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Chernobyl | Ciência descobre por que javalis continuam radioativos

Por| Editado por Luciana Zaramela | 27 de Maio de 2024 às 12h35

Joachim Reddermann/Universidade de Viena
Joachim Reddermann/Universidade de Viena
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Se você acompanha as notícias sobre Chernobyl, deve se lembrar que os javalis da usina, na cidade ucraniana de Pripyat, protagonizaram um mistério de anos: por que, dentre todos os animais e plantas da região, só eles continuaram radioativos? Outras criaturas, como os cervos, diminuíram seu nível de radioatividade ao longo das décadas.

Uma união de cientistas das Universidades de Vienna e Leibniz conseguiu, em um estudo feito em 2023, resolver o enigma: os suínos não estavam sendo irradiados apenas pelo desastre nuclear de 1986, mas também pelos testes atômicos realizados na década de 1960, na então União Soviética.

Isótopos radioativos e javalis

O elemento essencial para a pesquisa foi a tecnologia. No famoso acidente de 1986 em Chernobyl, a explosão de um reator emitiu quantidades impressionantes de césio-137, um isótopo cuja meia-vida é de pouco mais de 30 anos. Com quase quatro décadas desde o incidente, espera-se que os níveis do isótopo radioativo tenham caído em, pelo menos, 50%.

Os javalis-europeus espalhados pelo continente ainda s mantém radioativos, o que sempre intrigou a ciência — até agora (Imagem: Tsungam/CC-BY-4.0)
Os javalis-europeus espalhados pelo continente ainda se mantém radioativos, o que sempre intrigou a ciência — até agora (Imagem: Tsungam/CC-BY-4.0)

A ciência ficou intrigada, portanto, quando a carne dos javalis manteve um nível constante de radioatividade, mesmo nos que se espalharam para outros países. Com investigação mais precisa dos javalis da Alemanha, então, descobriu-se que eles continham, na verdade, césio-135, cuja meia-vida é bem mais longa que a do elemento de número 137. A dificuldade de diferenciar os isótopos é o que manteve o mistério por tanto tempo.

Detectores de radiação comuns não conseguem notar a diferença, que só foi notada com tecnologia de espectrometria de massa. O esforço para essa identificação é muito maior para que seja possível distinguir os átomos, segundo Georg Steinhauser, especialista em radiação que comentou a pesquisa em um comunicado à imprensa.

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Embora a detecção tenha sido na Bavária, no sul alemão, os pesquisadores acreditam que os achados possam ser aplicados nos suínos de Chernobyl. Algo ainda misterioso fica no fato de que apenas os javalis seguem radiativos, e animais como os cervos não.

A teoria mais aceita é de que a dieta de trufas Elaphomyces, fungos presentes entre 20 cm e 40 cm de profundidade, banhe os animais com o césio específico, já que as partículas se infiltram no solo lentamente. As trufas estariam recebendo o césio-135 só agora, décadas depois dos testes nucleares.

Fonte: Environmental Science & Technology, Universidade de Viena