crônicos e de manutenção. São veículos construídos com o que há de melhor na indústria automotiva e componentes presentes em marcas consagradas e respeitadas.
Mas o preconceito e a fama de problemáticos não são fruto do que acontece hoje.
Breve histórico
Os carros franceses começaram a aparecer por aqui com mais força com a abertura das exportações no Brasil, no início do governo de Fernando Collor, em 1990. Desde então, Citroën, Peugeot e Renault inundaram as ruas brasileiras com modelos consagrados e que marcaram época — pelo bem e pelo mal.
No caso da Renault, os carros escolhidos, em sua maioria, eram modelos acessíveis, oriundos da Dacia, seu braço de carros populares na Europa. Entretanto, modelos globais também desembarcaram por aqui, como o Megáne, Laguna e o mais famoso deles, o Clio, que vendeu relativamente bem até 2016, ano de sua aposentadoria em nosso mercado.
Já Peugeot e Citroën eram mais agressivas e apostavam em linhas mais ousadas, como os excelentes Peugeot 406 e Citroën XM, este último com a inovadora suspensão hidropneumática, que dava um conforto absurdo ao carro, mas que, ao mesmo tempo, deixava os donos de cabelo em pé caso quebrasse.
Nos casos da montadoras que depois se uniriam para formar o grupo PSA, esses veículos apresentavam engenharia mais avançada e, por vezes, desafiadora para os mecânicos brasileiros. Muitos chegavam a reclamar dos aparatos elétricos dos veículos, que necessitavam de mão-de-obra mais especializada.
Com isso, logo a fama de que os carros franceses ficavam parados nas oficinas começou a se espalhar. Muito mais por que não tínhamos como manter esses veículos saudáveis do que propriamente por seus problemas crônicos. Algo muito semelhante com o que aconteceu com o Fiat Marea, um automóvel notadamente ótimo, mas que sofreu com nosso "jeitinho".
Pós-venda foi o vilão
Até hoje os veículos franceses, sobretudo da Peugeot e da Citroën, seguem sendo destaque por seu estilo, tecnologia, conforto e acabamento, mas o que realmente melhorou nessas montadoras foi o serviço de pós-venda, marca registrada de empresas japonesas como Toyota a Honda.
A Renault, por sua vez, conseguiu sair na frente nessa retomada e há bons anos vende muito bem, além de ter uma confiabilidade maior sobre seus produtos. Não é difícil pegar um taxista ou motorista de Uber com um Sandero ou Logan, verdadeiros tanques de guerra urbanos.
No caso das marcas da PSA, a dificuldade em se conseguir peças para manutenção era o grande problema, mesmo que seus produtos já fossem fabricados por aqui. Mais um motivo para que os "carros franceses" ficassem parados. De nada adianta ter um carro lindo e bem equipado, mas o trabalho de mantê-lo ser descomunal.
Como melhorou?
O investimento da PSA em rede de concessionárias e componentes foi muito bom, sobretudo a partir de meados da década de 2010. A adoção de motores como o THP, de origem BMW, e do câmbio da japonesa Aisin, utilizado em carros como o Toyota Corolla, ajudaram a acabar com esse estigma.
Dirigir um Citroën C4 Cactus ou um Peugeot 2008 Skywalker foram experiências interessantes, isso sem falar no novo Peugeot 208, vencedor de vários prêmios na Europa por seu design e tecnologia.
Diante do atual cenário dessas marcas, hoje parte do Grupo Stellantis, formado por montadoras como Fiat e Jeep, a tendência é de que haja um crescimento substancial nas vendas e a eliminação de velhos estigmas.
Informe-se e comprove: pode confiar nos carros franceses. Eles são ótimos!